sábado, 10 de julho de 2010

Polícia italiana prende chefe da máfia Camorra

EFFE

A polícia italiana deteve nesta quinta-feira, 8, Cesare Pagano, considerado chefe do perigoso e sanguinário clã mafioso da Camorra napolitana e braço-direito de Raffaele Amato, o "capo" camorrista detido na Espanha em maio de 2009.

Segundo informam fontes policiais, Pagano, um dos 30 foragidos mais perigosos da Itália, foi detido esta madrugada em uma pequena vila da localidade de Licola, próxima a Nápoles, no litoral sudoeste italiano.

O suposto mafioso, de 40 anos e cunhado de Raffaele Amato, estava foragido da Justiça desde março de 2009 e é acusado de associação mafiosa e tráfico internacional de drogas.

Pagano era considerado o sucessor de Amato à frente do clã dos "escisionistas", que saiu vencedor perante o clã Di Lauro da sangrenta luta entre grupos rivais da Camorra que aconteceu na localidade napolitana de Scampia entre 2004 e 2005.

O clã dos "escisionistas", também chamado clã Amato, controla Scampia e os municípios vizinhos de Arzano, Casavatore, Mugnano e Melito.


Corleones do Brasil

O bicheiro Capitão Guimarães, que foi torturador na PE do Rio de Janeiro no período da ditadura, quando foi preso na Operação Hurricane

Tiago Cordeiro

Eles não vestem capotes escuros, mas ternos brancos, camisas floridas abertas e correntes de ouro no peito. Aprenderam a se organizar tendo contato com mafiosos do sul da Itália. Dos Corleones, um dos mais temidos clãs da máfia siciliana, conseguiram as primeiras máquinas caça-níqueis que vieram ao Brasil. Antes bicheiros da periferia, se tornaram mafiosos donos de bingos que dão lucros milionários. Compram juízes, o apoio de políticos e a amizade de celebridades. Como a polícia federal mostrou em abril, durante a operação hurricane, eles têm poder suficiente para serem chamados de Corleones do Brasil.

Jogo do bicho

Nossos chefões nasceram com o jogo do bicho e, nos últimos anos, viram seus lucros irem às alturas com as máquinas caça-níqueis instaladas em cada padaria da maioria das cidades brasileiras. No último dia 13 de abril, uma sexta-feira, eles passaram por uma cena comum na história de qualquer máfia: uma grande blitz policial.

Uma megaação desmontou um grupo organizado de bicheiros, delegados, juízes e desembargadores. Batizada de Hurricane, a operação da Polícia Federal indiciou 29 pessoas e levou 25 para a cadeia. Segundo a polícia, o esquema envolvia o pagamento mensal de até R$ 30 000 para juízes e desembargadores a fim de garantir que as casas de bingo, com suas máquinas caça-níqueis, continuassem a funcionar.

A exploração de jogos pela iniciativa privada tinha sido autorizada pela Lei Zico, de 1993, mas, desde 2001, os bingos são considerados uma atividade não regulamentada. Para funcionar, precisam ter liminares concedidas por juízes. Com a operação da PF, ficou claro que o grupo que operava as máquinas caça-níqueis era muito mais sofisticado que um grupo de crime organizado.

"Trata-se de um grupo que tem conexões com outras máfias, principalmente da Itália", afirma a juíza Denise Frossard, que em 1993 levou 14 integrantes da cúpula da máfia carioca para a cadeia (leia entrevista ao lado). Além do apoio de magistrados e políticos, os bingueiros participavam da vida social da elite carioca, dando festas em coberturas de 3 andares em Copacabana, patrocinando escolas de samba e posando ao lado de celebridades globais.

Não é por acaso que nossos mafiosos são tão parecidos com os originais. É que eles só existem por causa da interferência direta de algumas das maiores famiglias italianas, vindas diretamente da Sicília. O jogo do bicho não seria um império nem teria se modernizado com as máquinas caça-níqueis sem a influência e o dinheiro de dois dos maiores chefes da história, Antonino Salamone e Totò Riina.

A máfia e o papa

Tudo isso começou no século 19, na Sicília. A ilha tinha passado por duas tentativas de golpe, em 1848 e 1860, vivendo um estado de caos. Foi quando surgiram os primeiros grupos organizados, que protegiam seus membros da confusão reinante.

Em 1870, com a Itália já unificada, o Vaticano se declarou independente, e o papa Pio 9º chamou os católicos a reagir contra a autoridade do Estado italiano recém-unificado. Os bandos sicilianos aceitaram o chamado papal e começaram a reagir contra a polícia.

"Quando a situação se acalmou, os integrantes desses grupos estavam muito ligados. Eles chamavam a própria organização de Cosa Nostra, 'coisa nossa' ", diz o historiador e sociólogo italiano Diego Gambetta, professor da Universidade de Oxford e autor do livro The Sicilian Máfia ("A Máfia Siciliana", sem edição brasileira). Aqueles que não pertenciam à Cosa Nostra diziam que os fora-da-lei eram um grupo de mafiosi. "Essa palavra tinha um sentido ambíguo", afirma o sociólogo Gambetta. "Servia para caracterizar a pessoa como arrogante e também como destemida."

Nos anos seguintes, outras duas regiões do sul da Itália também se tornariam berço de grupos fortes - a Calábria e Nápoles, onde surgiu a Camorra. Com o tempo, algumas cidades sicilianas, como Corleone, Cinisi e Croceverde, ganhariam as próprias organizações mafiosas.

A máfia chega ao Brasil

Ainda no final do século 19, centenas de famílias de sicilianos emigraram para os EUA. Com elas, a máfia também atravessou o Atlântico. As famílias mais poderosas começaram a agir em Nova York e Chicago.

Em Nova York, 5 grandes famílias se consolidaram no poder: Bonanno, Genovese, Gambino, Luchese e Profaci. Começou então uma série de ciclos, que se estendeu pelo século 20, de famílias fazendo acordos de paz entre si e, quando eles eram rompidos, desencadeavam anos de carnificina. Na década de 1950, um capo italiano foragido da polícia resolveu se esconder nas praias do Rio. E foi assim que a máfia chegou ao Brasil.

Antonino Salamone foi um dos diretores da Cosa Nostra durante as décadas de 1960 e 1970. Em 1963, depois do Massacre de Ciaculli, quando sua organização matou 7 policiais italianos em um atentado à bomba, Salamone veio se refugiar no Brasil. No Rio de Janeiro, ele se aliou a Castor de Andrade, então com 37 anos. Da aliança entre os dois, surgiria a máfia brasileira.

Castor deu a Salamone abrigo e um emprego de fachada em uma das empresas da família, a Tecelagem Bangu. "Salamone, condenado nos EUA e na Itália, recebeu a cobertura da ditadura brasileira", afirma o juiz Walter Maierovitch, ex-Secretário Nacional de Justiça e um dos maiores especialistas em crime organizado no Brasil.

PARA SABER MAIS
The Sicilian Mafia: The Business of Private Protection
Diego Gambetta, Harvard University Press, 1993.

Criminalidade Organizada
Paulo José da Costa Jr. e Angiolo Pellegrini, Jurídica Brasileira, 1999.

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