quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Texto do Plínio Arruda um pouco antes de deixar o PT


Colunistas| 12/09/2005 |

PT EM DISPUTA

A esperança vence a lambança

Hoje os inimigos do PT estão fora e dentro dele. Fora está a velha direita de sempre. E dentro estão aqueles que querem destruí-lo para transformá-lo em partido da ordem. Isso seria a morte do PT. E para que é preciso destruir o PT?

Plínio de Arruda Sampaio

Eu me orgulho de ser petista. Por isso mesmo, sinto-me constrangido pelo envolvimento do partido nos escândalos que agitam o Congresso Nacional. As denúncias tomaram conta da imprensa. O PT tem sido acusado de ser um partido como todos os outros, a chafurdar no pântano da corrupção. Recuso-me a aceitar esta argumentação.

Quem roubou e corrompeu sob o manto do PT deve ser julgado por nossas instâncias e, provada a culpa, ser expulso, seja quem for.

O PT não foi inventado por ninguém em especial. Partido de verdade, como o nosso, não se inventa. Partido se encontra. Quando fundamos o PT, há 25 anos, ele já existia na sociedade. Alguns dos que estavam na luta política da época, entre os quais honrosamente me incluo, só tiveram de perceber isso. Era o final dos anos 1970, o ocaso da ditadura, e o Brasil vivia a mais estimulante ebulição política de todo o século XX. Eu acabara de voltar de um exílio de mais de 10 anos e me deparei com estudantes nas ruas, comitês a reclamar anistia para presos e exilados, donas de casa organizando marchas contra a carestia, trabalhadores a encher praças e estádios, moradores da periferia se organizando, a Igreja demandando liberdades democrárticas e muito mais.

Era uma força social até então adormecida que despertava ruidosamente, exigindo participar dos destinos nacionais. Ela era tão nova e imensa, que não cabia no figurino dos dois partidos existentes – Arena e MDB – e nem nas entidades institucionais de então. Esse vulcão social, sem que ninguém percebesse de imediato, já era o PT, muito antes de existir PT. Quando ele nasceu, em 1980, veio com a naturalidade daquelas idéias geniais: “por que isso não existia antes?”. Parecia óbvio, mas a sociedade brasileira, os de baixo, os setores populares organizados, tiveram de amadurecer para que a agremiação surgisse.

O PT é essa correnteza social com registro no TSE. Por isso não é um partido qualquer. Nasceu para mudar. Quando ataca-se o PT e tenta-se jogá-lo na vala comum, o que querem destruir não é um registro em cartório, não é uma sigla. Querem mostrar que o povo não pode entrar na cena política.

Hoje os inimigos do PT estão fora e dentro dele. Fora está a velha direita de sempre. E dentro estão aqueles que querem destruí-lo para transformá-lo em partido da ordem. Isso seria a morte do PT. E para que é preciso destruir o PT? Para fazer uma política econômica voltada para os bancos, para os especuladores, concentradora de renda, antinacional e antipopular. Precisam destruí-lo para fazer dele balcão de negócios. Precisam destruí-lo para fazer reformas neoliberais.

Por isso, a luta que se trava hoje pelo comando do PT não é apenas uma disputa intra-muros. Ela sintetiza um enfrentamento que está presente em toda a sociedade brasileira.

Todas estas enfermidades que vitimam o PT hoje têm uma origem: o partido, no governo, adotou e aprofundou a orientação econômica do inimigo, que tanto combatera no passado. Herdando a política, herdou também a base parlamentar e a maneira de negociar com ela, na base do “é dando que se recebe”. E essa política, manejada pelo ministro Palocci, saudado pelos banqueiros e especuladores como a oitava maravilha do mundo, não é dele. Não é de Henrique Meirelles. O presidente Lula avisou – para meu espanto - na última semana que essa diretriz é do governo.

Acho lamentável. Esta política é sua ruína; ela rompe laços construídos com o movimento popular que estão na base histórica do PT. Continuar com essa diretriz equivale a fazer com que o PT deixe de ser PT.

Por isso, tenho repetido em todos os lugares onde tenho ido difundir minha candidatura à presidência do partido: se o presidente Lula não mudar a política econômica, não há como apoiá-lo para a reeleição no ano que vem.

O título deste artigo é uma feliz criação de meu amigo Claudius Ceccon. Ele sintetiza o desejo de inúmeros petistas que votarão, no próximo dia 18, nas eleições internas, para que o PT volte a ser PT.

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