quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Aliados do governo querem Lula menos agressivo no segundo turno

Celso Junior/AE

Argumento eleitoral. Lula, com governadores e senadores recém-eleitos, no Alvorada: "Fui muito duro em alguns Estados, mas precisava ajudar a eleger"
Os aliados também listaram entre as razões para Dilma não ter vencido no primeiro turno o escândalo do tráfico de influência na Casa Civil da ex-ministra Erenice Guerra, o debate sobre o aborto e, como disse o governador reeleito de Pernambucano, Eduardo Campos (PSB), "o voto chique da juventude de classe média" em Marina Silva (PV).

Campos, recordista com 82% de votos nas disputas estaduais, puxou as críticas ao embate com a mídia. "Nós vivemos além das pancadas que recebemos", ensinou na reunião de anteontem com Dilma. O alerta foi reforçado pelo governador da Bahia, Jaques Wagner, petista reeleito no primeiro turno com 63% dos votos. Também sem citar Lula, Wagner chamou a briga com a imprensa de "batalha perdida". "Passou arrogância, colocou medo em alguns setores que viram nessa postura um exagero. A liberdade de imprensa é um valor da sociedade e muita gente se abrigou no campo de Marina por causa disso", comentou um dos presentes.

Segundo relatos colhidos pelo Estado sobre os bastidores das reuniões, o governador da Bahia disse diante de Dilma e aliados que as críticas enfurecidas à imprensa "são facilmente entendidas como tentativas de coerção". E acrescentou que essa atitude desfoca o próprio PT. "Nós nascemos da contestação ao autoritarismo e acabam nos colocando a pecha de autoritários."

"Muito duro". As avaliações críticas foram feitas depois que Dilma pediu aos aliados para dizerem o que tinham visto de positivo e negativo na campanha e o que precisava mudar para o segundo turno.

Ontem, também em reunião que juntou no Alvorada meia dúzia de governadores e uma dezena de parlamentares e ministros, Lula admitiu que se excedeu nas críticas, mas disse que precisou dar "um freio de arrumação" na campanha. "Eu fui muito duro em alguns Estados por onde passei, mas precisava ajudar a eleger alguns senadores", justificou. Rindo, disse aos governadores que no segundo turno "o Lulinha paz e amor estará de volta". Acrescentou que "acusações não ficarão sem resposta".

Em tom de provocação, Lula aproveitou para comemorar a derrota de antigos opositores, caso do tucano Tasso Jereissati, que perdeu a eleição para o Senado. "Esse cara acabou com o Tasso no Ceará", disse, apontando para o senador eleito Eunício Oliveira (PMDB).

Incomodado com o noticiário sobre tráfico de influência envolvendo a Casa Civil da então ministra Erenice Guerra e seus filhos, Israel e Saulo Guerra, o presidente passou a criticar a imprensa durante a campanha.

"A liberdade de imprensa não significa que você pode inventar coisas o dia inteiro. Liberdade de imprensa significa que você tem liberdade para informar corretamente a opinião pública para fazer crítica política e não o que a gente assiste de vez em quando", afirmou Lula, levantando a suspeita de que as notícias eram inventadas.

Esse discurso, por exemplo, foi feito durante cerimônia de inauguração do trecho Colinas do Tocantins-Palmas da Ferrovia Norte-Sul no dia 21 de setembro. "Não tem mais aquele negócio: deu na televisão é verdade, acabou", acrescentou.

PMDB reclama. Anteontem à noite, em jantar na residência oficial do presidente da Câmara e vice de Dilma, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), um grupo de peemedebistas também reclamou do comando da campanha. Disseram que a candidata ficou "muito distante" dos aliados e o partido não teve como interferir na campanha.

A cúpula peemedebista lembrou que alertou Dilma sobre o risco da polêmica sobre o aborto. "Fizemos alertas, mas disseram que se tratava de uma questão segmentada e sem influência sobre os votos da Dilma, que venceria no primeiro turno", relatou um dos presentes ao jantar.

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