quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sustentar o que?

Tatiana Achcar

O sistema está em pane. E muita gente anda de cabelo em pé com a sustentabilidade do planeta. Ongs, empresas, governos, mídia e indivíduos propõem projetos, eventos, debates e ações para corrigir os danos ambientais e sociais que a lógica desse sistema tem causado.

As pessoas se preocupam com o impacto de seus hábitos de consumo, as empresas se preocupam com a sua imagem e com a eficiência econômica de suas atividades: usam papel reciclado, patrocinam eventos de conscientização, financiam projetos em comunidades carentes, elaboraram planos de redução de poluentes, substituem alguma matéria prima por uma bio-alguma-coisa, carimbam um selo verde no final. O esforço pode até amenizar o impacto da degradação socioambiental e economizar alguns cifrões, mas não resolve o problema.

O modo de produção industrial é ecologicamente insustentável porque é linear: extrai matéria-prima, processa, industrializa, vende, descarta. Ou seja, explora, degrada, polui e manda o lixo para algum lugar bem longe e bem pobre. Ou você acha que existiriam Dinamarcas se não houvessem Haitis, Congos e Indonésias?

Na natureza, o arranjo é cíclico e interligado, não esgota nada, nem transforma nenhuma substância em um risco tóxico para os seres. Ela conecta as regiões, a matéria e a vida em rede. A sociedade desse sistema linear já não sabe mais o que fazer com tanto lixo, mas teme o dia em que os recursos necessários para garantir sua existência simplesmente desapareçam.

Portanto, incentivar o consumo consciente, substituir matérias primas por outras mais ecológicas ou reciclar é enxergar apenas a ponta do iceberg. Elas não são nem nunca serão suficientes para sanar o problema porque perpetuam um sistema insustentável. Não basta transformar o problema em algo novo e sustentável. Não é um detalhe que faz o projeto ser defeituoso, mas a sua concepção.

A mudança do Código Florestal, que regulamenta as áreas de proteção ambiental em propriedades rurais, acentua a exploração das florestas para atender a bancada ruralista e o agronegócio e prova que o sistema como um todo é um equívoco.

Perpetua a alienação do processo de produção de alimentos, porque poucos têm controle sobre ele e mantém o consumo de alimentos feitos com altas doses de agrotóxicos que degradam o meio ambiente, comprometem a saúde do agricultor, viciam o paladar, debilitam organismo, causam doenças e dependências a remédios e tratamentos. Criam enfim populações famintas e nações obesas.

O que aconteceu para que deixássemos a vida interligada e em harmonia com a natureza para adotar uma vida em guerra com ela? O que aconteceu para que passássemos a viver em ambientes artificiais e insalubres, com uma população que cresce de maneira descontrolada, alimentada por uma produção insustentável? Nessa toada, restará apenas uma enorme população humana, cercada somente pelos vegetais e animais domesticados que lhe serve de alimento.

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