segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Brasil perde espaço para China na America Latina

Carta Capital


O cenário econômico incerto nos Estados Unidos e na Europa, devido à crise mundial, deve impulsionar ainda mais os esforços da China para os mercados da América Latina em 2012. A relação da potência asiática com a região, intensificada nos últimos anos, já reduz a participação dos países mais influentes, como Brasil e Argentina, no comércio com os vizinhos latino-americanos.
Especialistas ouvidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o Brasil deixou de exportar 2,5 bilhões de dólares para países da América Latina entre 2005 e 2009 devido à concorrência chinesa.
A Argentina foi o segundo local mais atingido, com 730 milhões de dólares de exportação a menos no mesmo período. Ambos perderam mercado no setor de químicos, informática, telecomunicações e máquinas e equipamentos.
A China replica no continente, em menor escala, a estratégia utilizada na Ásia e no Pacífico com base em acordos de livre comércio bilaterais para impulsionar sua relação com os países. Com isso, segundo o semanário britânico The Economist, a América Latina hoje é o segundo destino mais importante de investimentos para negócios chineses, com mais de 30 bilhões de dólares por ano, ou 12,5% de todo o aporte da nação asiática fora de seu território.
Luciana Acioly, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e especialista em China, revela que a participação brasileira na corrente de comércio da América do Sul está estagnada há mais de uma década em 11%. “Em 2000, os chineses detinham 2,5% de participação. Em 2010, esse número saltou para 12,5%.”
Só com o Peru, que faz fronteira com a região norte brasileira, a expectativa de comércio com a China para 2012 é de 15 bilhões de dólares – enquanto, no último ano, o Brasil exportou apenas 2,2 bilhões de dólares para o mesmo país vizinho.
Para reverter esse cenário, a analista defende que o País trabalhe para estreitar os laços com as nações vizinhas a fim de fortalecer a região como um todo. “O crescimento do Brasil não tem sido acompanhado pela melhora no relacionamento com os outros Estados da América do Sul”, diz. “Precisamos fazer mais acordos para conquistar uma complementação industrial e exportar mais produtos manufaturados e com valor agregado.”
Esse aprimoramento nas relações deve focar principalmente a Argentina, destaca Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da CNI. Segundo ela, o empresariado brasileiro se queixa das restrições da nação vizinha à exportação nacional sob a alegação de estimular a recuperação de sua indústria. “Mas a fatia do mercado que a Argentina diz proteger está sendo ocupada por produtos chineses.”
Algo evidenciado nos primeiros dez meses de 2011, quando o comércio sino-argentino registrou 14,6 bilhões de dólares. Além disso, a China é o segundo maior parceiro econômico do país – atrás do Brasil – e possuí investimentos na Argentina nos setores de energia, petroquímico, transporte e agronegócio, aponta a Economist.
De acordo com o Ministério de Comercio Chinês, China e América Latina realizaram transações de mais de 183 bilhões de dólares em 2010, um aumento de 28,4% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, as exportações brasileiras para América Latina e Caribe somaram 57,1 bilhões de dólares em 2011.
Para reconquistar a força no mercado latino-americano, Rosar aponta que o Brasil precisa realizar uma reforma tributária e investir na melhoria da infraestrutura para baixar custos. “A falta de competitividade do País está densamente relacionada com problemas internos.”
Planejamento
O avanço chinês na América Latina, diz Acioly, deve-se à agilidade do país em fazer negócios e colocar em prática o plano de operação para alcançar as metas planejadas de forma rápida. Por outro lado, o Brasil tem procedimentos institucionais excessivamente burocráticos que impedem a conclusão ágil de empreendimentos comerciais. “Falta essa estratégia para o Brasil. Nossas políticas estão fragmentadas e é preciso integração na América Latina.”
A pesquisadora do Ipea destaca que o bloco é estratégico para o Brasil tanto no comércio, pela proximidade regional, quanto para investimentos. “Devemos começar a pensar em perder um pouco no saldo comercial e importar mais desses países, procurando outro sistema de compensação, como financiar a importação de produtos brasileiros, para aproximar as nossas relações.”
Outra saída para ajudar os manufaturados brasileiros a reconquistar mercado, aponta Rosar, é investir em serviços que a China tem dificuldades de fornecer. “Falamos uma língua próxima, nossos produtos atendem diretamente ao nível de exigência destes mercados e sempre nos garantimos por uma boa assistência técnica”, diz. “Isso poderia ser muito mais explorado.”

CartaCapital: A falta de visão de futuro do Brasil, por Luis Nassif

Alguns analistas julgam que se superestima o papel do câmbio na economia de um país.
Algum tempo atrás, um deles escreveu um livro sobre o milagre britânico do século 18, que acabou transformando o país em uma potência imperial. Destacou aspectos ligados à legislação, à inventividade do inglês, aos investimentos em ensino, que permitiram ao país comandar a primeira revolução industrial.
Todos esses aspectos são importantes para o desenvolvimento do país.
Cada vez mais o Brasil se firma como mero fornecedor de matéria prima.
Mas a chama que incendiou o imaginário do país abriu espaço para o florescimento de manufaturas sem fim e, depois, criou o clima adequado para as demais reformas foi o câmbio desvalorizado, barateando os produtos ingleses em relação aos concorrentes.
Depois, uma estratégia comercial que consistia em comprar matéria prima dos países emergentes e vender produtos acabados.
É uma forma de apoio à greve geral contra a alta dos preços dos combustíveis. A Nigéria é o maior produtor de petróleo da África
Em seu histórico “A era das revoluções”, o historiador inglês Eric Hobsbawn anota que “qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade científica e tecnológica”.
A França era superior na matemática e na física, enquanto na Inglaterra eram vistas como ciências suspeitas. Os franceses desenvolveram inventos mais originais, como o tear de Jacquard, em 1804, e tinham melhores navios. As escolas inglesas eram uma piada e as duas únicas universidades inglesas intelectualmente nulas, compensadas apenas pelas escolas do interior e pelas universidades da Escócia calvinista. Por temor social, não era encorajada a educação dos mais pobres e a alfabetização em massa só ocorreria em princípio do século 19, com a revolução industrial já em curso – pressionando por mão de obra mais especializada.
As invenções técnicas, que comandaram a revolução industrial, eram bastante modestas: a lançadeira, o tear e a fiadeira automática, ao alcance dos carpinteiros, moleiros e serralheiros.
A grande invenção inglesa do século 18, a máquina a vapor rotativa de James Watt (de 1784) só ganhou estabilidade e utilização ampla a partir de 1820. Com exceção da indústria química, as demais inovações industriais – na expressão de Hobsbawn – “se fizeram por si” – isto é, foram desenvolvidas no dia a dia, sem grandes
Um dos grandes avanços britânicos foi no campo, eliminando o antigo sistema de propriedades herdades por empresários com espírito comercial, que passaram a articular cadeias produtivas – arrendando terras para camponeses sem terra ou pequenos agricultores e direcionando as atividades agrícolas para o mercado. E as manufaturas tinham se espalhado pelo interior não dominado pelo feudalismo.
Com isso, a agricultura cumpriu suas três funções em uma era de industrialização acelerada: aumentar a produção e a produtividade para alimentar uma população cada vez menos agrícola; fornecer mão de obra para as novas atividades industriais, através do êxodo rural; e garantir capital que foi aplicado em setores mais modernos da economia.
Paralelamente, o país investia na construção de uma frotra mercante e de estradas e infraestrutura adequada.
Até então a atividade empresarial mais lucrativa era do comerciante, comprando mais barato e vendendo mais caro. A revolução industrial muda esse paradigma e passa a deixar a melhor parte do bolo para o industrial.
Mercado mundial
Política cambial, acordos comerciais, domínio dos mares, abriram um mercado sem precedentes para seus industriais. Através de inovações simples e baratas, os industriais conseguiam taxas de retorno extraordinárias. No início, lã para abastecer o mundo. Quando o algodão substituiu a lã, compra de algodão dos países emergentes – basicamente Estados Unidos e América do Sul – e venda de tecidos para eles.
América Latina como comprador
Entre 1750 e 1760, as exportações inglesas de tecidos de algodão aumentaram dez vezes, sempre com apoio agressivo do governo nacional. E aí, toca enfiar produtos na América Latina – como a China está fazendo hoje em dia. Por volta de 1840, o continente consumia quase metade do consumo europeu de tecidos de algodão ingleses. Indústrias eram criadas e, da noite para o dia, tornavam-se gigantes.
Puxando o resto
Com o mercado internacional à disposição, a indústria do algodão lubrificoiu todos os demais setores relevantes da Inglaterra, máquinas, inovações químicas, setor elétrico, frota mercante etc. Ou seja, primeiro criou-se o mercado, depois o mercado abriu um mundo inédito de possibilidades para os empreendedores que, com pouco capital e pouca inovação, tinham condições de saltos expressivos. Não é muito diferente do que ocorre na China.
Salto chinês
Tempos atrás viajei com um importador brasileiro de lâmpadas led. Ele importava de um pequeno fabricante chinês, que adquiria os insumos da Alemanha, processava e vendia mais barato. Depois, o industrial resolveu comprar máquinas para fabricar ele próprio os insumos. Em dois anos, tinha 35 mil m2 de instalações. Guardadas as proporções de época, apenas repetia o fenômeno da Inglaterra do século 18.
Brasil na contramão
No caso do Brasil, o desabrochar do mercado interno criou as primeiras condições para o salto da indústria. Mas o câmbio está matando o deslanche. Cada vez mais, o crescimento do mercado interno está sendo apropriado pela manufatura chinesa; e cada vez mais o Brasil se firma como mero fornecedor de matéria prima. Chega uma hora que nem o mercado interno garantirá mais o crescimento da economia.
Falta de visão
Essa falta de visão sobre o salto futuro é disseminada no país. No governo federal, lançam-se planos ditos de desenvolvimento sem concatenação com a política macroeconômica. No Estadão de ontem, José Serra criticou o governo federal. Mas, em plena crise de 2008, aumentou os impostos paulistas, recusou-se a receber industriais e não desenvolveu um programa sequer de inovação para o Estado.

Friedrich List, 1841: "Chutando a Escada"

Caros Geonautas,
Leiam o trecho do livro que destaquei abaixo e respondam, a si mesmo, de forma sincera:
O Brasil descobriu a pista da lei natural do seu desenvolvimento?
(…) “Quando o país que está na quarta fase passa a recomendar suas práticas econômicas para os países ainda nas fases anteriores, está procedendo ao que List (Friedrich) chamava de “chutando a própria escada”. Depois de escalarem as três etapas iniciais de desenvolvimento, tentam impedir os países menos desenvolvidos de trilhar o mesmo caminho e impor as práticas que passaram a adotar depois de vitoriosos; aí, o componente cultural ideológico, a emulação das práticas dos países centrais, passam a ser fulminantes.
No seu livro, List repassava a história de inúmeras civilizações, países ou cidades-Estado que ganharan enorme poder e influência, mas acabaram afundando por não terem conseguido articular adequadamente os interesses nacionais. A partir desses estudos, o centro das análises de List passou a ser a nacionalidade, como o interesse intermediário entre o indivíduo e a humanidade inteira.
Quando a Alemanha começou a discutir projetos nacionais, List deparou-se com enormes resistências de um conjunto de interesses provenientes de intelectuais alemães que haviam estudado na Inglaterra, importadores com interesses em produtos ingleses e, por baixo de tudo, a enorme influência ideológica do pensamento inglês, àquela altura, já potência hegemônica mundial. Narrava ele que “um exército incontável de correspondentes e escritores líderes, desde Hamburgo até Bremen, desde Leipzig até Frankfurt, saíram em campo para condenar os desejos absurdos dos manufatores alemães no sentido de estabelecer taxas alfandegárias protecionistas comuns”. A lógica de ataque se perpetuaria pelos tempos. List era acusado de ignorar princípios elementares de economia política, “tais como haviam sido consagrados pelas maiores autoridades científicas”. Na época, era notória a influência do Ministério do Exterior inglês, com grossa verba destinada à defesa dos seus interesses comerciais.
No minucioso levantamento que faz sobre países que se tornaram hegemônicos, List deixa lições preciosas. Assim como as empresas, os países crescem aproveitando janelas de oportunidade, que podem surgir em mudanças políticas internas ou em conjunturas internacionais favoráveis. O grande segredo do desenvolvimento é saber aproveitar essas brechas de oportunidades e criar modelos institucionais adequados, que permitam ao país o salto para a etapa seguinte. Essa dinâmica inicial vai desenvolvendo o país, de forma mais ou menos acelerada, até a brecha seguinte, que vai exigir novas soluções.
No final do século XIX, as revoluções tecnológicas e financeiras expandiram de forma acelerada o núcleo central do capitalismo – a velha Inglaterra e seus visinhos – para os novos emergentes que souberam se preparar adequadamente.”

Banco chinês CCB negocia aquisição no Brasil

O China Construction, segundo maior banco da China, está em conversações para comprar um banco no Brasil e em negociações muito preliminares com "dois a três bancos brasileiros"

Por Agência Estado
O China Construction Bank Corp., o segundo maior banco da China em ativos, está em conversações para comprar um banco no Brasil e em negociações muito preliminares com "dois a três bancos brasileiros", disse uma fonte com conhecimento da situação. O CCB gastará cerca de US$ 200 milhões para comprar o menor dos três bancos, embora a aquisição dos outros dois deva ficar entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões, cada, afirmou a fonte, sem identificar os bancos.
O movimento é o mais recente de uma série de tentativas de companhias chinesas para aumentar sua presença no mercado emergente da América Latina. Uma fonte afirmou que o movimento do CCB para explorar oportunidades no Brasil dará ao banco chinês não só uma presença na região, como também ocorre em um momento em que as valorizações das bolsas ao redor do mundo têm sido afetadas pela crise da dívida da zona do euro. Companhias estatais de petróleo da China fizeram uma grande avanço na América Latina durante os dois últimos anos como parte dos esforços para assegurar o abastecimento de energia e diversificar seus investimentos fora do país, e os bancos chineses estão se juntando às petroleiras nos investimentos da região.
Em agosto do ano passado, o Industrial & Commercial Bank of China, o maior banco da China em ativos, afirmou que estava comprando uma participação de 80% nas operações do Standard Bank Group na Argentina em um negócio avaliado em US$ 600 milhões. O acordo ocorreu após o Banco Central brasileiro afirmar em abril que o ICBC submeteu um pedido para iniciar operações no País. As informações são da Dow Jones.

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