sábado, 6 de novembro de 2010

Os nordestinos no Paraná


Laércio Souto Maior

Com uma virulência raramente vista, pipocaram na internet as mais violentas opiniões racistas contra o povo nordestino

Com metódica regularidade, de tempos em tempos ressurge implacável, para a vergonha da nacionalidade, o odioso preconceito antinordestino nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Dessa vez, o motivo da campanha racista foi a vitória da candidata Dilma Rousseff (PT) nos nove estados nordestinos, com mais de 10 milhões de votos de vantagem sobre o candidato oposicionista José Serra (PSDB), na eleição presidencial.

Com uma virulência raramente vista, pipocaram na internet via Twitter as mais violentas opiniões racistas contra o povo nordestino. Costumo falar quando me deparo com pessoas desinformadas que faltam luzes (no sentido de leitura e informação) a esses nossos compatriotas. Portanto, dirijo-me aos carentes de luzes quando o assunto é o Nordeste e os nordestinos na saga da sua diáspora pelo território continental do Brasil. Pois devem desconhecer a contribuição dos nordestinos na criação e construção do estado do Paraná, e da sua capital, a bela Curitiba.

Wilson Martins, crítico literário de renome internacional, exaltou a figura do estadista baiano Zacarias Góes de Vasconcelos, como o inventor da Província do Paraná libertando-a do jugo de São Paulo da qual fazia parte como a 5.ª Comarca. Como primeiro presidente da província, Zacarias Góes de Vasconcelos derrotou as pretensões de Paranaguá, na época a principal cidade paranaense, e também de Guarapuava e Castro que alegavam razões estratégicas e políticas para os seus pleitos de sediar a capital, escolhendo e assinando a lei que no dia 26 de julho de 1854, fixou em Curitiba a sede administrativa e política da mais nova província do Império do Brasil.

Zacarias Góes de Vasconcelos organizou a força policial do Paraná que teve como seu primeiro comandante, o capitão do exército Joaquim José Moreira de Mendonça, paraibano de boa cepa, lembrando também que o filho do estado do Ceará, o coronel do exército Joaquim Antonio de Moraes Sarmento, é o patrono da Polícia Militar do Estado do Paraná. A fecunda administração de Vasconcelos criou as cadeiras de Latim, Francês e Inglês no Liceu Paranaense; determinou a abertura da Estrada da Graciosa; decretou a obrigatoriedade do ensino primário; criou o cargo de Inspetor Geral da Instrução; fundou o Arquivo Público do Paraná, e o jornal Dezenove de Dezembro, mas vamos parando por aqui porque daria para encher mais de uma página enumerando as ações pioneiras na área administrativa desse baiano.

Saindo do campo intelectual, destaca-se a contribuição da força do trabalho braçal na construção do Paraná. A colonização do Norte do estado, a mais dinâmica região econômica do Paraná, aconteceu graças a um exército de 800 machadeiros “baianos”, liderados pelo pernambucano João Tenório Cavalcanti, que em 1939 puseram abaixo as matas do Norte paranaense, ensejando sua ocupação pelos milhões de imigrantes e migrantes de todas as partes do país e do mundo.

Para finalizar, vale relembrar os fundadores do jornal Gazeta do Povo, um dos mais importantes do Brasil. Os nordestinos Benjamin Lins e Oscar Joseph de Plácido e Silva são os fundadores e primeiros proprietários do grande jornal que enche de orgulho as tradicionais famílias paranaenses. A dupla fundou a empresa Plácido e Silva&Cia.Ltda., a primeira sociedade por cotas de responsabilidade limitada surgida no país, e estiveram envolvidos na fundação da primeira Universidade do Brasil (UFPR). O alagoano Plácido e Silva fundou também a Faculdade de Ciências Econômicas do Paraná (1937); a Faculdade de Direito de Curitiba, e foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná. Essa é apenas uma síntese da contribuição do povo nordestino para a grandeza do Paraná.

Laércio Souto Maior é advogado, jornalista e escritor.

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