Lendo um texto da coluna do Elio Gaspari sobre a barulhenta
passagem dos nouveaux riches da corte do dono da Delta, o Fernando Cavendish,
que em 2009 recebeu da revista “Isto Ă©” o tĂtulo de “prĂncipe do PAC", por Paris
fica escancaradamente claro o nonsense das elites emergentes brasileiras no
trato com a coisa pĂºblica. Estes perderam qualquer vĂnculo com dura realidade
vivida pelo povo brasileiro, que indignado observa as bregas tristes cenas
patrocinadas por aqueles que tĂ£o criminosamente zelam pelo erĂ¡rio, ou dele
indiretamente se beneficiam superfaturando obras.
SerĂ¡ que, como quase sempre, tudo terminarĂ¡ em uma Cachoeira de lama “elegantemente” despencando para servir de molho de
pizza?
Elio Gaspari:
Cabral quis ser chique, foi brega
NovĂssimos ricos do Brasil emergente constrangem a patuleia
com sua promĂscua vulgaridade
VERGONHA, ESSA Ă© a sensaĂ§Ă£o que resulta dos vĂdeos das villegiaturas parisienses do governador SĂ©rgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns secretĂ¡rios e pelo empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta.
Uma cena pode ser vista com o olhar do casal que estĂ¡ numa mesa ao fundo do salĂ£o do restaurante Louis 15, no Hotel de France, em MĂ´naco. ("Este Ă© o melhor Alain Ducasse do mundo", diz Cabral, referindo-se ao chef.)
Ela Ă© uma senhora loura e veste um pretinho bĂ¡sico. A certa altura, ouve uma cantoria na mesa redonda onde hĂ¡ oito pessoas. Admita-se que ela entende portuguĂªs.
O grupo comemora o aniversĂ¡rio de Adriana Ancelmo, a mulher de Cabral, e festeja o prĂ³ximo casamento de Fernando Cavendish.
AtĂ© aĂ, tudo bem, Ă© vulgar puxar celulares no Louis 15 e chega a ser brega filmar a cena, mas, afinal, Ă© noite de festa. A certa altura, marcado o dia do casamento, Cabral decide dirigir a cena: "EntĂ£o, dĂ¡ um beijo na boca, vocĂªs dois."
Cavendish vai para seu momento Clark Gable, e o governador diz Ă mulher do empreiteiro: "Abre essa boca aĂ". As cenas foram filmadas por dois celulares. Um deles era o do dono da Delta.
Na mesma viagem, Cavendish, o empresĂ¡rio George Sadala, seu vizinho de avenida Vieira Souto e concessionĂ¡rio do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretĂ¡rios de SaĂºde e de Governo do Rio, (SĂ©rgio CĂ´rtes e Wilson Carlos), estĂ£o no restaurante do Hotel Ritz de Paris.
AtĂ© aĂ, tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas expressões, estĂ£o embriagados. Fora do expediente, nada demais. InexplicĂ¡veis, nessa cena, sĂ£o os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a Dubai quem tiver uma explicaĂ§Ă£o para o adereço.
O Ă¡lbum fecha com a fotografia de quatro senhoras gargalhantes, no meio da rua, mostrando as solas de seus stilettos (duas vermelhas). Exibem como trofĂ©us os calçados de Christian Louboutin. Nos pĂ©s de Victoria Beckham (38 anos) ou de Lady Gaga (26 anos), eles tĂªm a sua graça, mas tornaram-se adereços que, por manjados, tangenciam a vulgaridade.
NĂ£o Ă© a toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do cabaret Crazy Horse.
As cenas constrangem quem as vĂª pela breguice. AtĂ© hoje, o ex-presidente JosĂ© Sarney Ă© obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se locomoveu numa de suas viagens a Nova York. (NĂ£o foi ele quem mandou alugar o modelo.)
A doutora Dilma explicou que nĂ£o foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No caso das vileggiaturas de Cabral, a breguice nĂ£o partiu dos organizadores da viagem, mas da conduta dele, de seus secretĂ¡rios e do amigo empreiteiro.
Esse tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas faz parte do primarismo dos novĂssimos ricos do Brasil emergente.
Noutra ponta dessa classe estĂ¡ o senador DemĂ³stenes Torres, comprando cinco garrafas de vinho Cheval Blanc, safra de 1947: "Mete o pau aĂ. Para muitos Ă© o melhor vinho do mundo, de todos os tempos (...) Passa o cartĂ£o do nosso amigo aĂ, depois a gente vĂª". O amigo do cartĂ£o era Carlinhos Cachoeira que, por sua vez tambĂ©m era amigo da empreiteira Delta, de Cavendish.
VERGONHA, ESSA Ă© a sensaĂ§Ă£o que resulta dos vĂdeos das villegiaturas parisienses do governador SĂ©rgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns secretĂ¡rios e pelo empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta.
Uma cena pode ser vista com o olhar do casal que estĂ¡ numa mesa ao fundo do salĂ£o do restaurante Louis 15, no Hotel de France, em MĂ´naco. ("Este Ă© o melhor Alain Ducasse do mundo", diz Cabral, referindo-se ao chef.)
Ela Ă© uma senhora loura e veste um pretinho bĂ¡sico. A certa altura, ouve uma cantoria na mesa redonda onde hĂ¡ oito pessoas. Admita-se que ela entende portuguĂªs.
O grupo comemora o aniversĂ¡rio de Adriana Ancelmo, a mulher de Cabral, e festeja o prĂ³ximo casamento de Fernando Cavendish.
AtĂ© aĂ, tudo bem, Ă© vulgar puxar celulares no Louis 15 e chega a ser brega filmar a cena, mas, afinal, Ă© noite de festa. A certa altura, marcado o dia do casamento, Cabral decide dirigir a cena: "EntĂ£o, dĂ¡ um beijo na boca, vocĂªs dois."
Cavendish vai para seu momento Clark Gable, e o governador diz Ă mulher do empreiteiro: "Abre essa boca aĂ". As cenas foram filmadas por dois celulares. Um deles era o do dono da Delta.
Na mesma viagem, Cavendish, o empresĂ¡rio George Sadala, seu vizinho de avenida Vieira Souto e concessionĂ¡rio do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretĂ¡rios de SaĂºde e de Governo do Rio, (SĂ©rgio CĂ´rtes e Wilson Carlos), estĂ£o no restaurante do Hotel Ritz de Paris.
AtĂ© aĂ, tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas expressões, estĂ£o embriagados. Fora do expediente, nada demais. InexplicĂ¡veis, nessa cena, sĂ£o os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a Dubai quem tiver uma explicaĂ§Ă£o para o adereço.
O Ă¡lbum fecha com a fotografia de quatro senhoras gargalhantes, no meio da rua, mostrando as solas de seus stilettos (duas vermelhas). Exibem como trofĂ©us os calçados de Christian Louboutin. Nos pĂ©s de Victoria Beckham (38 anos) ou de Lady Gaga (26 anos), eles tĂªm a sua graça, mas tornaram-se adereços que, por manjados, tangenciam a vulgaridade.
NĂ£o Ă© a toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do cabaret Crazy Horse.
As cenas constrangem quem as vĂª pela breguice. AtĂ© hoje, o ex-presidente JosĂ© Sarney Ă© obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se locomoveu numa de suas viagens a Nova York. (NĂ£o foi ele quem mandou alugar o modelo.)
A doutora Dilma explicou que nĂ£o foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No caso das vileggiaturas de Cabral, a breguice nĂ£o partiu dos organizadores da viagem, mas da conduta dele, de seus secretĂ¡rios e do amigo empreiteiro.
Esse tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas faz parte do primarismo dos novĂssimos ricos do Brasil emergente.
Noutra ponta dessa classe estĂ¡ o senador DemĂ³stenes Torres, comprando cinco garrafas de vinho Cheval Blanc, safra de 1947: "Mete o pau aĂ. Para muitos Ă© o melhor vinho do mundo, de todos os tempos (...) Passa o cartĂ£o do nosso amigo aĂ, depois a gente vĂª". O amigo do cartĂ£o era Carlinhos Cachoeira que, por sua vez tambĂ©m era amigo da empreiteira Delta, de Cavendish.
O prĂncipe do PAC
Em seis anos, o jovem empreiteiro Fernando Cavendish fez um milagre: ampliou 14 vezes o seu volume de contratos com o governo
Quando o presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Sil va foi ao Rio de Janeiro, em maio, para entregar 56 unidades habitacionais a moradores do morro do AlemĂ£o, na zona norte da cidade, um jovem perfumado garantiu Ă comitiva presidencial que atĂ© setembro de 2010 entregaria todas as obras prometidas pelo governo na comunidade: mais de mil apartamentos e um telefĂ©rico. O autor da promessa Ă© Fernando Cavendish Soares, dono da Delta Construções, que toca as obras do AlemĂ£o, no valor de R$ 623 milhões.
A data que ele escolheu para entregar os apartamentos Ă© estratĂ©gica: um mĂªs antes das eleições. Em retribuiĂ§Ă£o, o empresĂ¡rio ganhou um lugar na foto oficial, logo atrĂ¡s do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Cavendish Ă© hoje o homem que mais recebe dinheiro da UniĂ£o em contratos de obras civis. Deixa para trĂ¡s na lista de fornecedores do governo gigantes da engenharia como a Camargo CorrĂªa, Odebrecht e Queiroz GalvĂ£o. SĂ³ este ano, a Delta vai receber cerca de R$ 500 milhões da UniĂ£o, 14 vezes o que ganhou em 2003, primeiro ano do governo do PT.
Cavendish começou a destacar-se na contabilidade do governo do PT em 2004, ano em que sua empresa cresceu 119%. Os valores vĂªm aumentando em progressĂ£o geomĂ©trica. Em menos de cinco anos, a Delta jĂ¡ faturou R$ 1,5 bilhĂ£o do governo. SĂ³ em obras do PAC sĂ£o 85.
Um dos primeiros filões explorados pela Delta nesta fase de lua de mel permanente com o governo foi a "OperaĂ§Ă£o Tapa-Buracos", que, pela urgĂªncia, nĂ£o seguiu os tradicionais critĂ©rios de licitaĂ§Ă£o pĂºblica. A partir daĂ, a empresa nĂ£o para de crescer. O economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas, se diz impressionado com o crescimento da construtora de Cavendish. "Muitos casos de ascensĂ£o meteĂ³rica sĂ£o fruto de competĂªncia ou de bom relacionamento suprapartidĂ¡rio", diz Castelo Branco.
Mas os problemas de Cavendish aumentam na mesma proporĂ§Ă£o da expansĂ£o de sua empresa. A ControladoriaGeral da UniĂ£o (CGU) enumerou irregularidades em 14 obras de Cavendish no PAC, em contratos que somam R$ 200 milhões com o DNIT. Na lista da CGU estĂ£o pagamentos por serviços nĂ£o executados, alteraĂ§Ă£o contratual com acrĂ©scimos financeiros nĂ£o previstos em lei e serviços duplicados realizados no mesmo trecho.
Os problemas se espalham por todo o PaĂs. Em Minas Gerais, a construtora Delta foi investigada por usar documento com informações falsas para participar da licitaĂ§Ă£o da Linha Verde, via expressa que liga Belo Horizonte ao aeroporto de Confins. No CearĂ¡, houve suspeita de direcionamento de licitaĂ§Ă£o. No ParanĂ¡, foi um dos alvos da OperaĂ§Ă£o Empreitada, que descobriu um acerto entre as construtoras para fraudar licitações. Segundo a denĂºncia, as obras eram sorteadas numa mĂ¡quina de bingo. A polĂcia paranaense quis prender Cavendish, mas ele negou participaĂ§Ă£o no esquema. Um dos atuais contratos da Delta Ă© a construĂ§Ă£o do edifĂcio-sede da Procuradoria-Geral do Trabalho, em BrasĂlia, paralisada hĂ¡ dois anos.
Na lista da CGU (abaixo) estĂ£o relacionados pagamentos por obras nĂ£o executadas ou feitas duas vezes
FOTO: JULIO BITTENCOURT /AG. O GLOBO
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O TCU detectou superfaturamento, mas hoje nĂ£o põe obstĂ¡culos Ă continuidade do empreendimento, de R$ 130 milhões. Cavendish terĂ¡ de compatibilizar os valores da obra com os preços de mercado, se quiser finalizar o prĂ©dio. Outra obra que a Delta ajuda a tocar, o Arco Metropolitano do Rio, de R$ 844 milhões, tem "indĂcios de irregularidades graves". Os auditores constataram que houve pagamentos por serviços nĂ£o realizados e pediram que a Delta se manifeste sobre o inĂcio das obras sem projeto executivo e sem planilha orçamentĂ¡ria.
Foi no Rio de Janeiro que Cavendish começou a construir seu patrimĂ´nio, antes do lançamento do PAC. Na ges tĂ£o do ex-governador Anthony Garotinho, o empresĂ¡rio pavimentou bairros de Nova Iguaçu, em obras investigadas por suspeita de favorecimento. Segundo um de seus parceiros, Cavendish tem um estilo peculiar de gestĂ£o. "Cada obra tem uma administraĂ§Ă£o independente, com CNPJ prĂ³prio. Isso dinamiza a gestĂ£o, reduz custos, dĂ¡ capilaridade e permite que ele continue a operar mesmo quando hĂ¡ algum embargo", diz o fornecedor de Cavendish. "As obras funcionam como franquias. Se alguma começa a dar prejuĂzo, o gestor Ă© demitido."
Em poucos anos, a Delta saiu do Rio para atuar em quase todos os Estados do PaĂs
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Como quase sempre acontece com empresas que dependem do Estado, a Delta Ă© uma generosa doadora em campanhas. Em 2006, injetou R$ 1,72 milhĂ£o nas eleições de prefeitos e vereadores em sete Estados, segundo dados do TSE. O PMDB levou R$ 1 milhĂ£o. O PT, R$ 500 mil. Amigo de governadores do PMDB e do PSDB, Cavendish nĂ£o gosta de falar sobre os problemas que enfrenta e nem sobre seu cĂrculo de relacionamentos.
De um suntuoso apartamento, na avenida Vieira Souto, em frente Ă praia de Ipanema, Cavendish avisou Ă ISTOÉ que nĂ£o fala sobre seus negĂ³cios ou sobre sua vida pessoal. Pelas colunas sociais, sabe-se que o empresĂ¡rio Ă© considerado um "tipo desejĂ¡vel". Avesso a fotografias, o empreiteiro costuma ir a todas as festas badaladas do Rio. Com tanto dinheiro, ele agora vai diversificar seus negĂ³cios para os setores de energia, gĂ¡s e Ă³leo.
Brasil em Foco:
O
empresĂ¡rio que virou o ‘prĂncipe do PAC’
Um levantamento da Ong Contas Abertas mostrou que nos Ăºltimos
dez anos uma empreiteira, a Delta ConstruĂ§Ă£o, recebeu nada menos do que R$ 4
bilhões sĂ³ em obras contratadas pelo governo federal, o que foi decisivo para
que o faturamento da empresa desse um salto de R$ 67 milhões para R$ 3 bilhões
no mesmo perĂodo.
Com bons relacionamentos mantidos com gestores pĂºblicos, o
presidente do conselho de administraĂ§Ă£o da Delta, Fernando Cavendish,
transformou-se no “prĂncipe do PAC” ao conseguir para a sua empresa a grande
maioria dos contratos de infraestrutura do Programa de AceleraĂ§Ă£o do
Crescimento, lançado pelo governo federal em 2007.
No Rio, R$ 100 milhões
sĂ³ em aditivos
Quem também parece gostar muito dos serviços da Delta é o
governo do Rio de Janeiro. Ainda segundo levantamento da Ong Contas Abertas, o
governo fluminense repassou à empreiteira R$ 450 milhões entre 2002 e 2011. A
Delta é disparada a construtora que mais ganhou licitações no estado neste
perĂodo.
Do governo do Rio a Delta ConstruĂ§Ă£o recebeu R$ 53 milhões para
a execuĂ§Ă£o de projetos sem licitaĂ§Ă£o. AlĂ©m disso, quase R$ 100 milhões entraram
nos cofres da empresa por meio de aditivos em contratos com o governo
fluminense desde o inĂcio do primeiro mandato do governador SĂ©rgio Cabral atĂ©
2010.
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