sábado, 9 de abril de 2011

CIA treina mercenários nos EUA contra Kadafi há mais de 20 anos


O "líder militar rebelde" da Líbia é um agente da CIA que viveu nos últimos 20 anos na Virgínia, bem próximo da sede central da Agência e encabeça uma gang de mercenários pró-EUA desde 1988

"O chefe militar rebelde" da Líbia é um agente da CIA de longa data - admitiram jornais dos EUA e Inglaterra - e viveu nos últimos 20 anos nos EUA, no estado da Virgínia, não muito longe da sede da Agência. A ficha corrida do coronel Kalifa Haftar apareceu em despachos da Reuters, após a Fundação Jamestown publicar estudo registrando que o colaboracionista encabeça desde 1988 uma organização de mercenários pró-EUA, mantida e treinada pela CIA, o assim chamado "Exército Nacional Líbio" (LNA, na sigla em inglês). Na semana passada, a CIA foi ao Congresso jurar que estava enviando pessoal de campo, para descobrir "quem são" os rebeldes.

Assim, Haftar já estava a serviço da CIA dois anos após a tentativa do governo Reagan de assassinar o líder Muamar Kadafi no bombardeio a sua casa. A deserção se deu depois de suposto e mal contado episódio, em que teria sido "abandonado" no vizinho Chad – à época, sob o governo de Hissene Habre, e peão da França e EUA para provocações contra a Líbia. Quando Habre foi derrubado em 1990, a CIA retirou, de avião, Haftar e mais 300 mercenários, em um périplo que seguiu pela Nigéria, o então Zaire, o Quênia, e finalmente, os EUA, estado de Virginia. O estudo da Jamestown – que é elogioso a Haftar -, cita, ainda, entrevista de 1991 com o mercenário, realizada num campo de treinamento na Virgínia.

Foi Haftar que, como assinalou a CNN, chegou em 14 de março a Benghazi "para assumir o comando da caótica campanha militar dos rebeldes". Mas Haftar não é o único "homem dos americanos". O "Wall Street Journal" fornece alentada informação a respeito dos integrantes do "Conselho Interino" que as gangs formaram. Mahmud Jabril, que é o relações públicas externo – dizer chanceler seria demais -, é PHD em "planejamento externo" da Universidade de Pittsburg, e viveu décadas nos EUA. Fatih Al Bahja: "professor de ciência política educado nos EUA". Não faltam monarquistas saudosos, como o descendente do último rei, e ex-preso, Zubeir Ahmed Sherif; Al Abdar, "empresário à frente de uma empresa de importação de alimentos" com "laços históricos" com a realeza; e Selway Dughaily, advogada, de "uma proeminente família da Líbia oriental". E os advogados Abdullah al Meihoub, Abdel Hafeez Goga e Fatih Terbil – este, apresentado como "representante da juventude".

Quem "preside" o Conselho Interino é o ex-ministro da Justiça, Mustafá Abdel Jalil, a quem Kadafi delegara negociar uma solução e trocou de lado. Jalil apelou pela "ajuda ocidental" e asseverou "que as companhias internacionais na Líbia, as companhias de petróleo, todas elas estão seguras". Outra figura de peso no conselho é o ex-ministro do comércio e diplomata Ali al Issawi, que fora cortejado por multinacionais interessadas em especulação imobiliária na Líbia. "Ao porem Jabril e Issawi na lista, eles estão enviando uma mensagem às companhias estrangeiras de que o futuro governo da Líbia está interessado em investimento externo e privatização", assinalou Jason Pack, um especialista em Líbia da Universidade de Oxford, e que tem prestado consultoria às multinacionais sobre o país árabe. Completando a lista e – no caso – em disputa com o coronel Haftar, o general da reserva Omar Hariri, que organizou em 1975 um golpe de estado, fracassou e foi em cana.

Além dessas figuras, há ainda aqueles sobre quem, segundo o vice-secretário de Estado James Steinberg "só é possível falar a portas fechadas". Indagado por um deputado democrata, assim ele se referiu a Abdel Hakim al Hasady, tido como operativo do LIFG – Grupo Líbio de Combate Islâmico, organização sobre a qual há denúncias de ligações com a Al Qaeda. Segundo o ex-agente do serviço secreto inglês MI5, David Shayler, o LIFG foi usado em 1995 por Londres e pela CIA na tentativa de derrubar o regime de Kadafi, o que causou dezenas de mortos em Benghazi, e também em 1996, com novo intento de assassinato do líder líbio.

MADE IN OTAN

Com tudo isso, é possível que tenham achado que a Líbia ia ser uma presa fácil, ou que poderiam, só no grito, transformar a revolução anti-EUA que agita as nações árabes, no seu contrário, uma contrarrevolução made in Otan "para defender os civis", saquear o petróleo e dar uma sobrevida a protetorados medievais.

As "manifestações" desta segunda-feira em Benghazi pelas "bombas da Otan" no lombo dos líbios são bem típicas dessa gente. Não é a primeira vez que os "combatentes da liberdade" que a CIA arruma fedem aos esgotos de onde saíram, vide a Baía dos Porcos, mas a performance das gangs que tentam assaltar o poder na Líbia, sob o guarda-chuva da Otan, tem chamado a atenção. Uma agência de notícias descreveu a patética cena em que, após pesado bombardeio da Otan e recuo das forças legalistas, a trupe de bandoleiros em picapes se lançou ao ataque, esbravejando e posando para os jornalistas, para, ainda mais rápido, sair corrida a tiros. Parece "tipos saídos do filme Mad Max", comparou um jornal inglês, sobre os pupilos do coronel Haftar. (HP)

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