terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Entenda por que Israel vigia de perto os protestos no Egito

O possível fim da era Mubarak é motivo de sérias preocupações em Israel, mas a renovação das tensões na sua fronteira com o Egito não está no topo da lista de ameaças iminentes. Israel lutou quatro guerras com o Egito antes de os países assinarem um acordo de paz em 1979, e desde então, Cairo e Jerusalém se consideram aliados firmes.

A maioria dos analistas acredita que o grupo que assumir o poder no Cairo terá, a princípio, relutância em antagonizar Israel ou países ocidentais. “Eles terão de se concentrar em assuntos internos durante os primeiros dois ou três anos”, afirmou à revista Newsweek Giora Eiland, um general aposentado e assessor de segurança israelense. “Eles precisarão da ajuda norte-americana e de investimentos estrangeiros. Se houver uma transição no poder, os egípcios não vão querer comprar uma guerra a curto prazo”.

Ainda assim, a relação entre Israel e Egito deve mudar, independentemente do desfecho dos protestos no Cairo, e os israelenses têm quatro grandes motivos para estarem preocupados:

Isolamento: Israel provavelmente não se sentia tão sozinho desde a década de 70. No ano passado, o ataque a um navio de ajuda humanitária que se dirigia a Gaza custou sua aliança com a Turquia, que até então fazia manobras militares conjuntas com Israel e partilhava informações de contraterrorismo. A Jordânia, o segundo país da região a fazer as pazes com Israel, recentemente esnobou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por sua postura inflexível quanto à questão palestina.

Agora, a possível renúncia de Hosni Mubarak lembra, para muitos israelenses, a derrubada do último xá do Irã em 1979, cujo regime também mantinha laços estreitos com Israel. “Foi um grande trauma”, lembra Uri Lubrani, que atuou como representante de Israel no Irã da década de 70. “Isso nos forçou a buscar alternativas para algumas das necessidades mais básicas de Israel”.

Fronteiras permeáveis: O Egito faz fronteira não só com Israel, mas também com a Faixa de Gaza, governada pelo grupo islâmico Hamas, o braço palestino da Irmandade Muçulmana. Já existe um grande fluxo de armas e foguetes que saem do Egito direto para as mãos de militantes do Hamas, através de uma rede de túneis subterrâneos cavados pelos palestinos para driblar o bloqueio israelense a Gaza. O regime de Mubarak vem tentando combater essa rota de contrabando, mas não tem sido muito eficaz.

Os israelenses temem que um governo liderado pela Irmandade Muçulmana no Egito permita a entrada de armas mais sofisticadas em Gaza. “Isto faria com que o Hamas se fortalecesse e ficasse ainda mais intransigente”, disse Eiland, ex-conselheiro de segurança nacional israelense. Eventualmente, um Hamas entusiasmado pode tentar derrubar a moderada Autoridade Palestina que governa a Cisjordânia. E, com um grupo islâmico à espreita na sua fronteira ocidental, a Jordânia também ficaria mais vulnerável. “Eu não estou dizendo que este é o cenário mais provável”, disse Eiland. “Mas é o que temos de levar em conta”.

Gastos: A crise financeira global passou praticamente despercebida em Israel, cuja economia cresceu 4% no ano passado. Com o controle da violência na Cisjordânia, Israel se tornou mais próspera nos últimos anos. Mas a incerteza no Egito já se faz sentir. A Bolsa de Valores de Tel Aviv caiu vários pontos percentuais nos últimos dias e a moeda israelense tem tido um crescimento menor frente ao dólar.

Mesmo que o Egito se estabilize, analistas acreditam que o Exército israelense terá que investir em treinamento e armamento para se preparar para uma série de possíveis cenários — e isso significa gastar mais com defesa. Nas últimas décadas, desde o acordo de paz com o Egito, Israel cortou seu orçamento de defesa, que chegava a 20% do PIB, para menos de 10%, de acordo com Shmuel Even, um especialista em gastos militares no Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel-Aviv. Embora ninguém antecipe que os gastos voltem aos níveis de 1970, a tendência agora é que eles aumentem.

Impasse nas negociações de paz: Apesar da atual paralização das negociações com os palestinos, o possível término do acordo de paz entre Israel e Egito tornaria ainda mais remota a possibilidade de um acordo semelhante com os palestinos. Sucessivos líderes israelenses, incluindo Netanyahu, aceitaram a ideia de que territórios devem ser devolvidos aos palestinos em troca da paz, mas acontecimentos no Egito têm incentivado extremistas islâmicos, que defendem a inutilidade de acordos de paz entre árabes e israelenses, como também insufla os extremistas sionistas, que também rejeitam qualquer tipo de acordo de paz.

Fonte/; Opinião e Notícias

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