quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Novo Anti-Semitismo

Será o Dr. Goebbels rindo?


URI AVNERY (jornalista judeu israelense)


O Ministro da Propaganda Nazista, Dr. Joseph Goebbels, liga para o seu chefe, Adolf Hitler, do telefone do inferno.

“Meu Führer,” ele fala excitado. “Novidades no mundo. Parece que estamos no caminho certo. O Anti-Semitismo está conquistando a Europa!”

“Bom!” disse o Führer, “Será o fim dos Judeus!”

“Hmmm… bem… não exatamente, meu Führer. Parece que escolhemos os Semitas errados. Nossos herdeiros, os novos Nazistas, vão aniquilar os Árabes e todos os outros muçulmanos na Europa”. Então, com uma gargalhada, “Afinal de contas, existem muito mais Muçulmanos que Judeus para exterminar”.

“Mas, e os judeus?”, insiste Hitler.

“Você não vai acreditar: os novos Nazistas amam Israel, o Estado Judeu – e Israel os ama!”.

* * *

A atrocidade cometida pelo Norueguês neo-Nazista – isso seria um incidente isolado?

Extremistas de Direita, de toda a Europa e dos Estados Unidos, já estão declamando em uníssono: “Ele não pertence a nós! Ele é um indivíduo sozinho com uma cabeça desarranjada! Existem pessoas loucas em todos os lugares! Você não pode condenar um campo político inteiro pelos atos de uma única pessoa!”

Parece familiar. Onde foi que ouvimos isso antes?

Claro, depois do assassinato de Yitzhak Rabin.

Não há nenhuma conexão entre o massacre de Oslo e o assassinato em Tel Aviv. Ou há?

Durante os meses que antecederam o assassinato de Rabin, uma crescente campanha de ódio foi orquestrada contra ele. Quase todos os grupos Israelenses de direita estavam competindo entre eles para ver quem poderia endemoniá-lo melhor.

Em uma manifestação, uma foto-montagem de Rabin com o uniforme de um oficial da SS foi exposta. Na varanda, com vista para a manifestação, Binyamin Netanyahu pode ser visto aplaudindo com entusiasmo, enquanto um caixão marcado com “Rabin” desfilava. Grupos religiosos encenaram uma cerimônia medieval, cabalística, na qual Rabin era condenado à morte. Rabinos fizeram parte da campanha.

O assassinato foi, de fato, cometido por um único indivíduo, Yigal Amir, um ex-colono, estudante de uma universidade religiosa. Assume-se que, antes do fato, ele consultou um rabino. Como Anders Behring Breivik, o assassino de Oslo, ele planejou seu ato cuidadosamente, durante um longo período, e o executou a sangue frio. Ele não teve cúmplices.

* * *

OU teve? Não foram todos os incitadores os seus cúmplices? A responsabilidade não seria de todos os demagogos descarados, como Netanyahu, que esperavam a ascensão ao poder através da onda do ódio, medo e preconceito?

Seus cálculos foram confirmados. Menos de um ano depois do assassinato, Netanyahu, de fato, conseguiu o poder. Agora a direita está dominando Israel, se tornando mais radical a cada ano e, ultimamente, parece que a cada semana. Fascistas agora assumem papel de liderança no Knesset.

A última proposta dos nossos fascistas, extraída diretamente da boca de Avigdor Lieberman, é anular o feito heróico de Rabin: os acordos de Oslo. Então, voltamos para Oslo.

* * *

QUANDO eu ouvi as notícias sobre o atentado de Oslo, estava com medo de que os perpetradores fossem alguns Muçulmanos loucos. As repercussões poderiam ter sido terríveis.

De fato, em alguns minutos, um estúpido grupo Muçulmano se gabou como se tivessem feito este ato glorioso. Felizmente, o assassino em massa se rendeu na cena do crime.

Ele é o protótipo de um Nazista anti-Semita da nova onda. Sua crença consiste na supremacia branca, fundamentalismo Cristão, no ódio à democracia e no chauvinismo Europeu, misturado com um ódio virulento aos Muçulmanos.

Sua crença está, agora, espalhando ramificações por toda a Europa. Pequenos grupos radicais de ultra-direita estão se tornando partidos políticos dinâmicos, tomando seus assentos nos Parlamentos e, até mesmo, se tornando deuses aqui ou lá. Países que sempre pareceram ser modelos de sanidade política subitamente produzem agitadores do tipo mais nojento, ainda piores que o US Tea Party (um partido conservador norte-americano), outro filho deste novo Espírito da Época. Avigdor Lieberman é a nossa contribuição para essa ilustre liga mundial.

Outra coisa que quase todos esses Europeus e Americanos de ultra-direita tem em comum é a sua admiração por Israel. Nas 1500 páginas do seu manifesto político, no qual ele esteve trabalhando por um longo período, o assassino de Oslo dedicou uma seção inteira para isso. Ele propôs uma aliança entre a extrema direita Européia e Israelense. Para ele, Israel é um posto avançado da Civilização Ocidental na luta mortal contra o bárbaro Islã. (De alguma maneira faz lembrar a promessa de Theodor Herzl de que o futuro Estado Judeu seria um “posto avançado da cultura Ocidental contra a barbárie Asiática”).

Parte do filo-sionismo professado por esses grupos Islamofóbicos é, com certeza, fictício, designado para disfarçar seu caráter neo-Nazista. Se você ama Judeus, ou o Estado Judeu, você pode ser um fascista, correto? Pode apostar que você pode! De qualquer maneira, eu acredito que a maior parte dessa adoração à Israel é inteiramente sincera.

Israelenses de direita, que são cortejados por esses grupos, argumentam que não é culpa deles que todos esses traficantes do ódio sejam atraídos por eles. Face a isso, é verdade. No entanto, não podemos deixar de perguntar: por que eles se sentem tão atraídos? Onde essa atração se apresenta? Isso não garante um sério exame de consciência?

* * *

EU TOMEI conhecimento da gravidade da situação quando um amigo chamou minha atenção para alguns blogs Alemães anti-Islã.

Eu fiquei chocado com a quantidade. Essas emanações são quase cópias literais das diatribes de Joseph Goebbels. Os mesmos slogans demagogos. A mesma base das alegações. A mesma demonização. Com uma pequena diferença: ao invés de Judeus, desta vez são os Árabes que estão arruinando a Civilização Ocidental, seduzindo mulheres cristãs, conspirando para dominar o mundo. Os Protocolos dos Sábios da Meca.

Um dia depois dos acontecimentos de Oslo aconteceu de eu estar assistindo a rede de TV Aljazeera, em inglês, uma das melhores do mundo, e vi um programa interessante. Por uma hora o repórter entrevistou Italianos, que passavam nas ruas, perguntando sobre os muçulmanos. As respostas foram chocantes.

Mesquitas poderiam ser destruídas. Elas são locais onde os muçulmanos conspiram para cometerem crimes. Na verdade, eles não precisam mais das mesquitas – eles precisam, somente, de um tapete para rezar. Muçulmanos vieram para a Itália para destruírem a cultura Italiana. Eles são parasitas, espalham drogas, crime e doença. Eles deveriam ser expulsos desde o primeiro homem e mulher até a última criança.

Eu sempre achei os Italianos pessoas boas, amáveis. Mesmo durante o Holocausto, eles se comportaram melhor que muitos outros povos Europeus. Benito Mussolini se tornou um fanático anti-Semita somente durante os últimos eventos, quando se tornou completamente dependente de Hitler.

No entanto estamos aqui, apenas 66 anos depois de os partisans Italianos terem carregado o corpo de Mussolini pelos pés em um local público de Milão – e uma forma muito pior de anti-Semitismo está surgindo nas ruas da Itália, assim como em outros [ou “muitos”?] países Europeus.

* * *

CLARO, existe um problema real. Os muçulmanos não estão livres de culpa pela situação. Sua conduta faz deles alvos fáceis. Como os Judeus na sua época.

A Europa está em uma situação difícil. Eles precisam de “estrangeiros” – Muçulmanos e todos – para trabalhar para eles, manter sua economia fluindo, pagar pelas pensões das pessoas velhas. Se todos os Muçulmanos tiverem que deixar a Europa amanhã de manhã, as sociedades Alemã, Francesa, Italiana e muitas outras irão quebrar.

Agora muitos Europeus ficam consternados quando vêem esses “estrangeiros”, com suas línguas estranhas, maneiras e roupas lotando suas ruas, mudando o caráter de muitos bairros, abrindo lojas, casando com seus filhos, competindo com eles de várias maneiras. Isso machuca. Como um ministro Alemão disse uma vez: “Nós trouxemos trabalhadores para cá, e descobrimos que havíamos trazido seres humanos!”.

Alguns podem entender esses Europeus até certo ponto. Imigração causa problemas reais. A migração do sul, que é pobre, para o norte, que é rico, é um fenômeno do século XXI, um resultado da enorme diferença entre nações. Isso precisa de uma política Européia de imigração, um diálogo com as minorias sobre integração e multi-culturalismo. Isso não será fácil.

Mas essa onda de Islamofobia está para além disso. Como um Tsunami, pode resultar em devastação.

* * *

MUITOS partidos e grupos Islamofóbicos se lembram da atmosfera da Alemanha no início dos anos de 1920, quando grupos “völkisch” e milícias estavam propagando seu veneno do ódio e um espião militar chamado Adolf Hitler estava ganhando seus primeiros louros como um orador anti-Semita. Eles pareciam sem importância, marginais, até mesmo loucos. Muitos riram deste homem Hitler, o Chaplin de bigode.

Mas a tentativa de golpe nazista, de 1923, foi acompanhado pelo de 1933, quando os Nazistas tomaram o poder, 1939, quando Hitler começou a Segunda Guerra Mundial, e 1942, quando as câmaras de gás começaram a operar.

Os começos é que são críticos, quando oportunistas políticos percebem que despertando o medo e o ódio é o caminho mais fácil para a fortuna e o poder, quando sofredores sociais se tornam nacionalistas e fanáticos religiosos, quando atacar as minorias se torna aceitável para legitimar políticas, quando pequenas pessoas divertidas se tornam monstros.

Foi o Dr. Goebbels quem eu ouvi rindo no inferno?

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles