quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Usina Cambahyba, crematório clandestino, e a ditadura militar na década de 70


 Roberto Moraes

Os escombros da usina Cambahyba, na localidade de mesmo nome, próximo à Martins Lage, ainda resiste ao fim das atividades industriais na safra 1995/1996.

Ali, um grande patrimônio agrícola-industrial sob o comando de Heli Ribeiro Gomes encerrou suas atividades. Duas décadas depois, Heli, já falecido, sofre a acusação do ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), Cláudio Guerra, no livro que acabou de ser editado “Memórias de Uma Guerra Suja”, de ter atuado e ajudado os militares em torturas e no sumiço dos corpos de pelo menos dez militantes de esquerda, em 1973.

Heli Ribeiro Gomes nasceu em Campos dos Goytacazes, no dia 22 de agosto de 1925. Foi eleito deputado federal pelo antigo estado do Rio de Janeiro por dois mandatos, entre 1958 e 1966 e ocupou o cargo de vice-governador entre 1966 e 1970 e faleceu no dia 04 de março de 1992.

Em 1972 Heli Ribeiro Gomes disputou e perdeu para Zezé Barbosa o cargo de prefeito de Campos, por uma das sublegendas da Arena, o partido simpático a direita e aos militares.

O Complexo Agroindustrial de Cambahyba - como chamado - era uma das principais indústrias do município, junto com as usinas São João, Sapucaia, Paraíso entre outras, de um total de 24 em funcionamento no ano de 1972.

Na década de 1970 a propriedade de Heli Ribeiro Gomes chegou a ter área própria de 6,7 mil ha, que com mais 1,1 mil ha arrendados, alcançava uma área total de aproximadamente, 8 mil hectares, 85% deles dedicados à cultura da cana de açúcar. 

O relato do ex-delegado Cláudio Guerra, mesmo que de foram resumida, na matéria do iG (veja aqui) impressiona e faz lamentar todos que lutaram e lutam pela democracia. É indiscutível que o caso merece ser apurado e a Comissão da Verdade parece ser o caminho para desvendar o que é fato do que é versão. 

A decadência da agroindústria canavieira exatamente nesta época citada, teve um alívio com a decisão do governo militar em apoiar e implantar o Proalcool, mais precisamente, em 1975.

A apuração dos verdadeiros fatos terá a função de responsabilizar quem tem que ser responsabilizado e, principalmente, eliminar as suspeitas sobre aqueles que nenhuma relação tem com estas e outras denúncias. 

É oportuno recordar que se trata de uma versão dos fatos, não necessariamente, a verdade, mas, a quantidade de detalhes e a contextualização aumentam as suspeitas de que o ex-delegado possa estar falando a verdade. 

É lamentável para Campos e os campistas ver sua cidade, mais uma vez, relacionada a assuntos que desabonam nossa história, mas, pior que isto é agora se tentar escamotear a verdadeira história.  

PS.: Fotos extraídas do artigo acadêmico “Modos de ver e de pensar o Patrimônio Agroindustrial: A Usina Cambahyba refletida através de um álbum fotográfico” de autoria do professor da Uenf, Marcelo Carlos Gantos.

PS.: Atualizado às 00:34: 1- Posição da filha de Hei Ribeiro Gomes em matéria do Globo Online:
“— Meu pai era simpático aos militares, mas naquela época ou você era de um lado ou de outro. Ele não queria o comunismo dentro do Brasil, mas era totalmente contrário a qualquer perseguição ou violência, era um democrata — diz Cecília Gomes, filha de Heli, que considera as acusações de Guerra “absurdas”.

2- O jornal também fala sobre queima de cadáveres de militantes de esquerda na caldeira da Usina Cambayba:
"Isso me atormentou durante muito tempo porque eu sei que as famílias devem ainda ter até hoje aquela esperança de saber o destino de seus entes queridos. Se eu tive coragem de fazer, eu tenho que ter coragem de assumir os meus erros”

“O ex-delegado diz ter se aproveitado da amizade com o ex-deputado federal e ex-vice-governador do Estado do Rio Heli Ribeiro Gomes, dono da Usina Cambahyba, para usar o forno da unidade em Campos (RJ) e desaparecer com o corpo de militantes. De acordo com o livro, teriam sido incinerados João Batista, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski, Wilson Silva, David Capistrano, João Massena Mello, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho.

Guerra afirma ter levado dois superiores hierárquicos ao local para que aprovassem o uso do forno da usina: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Ambos já morreram; o primeiro em 1996, e o segundo em 2006.”

3- Após passar sete anos na cadeia sob acusação de ter matado um bicheiro, Cláudio Guerra converteu-se ao cristianismo e, hoje, aos 71 anos, é um preletor da Igreja Assembleia de Deus. Veja abaixo um dos vídeos que o YouTube tem sobre ele. Seu livro “Memórias de Uma Guerra Suja” será lançado oficialmente neste próximo final de semana pela editora Topbooks:




PS.: Atualizado às 09:20Do Ministério Público Federal que montou o Grupo de Justiça de Transição para investigar os crimes da ditadura, através da procuradora da República Eugênia Gonzaga que busca provas para solucionar as mortes:

“As informações são consistentes. Vamos reunir as informações e seguir para a usina de Campos em busca de depoimentos.”

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