sábado, 4 de dezembro de 2010

CIA: Os agentes que aprenderam truques de mágica

POLLIANNA MILAN

A agência de investigação americana começa a abrir sua caixa preta. Documentos revelam segredos da magia utilizados na espionagem

É difícil imaginar, mas aconteceu na maior agência de investigação dos Estados Unidos: um mágico foi contratado de 1947 até 1973 para ensinar aos agentes da CIA (Central Intelligence Agency) truques sobre como enganar a “plateia”. No caso da espionagem, as técnicas foram usadas para iludir o inimigo. Habilidosos nas mãos, os mágicos escondem debaixo das mangas do casaco os segredos para conseguir fazer a mágica sem que ela seja descoberta. Foi a partir deste conceito que os espiões aprenderam com John Mulhol­land como colocar, por exemplo, uma pílula mortal no copo de um inimigo sem que ele percebesse.

Os espiões também conseguiram, depois das aulas com o ilusionista, tirar fotos com uma microcâmera sem que ninguém notasse – assim que a foto era feita, o miniequipamento rolava automaticamente para dentro da manga porque estava preso em uma espécie de fita elástica. O manual de Mulholland (em dois volumes), que estava perdido há muito tempo, foi encontrado em 2007 durante uma pesquisa de manuais da CIA. Trata-se de cópia única e hoje faz parte do acervo histórico da agência. Os papéis sobreviveram à ordem de 1973 do então diretor da CIA, Richard Helms, de destruir todos os documentos referentes ao projeto Mkultra.

“Da mesma forma que os métodos empregados pelos mágicos iludem uma plateia muito atenta, um agente secreto, ao realizar um trabalho de espionagem, deve iludir a vigilância intensa e transmitir mensagens e material sem detecção”, afirma o consultor histórico da CIA Keith Melton, um dos autores do livro CIA: manual oficial de truques e espionagem.

Conheça alguns truques

As técnicas que hoje parecem bizarras, conforme explica Melton, foram alternativas à falta de tecnologia do período. Foi Mulholland que ensinou aos espiões como criar tanques infláveis de borracha para iludir a visão do inimigo: eles enganavam os olhos, enquanto os verdadeiros tanques de guerra estavam disfarçados com uma estrutura de madeira para se parecer com caminhão de transporte. Estes tanques perdiam suas coberturas e reapareciam no campo de batalha como se fosse uma mágica.

A técnica de troca de identidade também foi bem sucedida em Moscou. Um agente secreto norteamericano, ao planejar um encontro clandestino com um espião importante, teve de assegurar que não ficaria sujeito à vigilância. Para isso, ele coreografou uma performance com seu colega de trabalho, que era parecido com ele. Durante um evento oficial, em que os dois estavam presentes, o sósia conseguiu despistar os vigilantes do agente.

Aliás, a ideia de troca de identidade, pelo menos com os animais, não era tão nova assim. Durante a 2.ª Guerra Mundial, a divisão de operações especiais britânica criou uma camuflagem inovadora para os paraquedistas lançados secretamente sobre a França ocupada por alemães. Uma vaca de borracha, construída em duas peças, desmontável, era pintada e o espião pousava em área onde tivesse gado. Depois de estar seguro com o disfarce, ele o enterrava e seguia adiante.

Foi também na CIA que charutos cubanos foram fabricados com mortíferos para matar o comunista Fidel Castro – a tentativa, porém, teria sido abortada. Pasta de dente também foi usada como esconderijo para minirevólveres de calibre 22. Foi nesta embalagem também que um veneno foi implantado para depois a pasta ser colocada entre os artigos de higiene do presidente do Congo, Patrice Lumumba, em 1960. O plano, de última ho­­ra, teria sido rejeitado. A CIA desenvolveu ainda dardos disparados por pistolas que eram mais discretos que um fio de cabelo: não deixavam sinais no corpo das vítimas durante a autópsia. Outros lança-dardos foram feitos dentro de canetas tinteiros, bengalas e guarda-chuvas.

Hoje não se sabe se há mágicos infiltrados na CIA. O ilusionista Mulholland morreu em 1970 e, só em 1977, sua função na CIA foi descoberta, quando os documentos deixaram de ser confidenciais por causa da lei da liberdade de imprensa, que dá direito ao acesso a estes documentos.

Segundo Melton, o mágico teria sido o único contratado pela CIA até então e ensinou aos agentes que o sucesso deles dependia do fato de que ninguém deveria reconhecê-los como trapaceiros. Por isso, técnicas de ilusão para entrega de pílulas, pós e poções pela CIA eram para serem feitas clandestinamente, mas na vista de todo mundo.

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