terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os negócios sujos de banqueiros estadunidenses e dirigentes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial

VLADÍMIR SIMONOV[*]

Enquanto o mundo inteiro e sobretudo as tropas soviéticas lutavam encarniçadamente para destruir a barbárie nazista, e mesmo em 1945, quando os exércitos russos e norte-americanos confraternizavam na Alemanha, uma parte considerável da cúpula bancária estadunidense fazia frutíferas e milionárias negociatas com os dirigentes nazistas. Uma história incrível, contada no livro do historiador norte-americano Charles Higham “Negociando com o Inimigo - Desmascaramento do complô monetário nazi-estadunidense de 1939-1949”. (Ed. Doubleday, USA, 1982, ISBN:0385290802).

Em 25 de abril de 1945, enquanto às margens do rio Elba, ao sul da Alemanha, realizava-se o histórico encontro das tropas soviéticas e norte-americanas, que colocava uma pedra sobre qualquer pretensão nazista de continuar a guerra, em São Francisco inaugurou-se uma conferência internacional convocada para instituir a Organização das Nações Unidas, chamada a impor a paz o mais rapidamente possível no temerário mundo novo que surgia com o fim da guerra. Nessa mesma época, em seu escritório do The New York Times o jornalista Charles Higham, posteriormente um reconhecido historiador norte-americano, iniciava a tarefa de sua vida: um estudo que então parecia ser herético, e ainda hoje o parece para alguns, e que resultaria no sensacional livro “Negociando com o Inimigo”.

Havia o que desmascarar, como se concluiu. A partir do que Higham encontrou nos documentos do Arquivo Nacional dos EUA, depois que se deu livre acesso a eles, e também em outras fontes, surgiu um quadro vergonhoso. Tratava-se da cooperação que os pilares da “livre empresa” norte-americana mantiveram com Hitler durante a guerra: grandes corporações como “Standard Oil of New Jersey”, “Chase Manhattan Bank”, “Texas Company”, “International Telephone and Telegraph Corporation”, “Ford”, “Sterling Products” e muitas outras.

Segundos as provas documentais que o autor de “Negociando com o Inimigo” levanta, tal cooperação não despertava desaprovação por parte da Administração dos EUA do período da guerra, incluídos o titular do Comércio, Jesse H. Jones; o da Fazenda, Henry Morgenthau, e altos funcionários do Departamento de Estado. (De fato, as “negociações com o inimigo” foram legalizadas pela Ordem Executiva 8389, pela qual o Secretário do Tesouro dos EUA ganhou poderes para autorizar os negócios com as potências do Eixo.) [N.T.]

Vejamos algumas dessas transações do ponto de vista dos soldados da Segunda Guerra Mundial:

Enquanto as tropas abriam caminho até o Elba, para encontrar-se com os russos, enquanto os norte-americanos nos EUA e os ingleses na Grã-Bretanha faziam filas nos postos de combustíveis, “Standart Oil of New Jersey” enviava petróleo através da “neutra” Suíça para que os blindados alemães enchessem seus tanques.

Enquanto os soldados dos Exércitos aliados avançavam sobre o Elba, contra eles de vez em quando abriam fogo em vôo rasante aviões da Luftwaffe, equipados com motores que se fabricavam em série nas empresas “Ford” localizadas na Europa ocupada.

A empresa estadounidense, incluindo sua poderosa sucursal instalada próxima a Paris, em Poissy, seguiu fabricando durante toda a guerra motores de aviação, caminhões e automóveis. Fabricavam para a Alemanha nazista, certamente. E o faziam sob a permissão de seus proprietários estadunidenses, está claro.

No início do ano, nos comprometemos a fazer o máximo para alcançar a vitória definitiva”, assegurava um folheto editado numa empresa “Ford” localizada na Alemanha.

Enquanto os soldados avançavam até o Elba, Walter Schellenberg, chefe do Serviço de Contra-espionagem da Gestapo, atuava ao mesmo tempo como um dos diretores da estadounidense «International Telephone and Telegraph Corporation» (ITT). Como pode averiguar o autor de “Negociando com o Inimigo”, o presidente da ITT, Sosthenes Behn, viajou pessoalmente de Nova Iorque a Madrí e Berna durante a guerra, com a finalidade de debater o tema do aperfeiçoamento dos sistemas de comunicações do Exército Alemão.

Em março de 1944, enquanto os soldados avançavam até o Elba, Thomas McKittrik, presidente estadounidense do Banco de Operações Internacionais (BIS) da Suíça, controlado pelos nazistas, chegou ao seu escritório de Basiléia, Suíça, para presidir a reunião anual de seus diretores, a quarta durante a guerra. Junto com Emil Puhl, emissário de Hitler, ele debateu assuntos relacionados com a chegada aos depósitos do Banco de lingotes de ouro, de 20 quilogramas cada um, no valor de 378 milhões de dólares.

O tal ouro fora roubado dos bancos dos países ocupados. Segundo Charles Higham, o ouro provinha também de jóias, anéis, cigarreiras e dentes de presos dos campos de concentração nazistas, fundido nos porões do Reichsbank. Já em março de 1943, o congressista Jerry Voorhis propôs a adoção de uma resolução em que se exigisse uma investigação sobre as operações efetuadas pelo BIS.

A ele interessavam “as causas, pelas quais um cidadão dos EUA segue ocupando o posto de presidente desse banco e é utilizado para promover os interesses e objetivos das potências do ‘eixo’ “. Mas o Congresso não quis aprovar a proposta de Voorhis.

Essas são apenas algumas histórias documentais tomadas do livro “Negociando com o inimigo”. Histórias como essas abundam no livro, uma mais surpreendente que a outra.

É forçoso lembrar de suas páginas, ao ler hoje em dia as lamentações de certos autores – russos inclusive – sobre a dificuldade dos aliados ocidentais de formarem uma aliança com “o diabo” Stalin. Os Estados Unidos, dizem eles, tiveram que diminuir sua cantilena democrática para estender a mão durante a guerra ao “despótico” regime dos Sovietes. Deste ponto-de-vista, o “lend-lease” [1] e a memorável operação “Frantik”, durante a qual as “fortalezas volantes” estadunidenses decolavam dos aeroportos do campo de Poltava para efetuar bombardeios “de atiradeira”, significaram a imolação dos princípios ocidentais de democracia e liberdade...

[1] Segundo definição do The Merriam Webster Dictionary: “a transferência de bens e serviços a um aliado para colaborar numa causa comum, com pagamento feito pela devolução dos ítens, seu uso na causa, ou por uma transferência semelhante de outros bens e serviços”. A correspondência de guerra entre Stalin e os aliados Roosevelt e Churchill deixa claro o “empenho” realizado no “lend-lease”...

[*] Vladímir Simonov é comentarista de assuntos políticos e analista.

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