domingo, 12 de dezembro de 2010

Depois de identificação errada em delegacia, inocente é condenado à prisão

JL

O dia 30 de agosto de 2010 ficou marcado de duas formas – uma boa e outra ruim – para o químico Tales Paranhos Bolonheze, 27 anos, que mora em Apucarana, Norte do estado. A notícia boa foi o nascimento do primeiro filho. A ruim: ele havia sido condenado pelo furto de materiais de carpintaria ocorrido em 2009 na cidade de Matinhos, litoral do estado. O detalhe trágico da história é que Bolonheze nunca havia estado no local do crime.

Desde que recebeu uma carta precatória de sentença, o condenando a dois anos de prisão, o químico tenta provar inocência. Como não possuía antecedentes criminais, a pena foi reduzida para um ano e seis meses em regime aberto, mesmo assim ele está recorrendo dessa decisão. Mas a grande pergunta nessa história é quem foi preso como Tales Paranhos Bolonheze?

Decisão só poderá ser revertida no TJ

Para o advogado João Zanrosso, que defende o químico, como o caso já foi julgado agora somente o Tribunal de Justiça (TJ) poderá rever a decisão. Para ele, provar a inocência de Bolonheze não será difícil. “Já juntei todas as provas de que quando os crimes ocorreram o verdadeiro Tales estava trabalhando, com residência fixa em Apucarana. Provar a inocência será fácil, a dificuldade é que já houve uma condenação”, disse.

Depois de provar a inocência, o químico promete processar o Estado por danos morais e materiais, além de processar Rosando de Lima Sachelli por falsidade ideológica e danos morais. “Em um caso como esse vemos como somos vulneráveis ao sistema de segurança pública, pois ele já tinha tentado fazer isso antes. A delegacia acaba processando você mesmo sem ter feito nada.”

Denúncia formal

A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (Sesp) informou que é necessário que o químico de Apucarana faça uma denúncia na Corregedoria e fazer uma denúncia oficial. Sem esse procedimento, a Secretaria afirmou que não é possível tomar nenhuma medida.Ainda, conforme a assessoria, esse fato não é comum e não há informação de pessoas que foram mal identificadas na polícia e acabaram sendo condenadas. Para a Secretaria, algum tipo de identificação foi apresentando por Rosando no momento da prisão em Matinhos.

Tales afirma que amigo se passou por ele e delegacia errou na identificação

A resposta surpreendeu o próprio Bolonheze. Quem se passou por ele na delegacia de Matinhos foi o amigo de infância Rosando de Lima Sachelli, que está preso desde o dia 20 de novembro no minipresídio de Apucarana, pelo crime de furto. “Quando recebi a carta de sentença sabia que havia algo de errado, pois nunca estive em Matinhos. Então, um amigo contou que passou a mesma situação semelhante e falou quem era. Não acreditei, fui à delegacia e quando colocaram meu nome no sistema, a ficha veio com a foto dele”, conta.

Bolonheze afirma que o caso dele está repleto de falhas. A primeira foi que, quando detido, Sachelli não portava nenhum documento de identificação e, simplesmente, se apresentou como Tales Paranhos. “Somos criados juntos, então, ele sabia o nome dos meus pais. Quando foi preso disse o meu nome e a própria delegacia acabou se encarregando de preencher o restante dos dados, pelo acesso ao sistema de segurança do Estado. Nem o feijão com arroz os agentes fizeram, que era conferir as digitais dele.”

Segundo Bolonheze, em depoimento na delegacia de Apucarana sobre o inquérito que investiga a falsidade ideológica, Sachelli teria afirmado que em nenhum momento apresentou qualquer documento de identificação.

A segunda falha, apontada por Bolonheze, foi a realização do julgamento. “Meu processo é a coisa mais absurda. Teve juiz, testemunhas que confirmaram que eu cometi o crime. Eu até fui representado por um advogado pago pelo Estado, sem nunca ter sido notificado da acusação.”

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