sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Acervo de Apolônio de Carvalho é doado ao Arquivo Nacional

À Agência Brasil, o diretor-geral do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, falou sobre a importância do gesto da família de Apolônio de Carvalho, que doou o material na véspera do dia em que o líder político completaria 100 anos. Uma iniciativa semelhante à das famílias do ator e compositor Mário Lago e do líder comunista Luis Carlos Prestes, que também doaram os respectivos acervos pessoais ao Arquivo Nacional.

“São fotografias, vídeos, depoimentos, textos”, listou Antunes. "Nós cremos que esses gestos que vêm sendo tomados por familiares de grandes brasileiros, ativistas, intelectuais, contribuirão, com certeza, para que outras famílias sejam sensibilizadas a doar”.

Antunes disse que esses acervos, somados aos acervos públicos da história contemporânea brasileira, poderão servir aos pesquisadores para a produção de conhecimento e preservação da memória nacional. Os depoimentos de pessoas que conviveram com Apolônio também serão disponibilizados pelo Arquivo Nacional aos interessados.

“A doação assume uma outra importância pelo aspecto didático, de que acervos da história brasileira precisam cumprir uma função social. E essa função é dada a documentos e arquivos quando são disponibilizados por uma instituição pública para um maior número de pessoas possível que têm interesse sobre esse tema ou sobre o período que retrata”.
Apolônio de Carvalho nasceu em Mato Grosso do Sul, em 1912. Casou-se com Renée, jovem militante francesa da Resistência ao nazismo, que conheceu em 1942 e que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Apolônio morreu em 2005, de pneumonia, aos 93 anos.

Por: Alana Gandra

Apolônio de Carvalho, a vida do revolucionário daria um filme

Rio de Janeiro - Apolônio de Carvalho, a exemplo de Luiz Carlos Prestes, Carlos Lamarcae o historiador Nelson Werneck Sodré, foi oficial do Exército e comunista, condições inconciliáveis que levaram os quatro ao expurgo das Forças Armadas, quando não ao ostracismo, como no caso do historiador, que alcançou a patente de general.

Filho de soldado, nascido em Corumbá (MS) em 1912, Apolônio fez os estudos militares e era oficial em 1933, “já pensando que era necessário mudar a sociedade brasileira”, como declarou em entrevista à revista Teoriae Debate, publicada em 1989. A “paixão libertária” se manifestou em 1935, quando ajudou a consolidar a Aliança Nacional Libertadora (ANL) em Bagé (RS), orientado por um capitão, que servia na mesma unidade. A ANL defendia a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionalização das empresas estrangeiras, a reforma agrária e aproteção aos pequenos e médios proprietários, a garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo popular. Fazia contraponto à Ação Integralista Brasileira, fundada três anos antes por Plínio Salgado e de nítida inspiração fascista. Em julho de1935, a ANL promoveu homenagem pelos aniversários dos levantes tenentistas de 1922 e 24, e foi lido manifesto de Prestes propondo a derrubada do governo. O texto foi a senha para o presidente Getulio Vargas decretar a ilegalidade da aliança, mas o grupo teve forças para o levante comunista de novembro, em Natal (RN), e mais dois, em Recife e no Rio de Janeiro. O governo desfechou ações fulminantes, desbaratando a ANL e prendendo seus membros, entre eles Apolônio de Carvalho.

Solto em junho de1937 e já expulso do Exército, entrou para o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e seguiu num grupo de 20 brasileiros para a Brigada Internacional em defesa da causa republicana na Guerra Civil espanhola, contra os fascistas comandados pelo general Francisco Franco. Em fevereiro de1939, com a vitória de Franco, os integrantes da Brigada Internacional fugiram para a França, onde foram presos no campo de refugiados espanhóis em Gurs, nos Alpes franceses. Em maio do ano seguinte, Gurs foi transformado em campo de concentração dos nazistas que ocuparam o país. Apolônio de Carvalho conseguiu escapar para Marselha. Em 1942, entrou para a Resistência Francesa, o movimento patriótico contra a ocupação alemã, e em pouco tempo se tornou comandante para a região sul, com base em Lyon. Foi nesta época que o guerrilheiro brasileiro conheceu a jovem resistente francesa Renée Laugery, sua companheira por mais de 60 anos, mãe de seus filhos René-Louis e Raul. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, o casal participou da libertação de presos políticos em Nîmes, Carmaux, Albi e Toulouse.

Em 1946, já com o menino mais velho, os dois viajaram para o Brasil, onde nasceu Raul, no ano seguinte. A família viveu na clandestinidade, na militância comunista entre o Rio de Janeiro e São Paulo, até 1953, quando Apolônio seguiu para Moscou para um curso de quatro anos. Renée e as crianças se juntaram a ele em 1955. Dois anos mais tarde voltaram ao Brasil para uma vida de semi-clandestinidade que durou até o golpe militar de 1964. Apolônio de Carvalho enfrentou, a partir de então, não só a perseguição política que o separou da família e o atirou na absoluta clandestinidade como também as divergências profundas dentro do Comitê Central do PCB, do qual fazia parte. Em 1967, à frente da Corrente Revolucionária do Estado do Rio de Janeiro, se desligou do partido e no ano seguinte, em abril, fundou o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), com Mário Alves, Jacob Gorender e outros líderes.

Em janeiro de1970, já com a luta de guerrilha em andamento, sobretudo a do Araguaia, na região do Bico do Papagaio, extremo norte do Tocantins, os três dirigentes comunistas foram presos e torturados e Mário Alves acabou assassinado. No mês seguinte, René-Louis e Raul foram também presos. Em junho, juntamente com mais 39 presos políticos, Apolônio de Carvalho foi para a Argélia, trocado pelo embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, sequestrado no Rio de Janeiro. Raul entrou na lista de presos políticos trocados pelo cônsul suíço no Rio, Giovanni Bücher, em 1971, e René-Louis foi solto no ano seguinte. Somente então Renée seguiu ao encontro do marido em Paris, onde afamília viveu até a anistia de agosto de 1979.

Em fevereiro de1980, Apolônio de Carvalho participou da fundação do Partido dosTrabalhadores (PT) como filiado nº 1 e foi vice-presidente e diretor até 1987. ... (RD)

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