terça-feira, 30 de novembro de 2010

Peritos acham indícios de suposto ossário clandestino, que pode abrigar ossadas de desaparecidos políticos

Fausto Macedo/AE 29 de novembro de 2010 | 21h 35

Dois metros abaixo da superfície do Cemitério Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, peritos da Polícia Federal encontraram nesta segunda-feira, 29, uma laje de concreto que pode ser o caminho para a descoberta de um ossário oculto com restos mortais de desaparecidos políticos aprisionados pela repressão militar, no início dos anos 70.

"A laje indica, a princípio, que podem ter consistência as informações obtidas pelo Ministério Público Federal sobre uma suposta instalação clandestina. O que encontramos é um avanço significativo", disse o procurador regional da República, Marlon Alberto Weichert.

As buscas no maior cemitério da América Latina tiveram início no dia 8. É a mais importante e exaustiva missão de campo já desencadeada pela Procuradoria da República no rastro de ações atribuídas a militares e policiais que teriam integrado os quadros do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), subordinado ao antigo II Exército.

Os procuradores federais suspeitam que os corpos de pelo menos dez desaparecidos políticos foram atirados em uma vala comum do Formosa, em uma área que teria sido modificada por ordem da Prefeitura, naquela época, por determinação do regime dos generais.

Familiares de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN), relataram ao Ministério Público Federal que o corpo de seu ente teria sido sepultado ali. Eles obtiveram documentos da administração do cemitério que reforçam essa possibilidade.

Os peritos que vasculham o grande cemitério atuam no Instituto Nacional de Criminalística da PF. Eles trabalharam o dia todo debaixo de sol, ao lado de procuradores, representantes da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – e técnicos do Instituto Médico Legal do Estado.

Pistas. A primeira etapa da investigação mostra que a sepultura onde estaria o corpo de Jonas foi renumerada. Há vestígios de que a ossada teria sido transferida.

Análise com base nos dados preliminares coletados com a ajuda de um radar de penetração no solo (GPR), combinada com fotografias aéreas de 1972, levaram os peritos a uma estrutura sob o canteiro onde antigamente se encontrava um letreiro do cemitério, em frente à administração. Ali ficaria o depósito de ossos, compartimento com cerca de 3 metros de largura por 3 de comprimento e profundidade ainda não estabelecida. A laje de concreto barrou os peritos que retornam às atividades nesta terça-feira, 30.

A pista sobre o suposto depósito de ossos de militantes perseguidos pelos órgãos de repressão foi revelada aos procuradores por velhos funcionários do cemitério. Eles informaram sobre uma câmara com restos mortais. "Apenas equipamentos técnicos não permitiriam a descoberta", acredita a procuradora Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, da força tarefa do Ministério Público Federal.

"Avançamos bastante na possibilidade de encontrarmos uma sepultura que supostamente foi de Virgílio", disse o procurador Marlon. "A pesquisa da família encontrou nos livros do cemitério referências sobre o local do sepultamento. Os estudos mostram que ele teria sido exumado sem registros. É o que chamamos de limpeza, uma remoção para dificultar o rastreamento."

Outro foco da apuração, destacou o procurador, é a vala clandestina. "O espaço foi bem identificado. Não encontramos nada, ainda, mas a laje será aberta até o final da semana. Aí poderemos ter a confirmação se o ossário existe ou não. Estamos no terreno das hipóteses, não há nenhuma certeza." Se encontradas, antes de exame de DNA, as ossadas serão submetidas a uma antropometria – técnica de comparação de medidas e estatura para identificação de sexo e idade.


Achadas ossadas que podem ser de mortos na ditadura

PEDRO DA ROCHA/AE 30 de novembro de 2010 | 20h 31

A equipe que faz buscas de desaparecidos políticos da época da ditadura militar (1964-1985) encontrou restos mortais no interior de um ossuário clandestino localizado debaixo de um canteiro, onde havia um letreiro do cemitério Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. Os peritos acharam restos mortais no interior de sacos.

Segundo o procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, autores de uma ação civil pública que pede a responsabilização das autoridades públicas que autorizaram a ocultação de cadáveres de opositores mortos pelo regime, os trabalhos dos peritos prosseguirão até sexta-feira.

A fase seguinte é selecionar ossadas para pesquisa antropológica, nas quais fotos, dados médicos e dentários das vítimas serão cruzados com as características das ossadas.

Essa primeira fase será realizada em conjunto pelo Instituto Médico Legal (IML) e o Instituto Nacional de Criminalística (INC), que extrairá dos ossos o material genético para a segunda fase, na qual serão confrontados com o material colhido dos familiares das vítimas e que compõe o banco de DNA.

A equipe que realiza as buscas é formada por representantes do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP), da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do INC do Departamento de Polícia Federal (PF) e do IML do Estado de São Paulo.

Os trabalhos de busca no cemitério Vila Formosa, iniciados no dia 8 de novembro, têm por objetivo localizar os restos de aproximadamente dez desaparecidos políticos, entre os quais, os de Virgílio Gomes da Silva, conhecido como Jonas, líder sindical dos químicos que mais tarde acabou liderando o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Mais de 450 pessoas foram mortas ou desapareceram durante a ditadura.

Homenagem

Para o MPF, o trabalho será muito difícil, principalmente se as ossadas não tiverem sido acondicionadas adequadamente. Caso não ocorra identificação positiva, o MPF irá requisitar que no local seja erguido um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos na ditadura militar.

É o que deseja a viúva de Virgílio, Ilda Gomes da Silva, que há 41 anos espera encontrar os restos mortais do marido. "Mesmo que não se localize o corpo dele, que pelo menos se faça uma homenagem a ele e aos demais desaparecidos. São mais de 400 pessoas. Pelo menos, eles lutaram", disse ela, que acompanhou as buscas.

Até a construção do Cemitério de Perus, os cadáveres dos militantes políticos eram enterrados em outros cemitérios públicos, sendo o mais conhecido o de Vila Formosa.

A família de Virgílio Gomes da Silva obteve documentos que apontam o número do terreno em que ele teria sido enterrado no cemitério da Vila Formosa, em 1969. Essas informações foram repassadas aos procuradores, que realizaram uma série de diligências preparatórias no cemitério. No trabalho de buscas foi constatado que a sepultura e respectiva quadra foram renumeradas.

0 comentários :

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | belt buckles