quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ministro dos Transporte se demite, mas Dilma manterá cargo com PR

Suspeito de participar de um esquema de corrupção no Ministério dos Transportes em favor do partido que preside, o PR, e sentindo-se sem condições políticas de sobreviver à frente do órgão, o senador Alfredo Nascimento (AM) pediu demissão do cargo de ministro nesta quarta-feira (06/07), em carta enviada à presidenta Dilma Rousseff.

O cargo será ocupado interinamente pelo secretário-executivo da pasta, Paulo Sérgio Passos, até que Dilma decida, junto com o Partido da República (PR), quem será o novo ministro. “Os cargos são do PR”, disse à Carta Maior um ministro, ao explicar a preocupação da presidenta: evitar que o caso contamine as relações políticas dela com o PR.

Os “cargos” citados pelo ministro são o de Nascimento e o de quatro dirigentes do mesmo órgão afastados depois de uma reportagem afirmar que existiria nos Transportes um esquema de desvio de verba para o PR, que comanda a pasta desde 2003.

Saíram os presidentes do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) e da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias. Os dois órgãos são os responsáveis por executar – e, portanto, pagar – obras rodoviárias e ferroviárias, respectivamente. Também deixaram o governo o chefe de gabinete de Alfredo Nascimento e um assessor especial do ex-ministro.

Segundo Carta Maior apurou, a presidenta não só não tem intenção de tirar o PR do ministério dos Transportes, como topa negociar com o partido a escolha do futuro ministro e de substitutos para outros quatro dirigentes. Quer evitar se indispor com uma legenda que, com 40 deputados federais (total: 513), é a sexta maior bancada na Câmara e líder de um bloco que só perde para PT e PMDB em tamanho. E que tem seis senadores (total de 81), agora com Nascimento de volta ao Senado.

O PR não gostou de Dilma ter mandado Nascimento demitir auxiliares tão logo a denúncia ter sido publicada. Interpretaram a postura da presidenta como uma tentativa dela de aproveitar o clima criado para botar o PR para fora do ministério e do governo.

Antes de Nascimento mandar carta de demissão à presidenta, a ministra da Secretaria de Relações institucionais, Ideli Salvatti, havia combinado uma reunião com parlamentares do PR para tomar o pulso dos aliados. Preocupava-se com o que havia identificado, em jornais, como uma certa disposição do PR para revidar contra o Planalto, que não teria mostrado interesse em preservar Nascimento.

Mas os próprios integrantes do partido reconheciam que a situação de Nascimento estava complicada e que a permanência dele no cargo, nestas condições, poderia não trazer nenhum benefício ao PR. Nesta quarta-feira (06/07), uma nova reportagem mostrou que, no Amazonas, terra natal dele, existe uma investigação do Ministério Público sobre a súbita riqueza de um filho do ex-ministro.

Para Nascimento, ficar nestas circunstâncias (imprensa na cola, correligionários inseguros, sindicância acompanhada por um órgão externo, a Controladoria Geral da União),seria insustentável. De volta ao dia a dia da presidência do PR, o ex-ministro poderá até participar do processo de escolha do sucessor.

Até que Dilma e o PR encontrem o substituto, o cargo será ocupado pelo secretário-executivo. Paulo Sérgio Passos manteve boa relação com Dilma no governo Lula por causa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Era ele quem estava mais inteirado, do ponto de vista gerencial, do andamento das obras e que as discutia com a Casa Civil de Dilma.

Na nota oficial que comunicou a decisão de Nascimento de deixar o governo, o ministério dos Transportes disse que ele pediria à Procuradoria Geral da República para ser investigado e que autorizava a quebra de seus sigilos fiscal e bancários. Partidos adversários do governo já haviam solicitado à Procuradoria instalação de inquérito contra ele. (Carta Maior)

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