quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mulheres, negros e deficientes ainda são minoria nas maiores 500 maiores empresas do país


DANIELLA CORNACHIONE/REVISTA ÉPOCA

Pesquisa divulgada pelo Instituto Ethos e Ibope Inteligência mostra descompasso entre a sociedade e o quadro de funcionários

A participação das mulheres, dos negros e dos deficientes físicos dentro das maiores empresas do Brasil continua pequena. Muito mais do que deveria, se comparada às proporções da população. Nesta quinta-feira (11), o Instituto Ethos e o Ibope Inteligência divulgaram uma pesquisa com o perfil social, racial e de gênero das 500 maiores companhias do país. Pouca coisa mudou em relação ao último levantamento, de 2007. A fatia das mulheres cresceu menos que a dos negros. Somente nos postos de diretoria a participação delas aumentou, de 11,5% para 13,7% (são 200 mulheres entre 1500 executivos). “A inserção vem crescendo desde o primeiro levantamento, feito em 2001. Mas a importância delas na sociedade não é refletida nos cargos que ocupam. E isso acontece com todos os grupos, em menor gravidade”, afirma Jorge Abrahão, presidente do Ethos. No nível de gerência, se 17,4% dos postos eram ocupados por negros (pretos e pardos) há três anos, hoje são 25,6% entre a amostra total, de 13 mil pessoas.

Existem várias hipóteses para explicar por que as “minorias” (que no caso das mulheres e dos negros são metade da população) ainda não foram incluídas no quadro das empresas. Há o preconceito social, que pode vir acompanhado de uma desconfiança no potencial do empregado. É mais difícil encontrar pessoas de um dos três grupos nas instâncias superiores, historicamente ocupadas por homens brancos. “É como se existisse um afunilamente hierárquico. Quanto mais alto o cargo, menor a participação. Pode ser um princípio de precaução, de apostar em algo que já é conhecido”, afirma Abrahão. No caso das mulheres há ainda outra possível explicação: 9% das empresas mencionaram que elas não têm interesse nos cargos que lhe são oferecidos. Conciliar trabalho e família ainda é mais difícil para a mulher.

O receio dos empregadores em contratar mulheres para postos de alto escalão não pode ser justificado em termos concretos. A mesma pesquisa lembrou que elas, em média, estudam mais do que os homens: 7,4 anos em comparação a 7. Elas são maioria entre os que se formam no ensino médio e na universidade. “Se a contratação fosse cega, sem nome ou gênero, provavelmente muito mais mulheres seriam contratadas”, afirma Abrahão. Quanto aos deficientes físicos (que ocupam apenas 1,5% do quadro geral das empresas), a reclamação é sobre a dificuldade de encontrar pessoas qualificadas para os cargos oferecidos. A mesma “desculpa” é dada aos negros. No universo dos entrevistados, o grupo que de fato é minoria (foram encontradas apenas seis pessoas com o perfil) é o de mulheres negras em cargos de alta chefia. As seis executivas, que são todas pardas, na verdade, representam 25% da população brasileira (formada por mulheres negras).

O objetivo da pesquisa, que normalmente é feita a cada dois anos, é mostrar para as empresas a importância da inclusão social. Divulgando as proporções da desigualdade, o Instituto Ethos espera estimular a inserção das “minorias” em todos os níveis de cargos. "Esses estudos podem aproximar as empresas dos movimentos que estão acontecendo na sociedade. Queremos incentivar a criação de políticas afirmativas", afirma Abrahão. Das 500 empresas que receberam os questionários, 109 responderam. Mais de 620 mil funcionários participaram do estudo, feito entre fevereiro e junho de 2010.

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles