O que ainda sustenta Guido Mantega no cargo de ministro da Fazenda é a noção folclórica e supersticiosa de que “não se pode trocar a junta de bois no meio da ladeira”. Ele nunca foi o ministro dos sonhos da presidenta, mas vai ficando porque acata ordens sem discutir e porque sempre há algum problema mais premente no foco das preocupações presidenciais.
Ninguém ignora que Mantega é um gerente e administrador correto, mas ele está longe de ser formulador de políticas e estratégias, nem tem carisma para convencer as audiências seletas ou ampliadas de que estamos no caminho certo.
Sob esses aspectos, a presidenta confia mais no presidente do BNDES, Eduardo Coutinho e no próprio secretário-geral do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Mas Mantega vai ficando, ainda mais agora que estamos a apenas quatro meses das eleições e com o Mercado ouriçado com a crise européia ou global.
Por outro lado, a presidenta já está, segundo um de seus colaboradores mais próximos, convencida de que é preciso dar uma sacudida na Política Econômica se quiser salvar, depois de outubro, os últimos 20 meses de seu governo.
Os números
Em maio último registrou-se um inesperado tombo no consumo nacional. Logo maio quando tradicionalmente, em função do Dia das Mães, há um alta nas vendas. Mas este é apenas mais um aviso. Todos os indicadores apontam para um crescimento econômico inferior ao do ano passado que foi pífio: 2,7%.
Os diagnósticos também são conhecidos: o governo obteve vitórias no varejo, mas perde a batalha no ataca. No varejo, soma a seu favor a queda da inflação, a queda da taxa de juros, a manutenção do dólar num patamar adequando (em torno de R$ 2) e auxílios pontuais e temporários a setores mais aflitos da indústria e do agronegócio.
Mas a verdade é que (e aqui temos a batalha no atacado) o governo não consegue realizar o essencial para manutenção de um crescimento sustentado: o investimento. A mais de uma década o Pais não consegue investir mais que 19% do BIP na produção e na infra-estrutura. A China investe 40% anualmente.
Enquanto isso, ultrapassamos a metade deste 2012, sem ter conseguido investir sequer 20% do que foi planejado e anunciado em janeiro.
Em parte, esse fracasso pode ser creditado a restrições na área ambiental e a problemas na esfera judicial. Mas há também a exasperante inércia burocrática e a imperdoável incompetência administrativa em todos os níveis. A máquina não anda.
Finalmente, falta o élan e o carisma a que nos referimos no início deste texto. Os deslanche de investimentos públicos e privados (principalmente estes) dependem de fatores psicológicos, o efeito manada. Isso só obtém com uma boa bandeira e um comando carismático. Mas depende, também, de um bom projeto.
O governo do PT é incomparavelmente superior ao governo tucano (neoliberal e apátrida), mas lhe falta algo essencial. Não basta ter um projeto de poder que isso ele já tem. É preciso um Projeto Nacional e Popular que galvanize e população. Sem ele, o Governo fica dependendo de medidas imediatistas, da mão para boca, para salvar sua popularidade e se equilibrar nas oscilações do IBOPE. Só marquetagem não resolve isso. (FN)
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