segunda-feira, 12 de março de 2012

Contrariada, Força Sindical critica governo

O sinal mais claro de que as relações entre a presidente Dilma Rousseff e uma ala importante do PDT estão estremecidas foi emitido ontem. A Força Sindical, segunda maior central sindical do país e ligada ao PDT, editou nota com pesada crítica à política econômica do governo, a qual chamou de "equivocada" e razão por trás do crescimento "pífio" verificado na economia desde o início do mandato de Dilma, no ano passado.

A nota foi a primeira crítica explícita da Força Sindical ao governo federal desde o início de 2007, quando o presidente da central, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), passou a apoiar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na nota assinada por Pereira, a Força Sindical afirma que o avanço de apenas 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, divulgado ontem pelo governo, foi "pífio" e "decepcionante para toda a sociedade brasileira". De acordo com ele, para evitar uma "situação desastrosa", o governo precisa cortar mais fortemente a taxa básica de juros. Desde 31 de agosto do ano passado, o Banco Central já reduziu a Selic em dois pontos percentuais.

Hoje, o BC volta a anunciar outra provável redução dos juros. Ainda assim, cinco centrais sindicais, capitaneadas pela Força, vão fazer uma manifestação hoje cedo em São Paulo contra o "crescimento econômico ridículo, e os juros abusivos", nas palavras de um dirigente da central na capital paulista.

De 2007 a dezembro de 2011, o Ministério do Trabalho, comandado por Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, passou a "reconhecer" as centrais sindicais - o que representou o repasse de R$ 350 milhões a título de 10% do que é arrecadado com o imposto sindical com as centrais, excluídas do bolo financeiro até 2008. Paulo Pereira da Silva, que declarou apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) nas eleições contra Lula em 2006, migrou para o campo governista em 2007, e passou a ser o principal interlocutor do governo com o Congresso na área sindical.

Mas a relação entre o presidente da Força e Dilma, que "nunca fluiu", como disse ao Valor um dirigente da Força, "azedou".

Dilma deseja nomear para o Ministério do Trabalho o deputado Viera da Cunha (PDT-RS), amigo antigo da presidente. Cunha, no entanto, foi vetado por Paulo Pereira da Silva, que indicou a Dilma o deputado estadual Manoel Dias (PDT-SP) - preferido também por Carlos Lupi. Na semana passada, o Palácio do Planalto chegou a procurar parlamentares, como Roberto Lucena (PV-SP), para sondar quanto a possibilidade de outro deputado, Hugo Leal (PSC-RJ), assumir o ministério. Leal, tal qual Cunha, é amigo antigo de Dilma e de seu ex-marido, Carlos Araújo.

Ao mesmo tempo em que o governo "fraqueja", nas palavras de um líder sindical pedetista, para decidir quem será o ministro do Trabalho, Paulo Pereira da Silva e Lupi negociam com os tucanos em São Paulo e Minas Gerais. Ambos se reuniram com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo), no dia 27 de fevereiro, por quase duas horas, para selar a indicação de Carlos Andreu Ortiz, diretor da Força Sindical e integrante do PDT, à Secretaria de Emprego e Trabalho no Estado.

Paulo Pereira da Silva é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, e segundo pesquisas recentes, conta com cerca de 10% dos votos. Na Força, especula-se que seu apoio num eventual segundo turno entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), será decisivo para um dos lados. Um dirigente nacional da central resume a estratégia: "Se Dilma seguir Paulinho na definição do Ministério do Trabalho, Haddad certamente terá maior boa vontade do PDT. Caso a presidente tome outra decisão, a relação azeda vai estragar." (FS)


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