quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

De cada 5 cursos de nível superior, só 1 tem boa qualidade


Dados do Conceito Preliminar de Curso (CPC) do triênio 2008, 2009 e 2010 mostram que a qualidade do ensino superior no Brasil está concentrada em uma pequena “elite” de cursos de graduação. Apenas 19% dos cursos avaliados no período tiveram conceitos 4 ou 5, considerados de boa qualidade. Já outros 29% tiveram conceitos 1 e 2, desempenho tido como insuficiente. O grupo de “elite” é composto, majoritariamente, por graduações ofertadas por universidades públicas.

Para pesquisadores da área, a baixa qualidade do ensinos fundamental e médio é decisiva para o desempenho ruim na etapa se­­guinte. De acordo com o consultor educacional Renato Casagrande, os dados mostram claramente a existência de um conjunto de cursos e instituições de destaque, cujos alunos têm mais facilidade de inserção no mercado de trabalho. Por outro lado, a grande maioria dos profissionais formados em universidades brasileiras não está apta a exercer suas funções de maneira adequada. “Hoje temos mais profissionais certificados, mas sem uma qualidade à altura das demandas do mercado”, afirma o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Paulo Roberto Corbucci.

A má qualidade da formação acaba criando um ciclo vicioso. Corbucci ressalta, por exemplo, que professores sem preparação adequada não conseguirão capacitar os profissionais do futuro, situação que pode trazer grande prejuízo para a competitividade e o desenvolvimento do país.

Foco no básico

Para Casagrande, um fator decisivo para o baixo desempenho dos cursos de graduação do Brasil é a qualidade do ensino básico. Nos últimos 20 anos, houve um aumento significativo na oferta de cursos de ensino superior – realidade que, analisada isoladamente, é positiva. Entretanto, não houve uma melhora qualitativa, na mesma proporção, nos ensinos fundamental e médio. De acordo com o consultor, isso fez com que um grande contingente de alunos mal preparados ingressassem em faculdades e universidades.

“Nós oportunizamos a entrada desses alunos, mas não melhoramos a qualidade do ensino. Com isso, alunos com grandes deficiências de raciocínio lógico e conhecimentos gerais puderam ingressar nos cursos. As universidades não podem ser as únicas culpadas [pelo resultado do CPC]”, avalia.

Essas deficiências forçam muitos cursos universitários a redobrar seus esforços, compensando as lacunas do ensino médio ao mesmo tempo em que apresentam conteúdos específicos do superior. Na prática, o ensino fica comprometido. “O grau de conhecimento geral de alunos concluintes do ensino superior no Brasil é hoje equivalente ao de alunos de ensino médio em países desenvolvidos”, afirma Casagrande.

Estado se destaca do restante do país

Os dados do Conceito Preliminar de Curso (CPC) no Paraná mostram que o estado está em situação melhor do que o restante do país. Enquanto no Brasil o número de cursos avaliados negativamente entre 2008 e 2010 é maior do que o de cursos considerados bons, no Paraná o número é equilibrado: são 268 cursos considerados de “elite” contra 260 cursos abaixo da média. Assim como em outros estados, a qualidade está concentrada em cursos públicos: mais da metade dos cursos de instituições estaduais e federais foram considerados acima da média, com conceitos 4 e 5.

Para o pesquisador do Ipea Paulo Roberto Corbucci, os números são reflexo do desenvolvimento do Paraná em relação a outros estados do Brasil. “A questão socioeconômica tem uma equivalência grande com o desempenho educacional. Os dados tendem a ser melhores nos estados do Sul e do Sudeste do que no resto do país”, comenta.

Tradição

Já o consultor educacional Re­­nato Casagrande aponta, também, algumas peculiaridades que colocam o Paraná em uma situação mais favorável em relação aos outros estados. Para ele, o ensino superior no estado é menos massificado do que em outras regiões do país, o que favorece a qualidade. “O Paraná é resistente a grandes grupos educacionais de fora do estado. A educação como produção em série é um fato novo aqui”, afirma.

Além disso, Casagrande destaca a presença de instituições públicas tradicionais, como a UFPR, que servem como centros de “irradiação” de qualidade para outros cursos, públicos e privados. “A qualidade dessas instituições contribui para que os novos grupos educacionais tenham um padrão de qualidade mínimo.” (GP)

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