sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Aumenta o número de crianças nascidas abaixo do peso no Brasil

Apesar da queda de 30% na mortalidade infantil entre brasileiros nos últimos dez anos, a sobrevivência dos bebês ao primeiro ano de vida não significa que uma criança saudável e plenamente desenvolvida veio ao mundo: um dos desafios para a saúde pública é diminuir o número de bebês nascidos com baixo peso – menos de 2,5 quilos –, ação que pode protegê-los da incidência de doenças crônicas na vida adulta. Em 2010, cerca de 240 mil crianças brasileiras nasceram com baixo peso. Esse número representa 8% do total de nascidos vivos no país e é 25% maior do que o índice de 1994.

No Paraná, o crescimento no número de nascidos com baixo peso nesse período foi de 16%. No último ano, 12 mil paranaenses nasceram com menos de 2,5 quilos. Entre os 10 maiores municípios do estado, Ponta Grossa tem o maior porcentual de crianças nascidas nestas condições (10%).

O nascimento de bebês pequenos preocupa: o baixo peso é sinal de problemas no desenvolvimento do feto dentro do útero, com prejuízo para a formação dos órgãos e a possibilidade de aparecimento, no futuro, de doenças crônicas, como hipertensão, obesidade, diabete e osteoporose.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2009, as doenças crônicas não transmissíveis foram responsáveis por 72% das mortes no país. “A relação entre o peso ao nascer e as doenças crônicas, hipótese levantada pelo epidemiologista inglês David Barker, é o que existe de mais moderno nas descobertas da medicina fetal. Uma das maneiras de combater essas doenças é evitar que as crianças nasçam com menos de 2,5 quilos”, observa o obstetra e presidente da Comis­­são de Medicina Fetal da Federação Brasileira das Asso­­ciações de Ginecologia e Obste­­trícia (Febrasgo), Eduardo Sérgio Borges da Fonseca.

Os médicos explicam que, além da restrição de crescimento intraútero relacionada à nutrição do bebê por meio da mãe, crianças podem nascer magras devido a características genéticas e à prematuridade. Porém, os fetos com atraso no desenvolvimento durante a gestação (como no primeiro caso) são aqueles com mais chances de apresentar problemas crônicos no futuro. “A maioria das crianças com menos de 2,5 quilos nasce prematura. Porém, há crianças de nove meses que também nascem com baixo peso. Essa situação acontece devido ao aumento no número de cesáreas, à idade em que as mães engravidam, ao tabagismo da gestante e à dieta da grávida”, observa o presidente do departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Procianoy. Segundo ele, aos nove meses, o peso médio de um bebê saudável fica entre 3 e 3,2 quilos.

Dentro do útero, o metabolismo de um feto com restrição de desenvolvimento se programa para enfrentar adversidades: seu organismo passa a economizar energia e desacelera o crescimento, pois o bebê não apresenta reservas suficientes. Assim, os esforços do feto são direcionados para manter o funcionamento das glândulas suprarrenais e de órgãos vitais, como o cérebro e o coração – os demais órgãos, como rins e fígado, por não se desenvolverem plenamente, podem ter suas funções comprometidas.

“Todos os nutrientes são utilizados para que o bebê se mantenha vivo. Assim, ele não consegue crescer e ganhar peso. Mesmo depois de adulto, seu organismo vai estar programado para viver em situações de energia restrita, o que afeta o metabolismo de gorduras e pode acarretar diabete e obesidade”, explica a professora Regina Vieira Cavalcanti, do departamento de Pediatria do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Cuidados se estendem aos dois primeiros anos

“Hoje o Brasil sofre com o número de hipertensos, diabéticos e obesos devido à falta de cuidados que teve com os nascimentos de nossos avós”, avalia o coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança, o médico epidemiologista Nelson Arns Neumann. A observação foi feita durante a Assembleia Nacional da entidade realizada em Curitiba no fim de novembro. No evento, a Pastoral pediu a seus colaboradores atenção especial aos primeiros mil dias de vida das crianças (os 270 dias da gestação mais os dois anos seguintes), considerados fundamentais para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas. “Nesse período, é definido como o metabolismo vai controlar a diabete e a pressão para o resto da vida”, observa Neumann.

Os dois primeiros anos de vida são importantes porque consistem em uma das fases mais rápidas do crescimento humano. “Trata-se de um momento em que o organismo é muito imaturo. Passar bem por esses anos dá uma espécie de garantia de crescimento mais saudável”, diz Renato Procianoy, presidente do departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Para recuperar o peso e a altura de um bebê nascido com menos de 2,5 quilos, não é preciso realizar intervenções médicas complexas. “Ele vai precisar de mais atenção no aleitamento materno e da garantia de uma alimentação sem problemas, com retornos mais precoces ao pediatra e acompanhamento do peso”, observa a professora Regina Vieira Caval­canti, da UFPR.

Porém, ainda que os pais fiquem ansiosos e preocupados diante de um bebê magro, o ganho rápido de peso nesse período deve ser evitado, pois está relacionado ao desenvolvimento de hipertensão, diabete e problemas coronários. “As pessoas estão muito apegadas à imagem do “bebê johnson”, gordinho. Cabe ao médico incentivar uma dieta parcimoniosa, com aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, sem qualquer tipo de complementação alimentar”, diz o obstetra Eduardo Borges da Fonseca.

Neumann ressalta que crianças nascidas com baixo peso têm, até os 2 anos de idade, tendência a sofrer um efeito rebote na balança, associado à ocorrência de doenças metabólicas em adultos. “Elas costumam engordar mais rápido do que as crianças que nasceram com o peso adequado, o que traz consequências, como a obesidade, pois seu organismo se preparou para viver com uma estrutura pequena, que não comporta o ganho de peso rápido”, explica.

Mãe não precisa comer por dois

Durante a gestação, a mãe é a única fonte de alimento para o bebê, mas não é preciso comer por dois para garantir o desenvolvimento da criança. “O excesso de peso pode acarretar o desenvolvimento de diabete gestacional e problemas de oxigenação cerebral para o bebê. A gestante obesa tem dificuldades de contração no parto normal e a cesárea é delicada devido à dificuldade de cicatrização”, explica a especialista em nutrição ma­­terno-infantil e coordenadora do curso de Nutrição das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), Cynthia Passoni.

Segundo ela, o consumo de nu­­trientes por uma gestante deve ser 15% a 30% maior nos nove meses de gravidez. O ideal é comer de três em três horas, para que a mãe e o feto recebam nutrientes de forma constante. No entanto, mesmo uma alimentação equilibrada não fornece todos os nutrientes necessários para o bebê. “A complementação da dieta é feita com ácido fólico, para a formação do tubo neu­­ral do bebê, e ferro, para a ma­­nutenção da imunidade e prevenção da anemia”, observa Cynthia. (GP)

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles