quinta-feira, 5 de abril de 2012

Páscoa e teologia da libertação

Ouço muitas pessoas falar bem e outras não muito bem da teologia da libertação.

Não sou dono da verdade, mas a partir da minha experiência posso afirmar categoricamente que a teologia é libertadora ou não é teologia. Jesus se fez humano para libertar a humanidade de todo jugo. Negar a teologia da libertação é negar Jesus Cristo, seu evangelho, sua missão: “Jesus então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galiléia. E sua fama divulgou-se por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos.

Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do Profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor”.(Lc 4,14-19).

Eis aí o fundamento da verdadeira teologia da libertação.

Os verdadeiros discípulos e discípulas de Jesus não têm que se questionar, na missão, se estão ou não agradando aos homens, e sim a Deus (cf. Gl 1,10).

“Deus nos achou dignos de confiar-nos o Evangelho, e assim o pregamos, não para agradar aos homens, mas a Deus, que sonda os nossos corações”. (1Tes 2,4).

Evangelizar significa fazer e ensinar tudo o que Jesus fez e ensinou, pondo nEle nossa confiança.

O cristianismo, como bem disse Dom Oscar Romero, não é um conjunto de verdades para serem aceitas, ou de leis para serem cumpridas. O cristianismo, antes de tudo, é uma Pessoa, é Jesus Cristo, que nos ama e quer nosso amor que deve se concretizar no serviço a todas as pessoas, mas especialmente aos pobres, sofredores e excluídos (Mt 25,31ss).

O tema do V CELAM é: “Discípulos e missionários de Jesus, para que nEle todos os povos tenham vida”.

O Papa Bento XVI foi muito feliz ao escolher o tema, pois Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida”. (Jo 10,10).

Na América Latina, no Caribe e em tantos outros países uma multidão vive à margem da vida que Deus quer para todos e não somente para alguns privilegiados.

Assim, é mais do que lógico que a Conferência de Aparecida será fiel a Jesus Cristo libertador, assumindo ainda mais o compromisso de estar a serviço dos preferidos de Deus, os pobres, que clamam por vida com dignidade. A opção preferencial pelos pobres é característica essencial da nossa Igreja, especialmente das conferências episcopais da América Latina e do Caribe. Quem terá a coragem de entristecer o Espírito de Deus desvirtuando o que torna nobre a nossa Igreja?

Evidente que ninguém quer massacrar os ricos, mas sim as estruturas pecaminosas que geram alguns privilegiados à custa do sofrimento e do sangue de uma maioria empobrecida que faz crescer o capital no mundo, acumulado nas mãos de poucos. Não estaremos nunca do lado da pobreza, mas dos pobres para com eles, e na certeza de que o Senhor está conosco, buscarmos fazer a Sua Santa Vontade: Vida para todos os povos e não somente para algumas pessoas.

Se ressuscitamos com Cristo somos novas criaturas, desapegados de toda idolatria do ter, do poder e do prazer, fonte de morte.

Ressuscitados com Cristo, nossa missão é comprometer-nos com Ele à serviço da vida , construindo uma sociedade justa e igualitária, sem excluir ninguém.

Esta missão é urgente. Não corramos o risco de ouvir do Senhor: “Corríeis bem. Quem pois vos cortou os passos para não obedecerdes à Verdade?”(Gl 5,7).

Assumamos com coragem a missão para que “naquele dia” possamos ouvir: “Vinde, benditos do meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,34).

Evidente que a missão de lutar para que em Cristo todos os povos tenham vida vai além das doutrinas e leis, vai além da distribuição de migalhas ou bolsas... Consiste em romper definitivamente com a desigualdade geradora de morte e com as correntes das injustiças.

A razão fundamental que nos move a esta missão provem da fé na Pessoa de Jesus que venceu o mundo (Jo 16,33).

Dom Luiz Carlos Eccel - Bispo de Caçador (SC)


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