quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Alta mortalidade no trânsito: Paraná tem a 2.ª maior taxa de homicídios não intencionais em colisões

O Paraná registrou em 2010 a segunda maior taxa de homicídio culposo (quando não há intenção de causar morte) no trânsito do país. Foram 22,5 casos a cada 100 mil habitantes, segundo dados apresentados ontem na 5.ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O estado ficou atrás apenas de Sergipe, cujo índice foi de 39,9 casos. Apesar de o estudo não mencionar causas, especialistas e envolvidos na investigação de acidentes de trânsito são unânimes: a maior parte das mortes está ligada à imprudência e ao descuido dos condutores e, portanto, poderia ser evitada.

Ainda de acordo com o levantamento elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que também reúne informações sobre gastos em segurança pública e população carcerária, entre outros temas, o Paraná teve um aumento de 13% em 2010 no número de homicídios culposos no trânsito. Passou de 2.080 casos em 2009 para 2.354, resultando em uma média de 6,4 mortes por dia no ano passado.

Os números dizem respeito somente a acidentes que envolveram a morte de terceiros e cujos envolvidos foram indiciados pela Polícia Civil por terem alguma responsabilidade no caso. Hoje, toda morte no trânsito obrigatoriamente resulta na abertura de inquérito policial.

Investigação rigorosa

Para o titular da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) de Curitiba, Armando Braga, as estatísticas não necessariamente comprovam que o Paraná é um dos estados mais violentos no trânsito. Segundo ele, o rigor na investigação dos acidentes resulta em indiciamentos, pelo menos na capital, em “99% dos casos” – o que ajudaria a inflar as estatísticas.

“Há estados em que sequer o inquérito é aberto quando ocorre a morte”, diz Braga. “Aqui, em geral o indiciamento [por homicídio culposo] só não acontece quando se verifica que o acidente era praticamente inevitável e o motorista tomou todas as precauções de segurança possíveis. Mas, infelizmente, isso é exceção”.

A promotora da 2.ª Vara de Delitos de Trânsito de Curitiba, Stella Maria Flores Floriani Burda, destaca que o fato de o motorista não ter tido a intenção de causar a morte da vítima não o isenta de culpa. “Esse grande índice de mortes é fruto da imprudência, do descaso e da negligência dos condutores. Quando entramos no nosso carro de manhã, não queremos ou esperamos nos envolver em acidentes. Mas, dependendo da nossa con­­duta, damos margem para al­­go muito grave acontecer”, opina.

A evolução no número de homicídios culposos apontada pelo anuário acompanha o crescimento progressivo do número total de mortes no trânsito no Pa­­raná. Ano passado, segundo nú­­meros do Sistema de Infor­mações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, 3.433 pessoas morreram no estado em decorrência de acidentes de trânsito. Nos úl­­timos dez anos, houve um crescimento de 37% no número de mortes.

Conscientização exige mudança individual dos motoristas

As ressalvas quanto à contagem dos homicídios não escondem uma realidade preocupante: muitas pessoas estão perdendo a vida no trânsito.

Especialista em trânsito e professor da Pontifícia Uni­­ver­­sidade Católica do Paraná (PUCPR), José Mario de Andrade reforça que o combate às mortes no trânsito é complexo por envolver três diferentes demandas, intimamente li­­gadas e geralmente deficitárias: fiscalização ostensiva, infraestrutura urbana adequada e educação dos motoristas.

“Mas a principal questão é comportamental”, diz. “O Código de Trânsito estabelece que o automóvel precisa respeitar os veículos menores, como bicicletas. É lei. Ou eu me comporto as­­sim, ou essa lei será inócua”, analisa.

Ninguém está livre

O mestre em Psicologia e integrante do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Diogo Picchioni Soares lembra ainda que mesmo o motorista habilidoso, com reflexos rápidos, não está livre de envolver outros em acidentes.

“A violência está ligada, entre outros fatores, a uma falta de percepção que as pes­­soas têm da carac­­terística coletiva do trânsito. Em geral, elas es­­tão preocupadas apenas com seu próprio deslocamento individual”, afirma. (GP)

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