O governo do Paraná deixou de destinar pelo menos R$ 331,3 milhões em um fundo voltado para o setor de ciência e tecnologia entre 2003 e 2010. Quase a totalidade do previsto para o setor neste ano: R$ 356 milhões. A Constituição Estadual prevê que 2% da carga tributária seja investida em ciência e tecnologia. Destes, 1% deve ir para o Fundo Paraná, que financia projetos do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e da Fundação Araucária, entre outros. Parte da verba, porém, foi aplicada em outros setores nos últimos oito anos – um desfalque médio de R$ 41 milhões anuais.
O secretário de estado da Ciência e Tecnologia, Alípio Leal, admite o problema e afirma que, a partir de 2011, o governo vai cumprir as obrigações constitucionais. “Na administração pública, existe planejamento e orçamento. Não será possível mudar essa realidade da noite para o dia”, afirma. O plano de governo de Beto Richa diz que o estado precisa rever a Lei 12.020. No entanto, o secretário não vê necessidade de uma mudança de legislação. “É só cumprir a lei”, diz. A diferença de repasse já gerou uma contestação do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Por meio do acórdão 2.305/10, o órgão determina que o governo crie uma conta específica para a aplicação do 1% do Fundo Paraná. Além disso, a administração pública deveria instituir métodos de acompanhamento e avaliação dos projetos selecionados. Mudanças na gestão da Seti devem ocorrer a partir de setembro, pois os membros do Conselho de Ciência e Tecnologia tomaram posse e definiram as diretrizes que o setor vai adotar no estado. “A cada ano, as áreas podem ser modificadas ou redefinidas”, afirma Leal.
Consequências
A principal dificuldade para quem necessita do dinheiro para pesquisa científica é a descontinuidade. “Os repasses são previstos, mas não repassados sistematicamente”, critica o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Mário Sérgio Mantovani. “Esse tipo de ocorrência dificulta a execução do projeto. Quando a verba não é repassada, o pesquisador precisa encontrar meios de continuar com a pesquisa”, afirma.
Mantovani lembra que o fato de o estado se estruturar em universidades estaduais acaba tornando o financiamento da pesquisa científica mais difícil. “É uma situação peculiar, que não ocorre em outros estados. Por isso, a estrutura de investimento não está consolidada”, afirma. Para diminuir o déficit, o objetivo dos profissionais é procurar apoio do governo federal. “Estamos conversando com o Ministério da Educação. Para cada R$ 1 investido pelo estado, R$ 2 serão colocados pela União. A expectativa é conseguir R$ 1 para R$ 3 em 2012”, diz Leal.
Universidades aplicam toda verba disponível
O recurso para ciência e tecnologia destinado às instituições estaduais de ensino superior é usado em sua totalidade. As Universidades de Londrina (UEL), Ponta Grossa (UEPG) e Maringá (UEM) empenharam todos os recursos que receberam no ano passado – ao contrário do que ocorre em vários setores do governo.
A UEL pegou os R$ 26,7 milhões a que tinha direito; a UEPG se aproveitou dos R$ 8 milhões; e, por fim, a UEM usou os R$ 21,3 milhões para a área – todos os recursos também foram usados em 2009. “As universidades estão sempre estruturadas para gastar as verbas disponíveis. Quando ela chega, nós nos desdobramos para executá-la rapidamente. Geralmente, tudo está pronto, só aguardando a chegada do dinheiro”, revela Mário Sérgio Mantovani, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEL. O mesmo, contudo, não se aplica ao Fundo Paraná.
Dos R$ 97 milhões disponíveis para financiamentos, apenas R$ 33 milhões foram usados – o equivalente a 35%. Pior: é justamente essa diferença de aproximadamente R$ 64 milhões (mais do que os recursos das três universidades) que, na maior parte das vezes, deixa de ser aplicado no setor. (GP)

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