quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ciganos: Retratos de um povo esquecido

Márcio Lima dá um excelente exemplo de como se desconstrói – palavra muito usada nesses tempos sombrios – um preconceito, filho dileto da ignorância. Com a ajuda de um patrocínio da Funarte passou um ano a fotografar um povo esquecido e espezinhado: os ciganos. Nômades, suas origens não são muito claras. São chamados por diferentes nomes: para os de língua inglesa gypsies (de egyptian), boêmios para os franceses, flamengos ou gitanos para os espanhóis, tatars para os suecos. A si próprios denominam-se pelo nome Rom (Romani) que quer dizer homem. Aos não ciganos chamam gadje, daí o gajo da lingua portuguesa. Estima-se que saíram do nordeste da Índia por volta do primeiro milênio da nossa era. Seriam da casta mais baixa – segundo a primitiva divisão indiana de castas – e foram em direção à Pérsia, à Arménia, à Siria, ao Egito, à Palestina. Daí à Grécia, à Creta, aos Bálcans. Em 1417 chegaram à Alemanha depois de ter passado pela Hungria, Áustria e Boêmia. Por volta de 1415 já estavam na Península Ibérica e em 1500 já teriam alcançado a Inglaterra. Espalharam-se pelo velho e pelo novo mundo: ao Brasil teriam chegado no final do século XVI. Conta-se com cerca de um milhão de ciganos no país. Para chegar até algumas comunidades baianas, Márcio teve que percorrer tortuoso caminho. Com o preconceito que existe para com o seu povo, há já muito tempo, o cigano é desconfiado, arredio. Depois de muitos contatos e conversas intermediadas foi-lhe permitido fotografar. O começo foi difícil, principalmente com as mulheres. Um instantâneo era praticamente impossível. Não queriam ser pegas desprevinidas, sem a roupa adequada, a maquiagem feita, a escolha do cenário a frente do qual iriam posar. Qualquer tentativa de fotografá-las sem a devida preparação gerava corre-corre, gritos, ameaças e pragas. O respeito aos costumes, as conversas de começo de noite, o interesse efetivo para com as pessoas, as horas passadas em convivência, o tempo, tudo isso convergiu para a abertura, para o entendimento, para a amizade. Márcio foi então convidado para fotografar uma das cerimônias mais importantes dos ciganos: o casamento. As fotos que esta Ideias publica são uma pequena mostra do grande, belíssimo e inventivo trabalho que Márcio Lima realizou. Aqueles a quem a fotografia representa mais que um simples registro, mas um documento humano e uma visão do mundo de um artista, recomendo o acesso a www.arcapress.org/marciolima/. Neste site poderão ver muito mais do sensível trabalho fotográfico que Márcio Lima realizou. A convivência que teve com a comunidade cigana em Utinga, Muritiba e na Ilha de Itaparica mostrou-lhe um povo digno que apesar de todo o preconceito que sofre, luta e conserva os seus costumes e tradições seculares. (Revista Idéias)



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