terça-feira, 31 de agosto de 2010

Eike Batista, de bem com o poder


Por Carlos Tautz

A estratégia do empresário Eike Batista, que faz ações comunitárias espetaculares, financia eventos esportivos e aparece em programas de auditório, obedece a uma lógica agressiva de relações públicas.

Espanta pela desenvoltura, mas, em essência, não tem nada de louca ou de nova. A estratégia do empresário Eike Batista, que faz ações comunitárias espetaculares, financia eventos esportivos e aparece em programas de auditório, obedece a uma lógica agressiva de relações públicas. Enquanto se projeta como o oitavo homem mais rico do planeta, namora belas mulheres que atraem o interesse da imprensa e assim constrói a imagem pública de empreendedor ousado e doador benemerente. Em verdade, tudo para azeitar imprescindíveis relações com a sociedade, com a mídia e, mais importante, com governantes, com quem cultivas relações políticas de velho tipo assistencialista.

Foi o caso da doação de R$ 100 milhões, anunciada nesta quarta 25, para construção de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas do Rio de Janeiro. UPPs são a menina dos olhos do candidato a e atual governador Sergio Cabral (PMDB) e foram incorporadas ao programa de governo da candidata a presidenta Dilma Roussef (PT). Ambos têm chances enormes de vencerem a disputa eleitoral logo no primeiro turno.

Eike sabe que seus negócios nos campos da mineração, petróleo e logística necessitam de licenças e de crédito dos governos. Ele acessa com frequência linhas de crédito de bancos públicos, como o BNDES, onde bons contatos já levaram o banco a se transformar em sócio de sua LLX, de logística. Eike sempre carece, portanto, daquilo que ele próprio define como um dos eixos de sua estratégia corporativa: engenharia política. E é por isso que, para ele, é necessário estar sempre bem na fita com o poder.

Há dois anos, contudo, essas ligações políticas foram estreitas demais e o levaram ser investigado pela Polícia Federal na Operação Toque de Midas, que também apontou sua proximidade com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Segundo a PF, o grupo empresarial de Eike teria se beneficiado da cessão ilegal, pelo governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), de um terreno que em verdade pertence à União e onde seria instalada a sua mineradora MMX.

Também chamam a atenção seus negócios aparentemente pouco ortodoxos para quem investe no tradicional ramo da mineração. A compra do histórico Hotel Glória, na Zona Sul do Rio, e a administração da Marina da Glória, em frente ao hotel, são emblemática desse simulacro de modernidade. Assim como a construção da Cidade X, planejada pelo arquiteto Jaime Lerner, contígua ao Porto do Açú, no litoral norte fluminense.

De volta ao ramo original, a venda de parte da sua mineradora MMX à Anglo American permitiu que a gigante de capital inglês e sul-americano finalmente se juntassem às demais grandes do setor para disputar espaço no mercado brasileiro como plataforma de exportação a outros mercados no Brasil, provavelmente em conjunto à aproximação com a siderúrgica chinesa Wuhan Iron and Steel Corporation (Wisco), que também deve se instalar no Açú.

Ainda que a imagem pública de Eike seja o de um empreendedor dos tempos modernos, seu negócio é mesmo o da velha economia extrativista, de concepção convencional. Tecnologia de ponta e muito dinheiro dão escala mundial aos seus negócios, que também envolvem a compra e venda e situações privilegiadas de empresas. Mas, a rigor, mineração e exploração de petróleo são as atividades econômicas mais impactantes social e ambientalmente. Para levá-las adiante nesses tempos de câmbio climático e de aumento da consciência com o planeta, é necessária muita maquiagem verde e social.

No caso do óleo, ramo recente, outra vez Eike agiu à velha moda. Participou em dezembro de 2007 do leilão patrocinado pela Agência Nacional do Petróleo e arrematou por 1,4 bilhões de dólares 21 blocos para exploração de óleo nas bacias de Santos e de Campos (onde estão as imensas reservas do Pré-Sal). Ato contínuo, contratou cerca de 30 técnicos de alta qualificação da Petrobras (e repositório de estratégicas informações comerciais e geológicas) e foi atrás de Francisco Gros, ex-presidente do BNDES e da Petrobras, para compor o conselho da holding EBX. Por fim, contratou para esse mesmo conselho o próprio pai, Eliezer Batista, ex-presidente da Vale do Rio Doce.

Ousada, a ação de Eike pode até ser, mas de inovadora nada tem. Ainda se baseia na velha relação carnal entre Estado e capitalismo no Brasil.

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