quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PMDB repete sob Dilma a tática que usou contra FHC


A despeito da proximidade do Carnaval, o PMDB escolheu como trilha sonora deste início de governo Dilma Rousseff um tango.

Chama-se Receso em el alma. Soou na vitrola depois que o PT tentou imprimir às nomeações um ritmo de toque de caixa.

Tirada para a contradança, Dilma adiou o preenchimento dos cargos para depois dos desfiles das escolas de samba.

Até lá, o balé de elefantes em que se converteu a ocupação do governo viverá uma espécie de recesso.

Para entender a tática portenha do partido do vice Michel Temer é preciso folhear os jornais velhos.

Recuando-se até abril de 1995, início do primeiro reinado de FHC, vai-se encontrar um PMDB ingualzinho ao de hoje.

FHC enviara ao Congresso um projeto fixando o valor do salário mínimo que vigoraria no mês seguinte. Simultaneamente, rateavam-se os cargos.

Propunha-se à época uma elevação do mínimo de R$ 70 para R$ 100. Para não comprometer a Previdência, sugeria-se também uma elevação de alíquotas.

O PMDB de FHC ameaçava aprovar o mínimo e rejeitar o tônico que forraria as arcas previdenciárias. Algo que o governo considerava inadmissível.

Ocupava a liderança do PMDB na Câmara Michel Temer, à época um deputado de alma tucana.

Numa notícia veiculada em 20 de abril de 1995, os repórteres Vivaldo de Sousa e Silvana Quaglio anotaram frase do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

Geddel explicava, didaticamente, os motivos da ameaça de sublevação de seu partido:

"A bancada está nervosa por causa do imobilismo e da inoperância do governo e os cargos entram nisso. O governo só responde com não para qualquer pleito".

Na noite da véspera, o par de projetos (mínimo + alíquotas da Previdência) fora a voto no plenário da Câmara.

O PMDB esticou a corda até a última virada do relógio. Em defesa do governo, Temer viu-se compelido a requerer o adiamento da sessão.

Ao final, o PMDB entregou ao governo a maioria dos 107 votos de que dispunha na Câmara. Os projetos foram aprovados.

FHC encontrava-se nos EUA. No comando do Planalto, o vice Marco Macial, do ex-PFL, teve de rebolar para conter a rebelião, que contagiava sua legenda.

Um exemplo: Maciel ordenou ao então presidente da Caixa, Sérgio Cutolo, a suspensão de um plano de enxugamento de cargos.

Cutolo pretendia extinguir superintendências regionais da instituição financeira estatal. Deu meia-volta.

Instado por Maciel a aguardar pelo retorno de FHC, o mandachuva da Caixa teve de dançar ao ritmo de Receso em el alma.

Cinco dias depois, os projetos do mínimo e da Previdência seriam aprovados também no Senado. Com os votos do PMDB e do PFL.

Em 2 de maio, já de volta a Brasília, FHC inaugurou o seu programa semanal de rádio. Celebrou a primeira conquista de sua gestão.

Espécie de precursor do “nunca antes na história desse país”, misturou o mínimo ao câmbio irreal que vigorava na época do início do Real:

“O salário mínimo vale cem reais! Mais do que cem dólares. Foi um dos maiores aumentos, em toda a história do Brasil!”

Longe do microfone, FHC entregou ao PMDB e adjacências os cargos solicitados. O que não o livrou de arrostar outras crises.

No mercado persa que norteia a política, os apetite$ jamais são saciados. Agora, o jogo agora inclui o ex-oposicionista PT, tão fisiológico quanto o velho PMDB.

Dilma experimenta do veneno com a certeza de que arrancará do Congresso o salário mínimo que deseja. Sua convicção decorre do fato de já ter aprendido a dançar o tango.

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