quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Gravidez na adolescência tem menor taxa desde 1994

Historicamente carente de investimentos e de atenção, a área de infância e juventude no Brasil tem algo a comemorar: a pro­­porção de meninas entre 10 e 19 anos que engravidam tem diminuído no país, e atingiu a menor taxa desde 1994, quando o Ministério da Saúde passou a compilar dados sobre o assunto. O número está em queda desde os anos 2000.

Em 2010, 19,3% dos bebês nascidos vivos eram de mães nessa faixa de idade, contra mais de 23% nos primeiros anos da década passada. No Paraná, a situação é semelhante: a proporção foi a menor registrada em 17 anos – 19,1% dos bebês paranaenses nasceram de mães com até 19 anos. O declínio ocorre desde 1998, quando o índice chegou a 22,8%, o maior de todos os anos.

Para quem acompanha o tema, mudanças no ambiente escolar foram responsáveis por uma parcela deste avanço. A introdução de aulas sobre direitos sexuais e reprodutivos nos colégios, visando a frear o índice de contaminação por HIV entre os jovens, tornou-se o melhor canal para evitar também a gravidez. “Não há nada melhor e mais eficiente do que educar”, avalia o médico ginecologista e obstetra da Maternidade Vitor Ferreira do Amaral, em Curitiba, Fernando César de Oliveira Júnior.

A educação, de acordo com Oliveira Júnior, tem duplo efeito positivo sobre as jovens. Além de esclarecer sobre os métodos contraceptivos e os riscos de uma gravidez precoce, o ensino abre oportunidades que ajudam a afastar as adolescentes da ideia de ser mãe antes do tempo, principalmente nas camadas mais pobres. “Para muitas, ter um diploma e uma carreira são sonhos distantes.”

Mais diálogo

Outro aspecto importante para a diminuição nas taxas é algo pouco mensurável, mas muito percebido por médicos ginecologistas: maior diálogo em casa. Com o bombardeio de conteúdo erótico na internet e na televisão, os pais estão se dando conta de que é preciso orientar e têm buscado mais a supervisão dos médicos. Esta é a opinião do obstetra Marcelo Guimarães, do Hospital Evangé-lico, em Curitiba.

“As mães estão trazendo as filhas para a primeira consulta antes mesmo da primeira menstruação. Isso é bom, pois é preciso focar nas ações preventivas. A menina deve ir ao médico logo que arranjar namorado, pois se há interesse, ela não vai deixar de ter relação sexual. Então, precisa conhecer os métodos contraceptivos.”

O obstetra afirma que a oferta de pílula anticoncepcional e camisinha nos postos de saúde também colaborou para a queda nos números. Hoje, é possível ter acesso gratuito aos métodos sem a necessidade de identificação. O maior desafio, de acordo com o médico Fernando César de Oliveira Júnior, é conscientizar os meninos, o que exige uma revisão de conceitos sobre os gêneros. Segundo ele, a maioria dos programas prioriza as meninas, sobre as quais recai tanto a responsabilidade pela escolha do método contraceptivo quanto os cuidados com o bebê. “Os garotos precisam ser chamados à responsabilidade. E as meninas têm de ser empoderadas. Devem ser incentivadas a se impor e dizer ‘não’ quando não querem ter relações, ou quando o homem se recusar a usar proteção.”

Brasil ainda está longe dos números ideais

Apesar da queda na proporção de grávidas adolescentes, o Brasil ainda passa vergonha em comparação com outros países industrializados. Um estudo divulgado pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (Funpa, na sigla em inglês) em 2010 mostra que o número de adolescentes grávidas para cada grupo de mil meninas ainda é assombroso: 56, contra uma média de 5 a 10 meninas grávidas/ mil nas demais nações posicionadas à frente do país em termos econômicos, como China (5), Japão (5), Alemanha (10) e França (11). A exceção são os Estados Unidos (41).

A proporção também não segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que o índice de nascidos vivos de mães de até 19 anos não ultrapasse os 10%, ou seja, o Brasil tem hoje uma taxa duas vezes maior do que a considerada razoável. Para mudar esse cenário, é preciso anular um ciclo vicioso poderoso. Estudo da Secretaria de Saúde de São Paulo mostra que, em 69,2% dos casos de gravidez na adolescência, a avó materna da criança também havia sido mãe adolescente.

Entre as iniciativas já defendidas por organizações não governamentais e especialistas está a distribuição de camisinha e pílulas anticoncepcionais nas escolas, já que em casa, muitas vezes, a falta de esclarecimento e o histórico de gravidez precoce da mãe impede que os pais conversem com os filhos sobre o assunto. Essa medida é defendida por muitos médicos, como o oncologista Dráuzio Varella, referência em planejamento familiar.

Para a coordenadora do Programa Adolescente Saudável da prefeitura de Curitiba, Luciana Savaris, a ideia, embora ideal, precisa ser vista com cuidado e trabalhada passo a passo. “Alguns pais ainda acham que a escola estará incentivando o adolescente a fazer sexo caso distribua os métodos. Claro que isso não é verdade, mas é preciso ir com calma para não criar uma resistência ainda maior sobre o tema.”

De acordo com Luciana, a comunidade tem respondido bem às aulas de educação sexual e reprodutiva em sala de aula, desde que o programa federal Prevenção e Saúde nas Escolas (PSE) foi implantado nas escolas da cidade, em 2003. “Temos conseguido chegar até eles [alunos]. Atualmente, mais de 600 estão envolvidos diretamente, mas a cada evento que fazemos, comparecem mais de mil pessoas.” (GP)

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