segunda-feira, 13 de junho de 2011

Governo, empresários e centrais sindicais unem-se em investida contra falso déficit previdenciário



As informações negativas não param de chegar. Seja pela mídia, pela internet ou pelos meios políticos ficamos sabendo que o capital está, de fato, domando o poder político e as tradicionais Centrais Sindicais. Todos mancomunados contra os interesses do povo.

Do lado do governo, Dilma está decidida a aumentar o tempo de trabalho para a aposentadoria. Sua proposta estabelece a idade mínima de 65 anos para os homens e 63 para as mulheres - claro, dos que produzem as riquezas deste país (L. Lazzarini, jornal Agora). Porém, oferece uma alternativa como novidade: o chamado "Fator 85/95". Sabem lá o que é isto?

Pois bem, trata-se de o trabalhador garantir que a soma dos anos trabalhados e do tempo que contribuiu para a Previdência atinja 95 anos para os homens e 85 anos para as mulheres. Veja lá: o trabalhador terá que provar que trabalhou, por exemplo, 50 anos e que contribuiu durante 45 anos, ou 55 anos trabalhados e 40 de contribuição, e assim por diante. Podemos destacar algumas aberrações desta proposta.

Primeiro: é a tese de que o trabalhador nasceu e vive para trabalhar, e não que trabalha para garantir a vida. É a inversão perversa de valores para a vida humana. O trabalhador comum não tem o direito de ser feliz e de desfrutar dos sabores da vida em tempo nenhum de sua existência E nem mesmo desfrutar dos bens que produz, a não ser o mínimo do mínimo para garantir a reposição de sua força de trabalho. Tem que produzir riquezas e mais riquezas para o capital. É a forma mais moderna de "legalizar a escravidão do trabalhador". Ou seja: é a legitimação da barbárie, é a volta aos tempos do escravismo: trabalhar de sol a sol e noite adentro, dormir, levantar para trabalhar de sol a sol e noite adentro, exaurindo sua vida no trabalho!

Segunda aberração: em tempo de neoliberalismo - que gera desemprego em alta escala, que provoca veloz rotatividade no trabalho (trabalho, desemprego; novo trabalho e novo desemprego, e assim por diante, durante toda a vida), que impõe condições precárias de contrato de trabalho, inclusive sem registro em carteira, que sonega direitos elementares para milhões de trabalhadores –, como nessas condições garantir a contribuição de pelo menos 35 anos? Quantos e quantas irão conseguir, por exemplo, contribuir com a Previdência por 40 ou 45 anos? E ter carteira assinada para provar que trabalhou por outros 40 ou 45 anos? Quantos trabalhadores e quantas trabalhadoras conseguirão o benefício da aposentadoria antes de partir desta para outra vida?

Terceira aberração: o que se visa, realmente, não é impedir o sacanamente apelidado "rombo da Previdência". Está provado que esse rombo só existe porque grandes empresas sonegam a Previdência Social (e isto a própria imprensa burguesa tem revelado de tempos em tempos). Especialistas vêm comprovando com dados oficiais que o rombo é uma mentira deslavada, uma falácia, "conversa mole pra boi dormir".

O real objetivo dessa reforma da Constituição é garantir crescimento de lucros para as empresas e, ao mesmo tempo, garantir superávit primário para pagar a agiotagem nacional e internacional. E isto aparece muito claramente quando o governo Dilma propõe "desonerar a folha de pagamento das empresas", eliminando a sua contribuição para a Previdência Social, a fim de facilitar a exportação... Em outras palavras, é preciso fazer aumentar os já extraordinários lucros empresariais. Só que isto irá onerar a Previdência (Estadão, Economia de 16/05/11).

Para compensar esse verdadeiro rombo previdenciário é necessário roubar do trabalhador o direito de alcançar a sua justa e legítima aposentadoria, isto depois de longos e penosos anos produzindo riquezas e gerando fabulosos lucros para os empresários, ladrões oficiais. Ladrões "legais", protegidos por leis ilegítimas que espoliam e esmagam o povo. Crime contra a humanidade, genocídio a conta-gotas, premeditado.

E para finalizar este pequeno artigo, vem a bomba do dia: "Desoneração da folha une Fiesp e Centrais". "Ao lado de dirigentes da Força Sindical e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) anunciou ontem a intenção das entidades de encaminhar nos próximos dias à presidente Dilma Rousseff um conjunto de propostas de longo prazo para o desenvolvimento da indústria nacional ... As entidades reunidas ontem, de acordo com Skaf (presidente da Fiesp), estudam pedir desoneração na folha de pagamento dos 20% da contribuição ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)" – Estadão, Economia- pág. B9, 24/05/11).

"Até tu, Brutus?", poderíamos perguntar para os dirigentes da CUT, cria dos trabalhadores para defesa dos seus direitos. Como enuncia o título dessa matéria, "Todos contra os trabalhadores: empresários, governo e centrais sindicais". Todos mancomunados. É preciso protestar contra tanta sacanagem e traição, antes que seja tarde demais! Acorda povo trabalhador, porque os alicerces dos seus direitos estão totalmente minados!

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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