terça-feira, 17 de abril de 2012

Crise faz aliados pensarem em desembarque do governo Agnelo (PT) no DF

As seguidas denĂșncias desgastam o governo de Agnelo, o que faz com que aliados e petistas comecem a cogitar alternativas para 2014. No PT, surge o nome de Geraldo Magela

A atual crise polĂ­tica e administrativa do governo do Distrito Federal desencadeou uma sĂ©rie de conversas e articulaçÔes de bastidores que jĂĄ visam as eleiçÔes de 2014. Mesmo faltando aproximadamente dois anos e meio para o prĂłximo pleito, aliados e atĂ© integrantes do prĂłprio PT começaram a discutir esta semana alternativas para se descolarem da imagem de Agnelo Queiroz, desgastado com as seguidas denĂșncias em seu governo, especialmente apĂłs os indĂ­cios de envolvimento com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, identificados nas investigaçÔes da Operação Monte Carlo, da PolĂ­cia Federal. No PT, discutem-se hipĂłteses de candidaturas alternativas Ă  reeleição de Agnelo. Entre os aliados, a discussĂŁo Ă© ainda pior: os partidos jĂĄ discutem a hipĂłtese de deixar o governo.

Na Cùmara Legislativa do DF, Agnelo jå enfrenta um pedido de impeachment, movido pela ONG Adote um Distrital. E, na noite de ontem (16), o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) encaminhou à Justiça um pedido de prisão de Agnelo. O porta-voz do GDF, Ugo Braga, admitiu que o Gabinete Militar de Agnelo acessou dados sigilosos de Francischini na Rede Infoseg, sistema de dados coordenado pelo Ministério da Justiça.

Aliados preocupam-se com destino de Agnelo no GDF

Outros temas de destaque hoje no Congresso em Foco

Desde o inĂ­cio do seu mandato, Agnelo sofre com denĂșncias. Primeiro, elas eram sobre sua atuação como ministro do Esporte no primeiro mandato do presidente Lula. Depois, os questionamentos vinham de sua passagem pela AgĂȘncia Nacional de VigilĂąncia SanitĂĄria (Anvisa). No Ășltimo mĂȘs, apĂłs a Operação Monte Carlo, da PolĂ­cia Federal, o petista Ă© acusado de envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e de ter beneficiado a empresa Delta, tambĂ©m ligada ao esquema do bicheiro, em contratos de lixo no DF. AlĂ©m das denĂșncias, Agnelo sofre com a existĂȘncia de uma extensa rede de grampos montada por pessoas ligadas Ă  ĂĄrea de segurança pĂșblica, inclusive dentro do seu prĂłprio governo.

Depois de ter incialmente negado, Agnelo agora admite ter encontrado Cachoeira uma vez, quando era diretor da Anvisa. E ressalta que os contratos de lixo com a Delta foram mantidos não por sua vontade como governador, mas por ordem judicial. No såbado, ele afirmou que não vai mais se pronunciar sobre seu suposto envolvimento com o bicheiro e as supostas irregularidades nos contratos com a Delta. Ressaltou que a crise pertence ao DEM de Goiås e que ficarå no cargo até o fim do mandato.

Para Agnelo, a crise polĂ­tica pertence ao DEM de GoiĂĄs
RenĂșncia Ă© para quem tem culpa no cartĂłrio, diz Agnelo

Alternativas para 2014

Para os aliados de Agnelo, o problema Ă© que, sejam ou nĂŁo justas, as seguidas denĂșncias deixam o governo do Distrito Federal paralisado. E o desgaste torna-se, assim, inevitĂĄvel. E acaba de alguma forma comprometendo a todos os que apoiam o governo. Assim, ao ser obrigado a responder Ă s denĂșncias, aliados aproveitam o mau momento do governo para, nos bastidores, começarem a articulação em torno de uma nova chapa de centro-esquerda para disputar o governo do Distrito Federal. A prĂłpria cĂșpula polĂ­tica dentro do GDF, mais prĂłxima de Agnelo, jĂĄ percebeu a movimentação de polĂ­ticos da base. No Executivo, os secretĂĄrios de Governo, Paulo Tadeu, e de Administração, Wilmar Lacerda, dĂŁo como certa a candidatura do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) ao cargo em 2014.

Nas Ășltimas semanas, o senador pedetista, que jĂĄ foi governador do Distrito Federal, tem reiteradamente feito crĂ­ticas ao mandato de Agnelo. Reclama da falta de diĂĄlogo com a bancada federal e aponta problemas em setores como educação, saĂșde e segurança pĂșblica. Cristovam, porĂ©m, tem repetido que vai terminar o mandato de senador aos 72 anos. Caso resolvesse disputar o GDF, ele poderia tomar posse com 68. Apesar de seu governo ter recebido muitas crĂ­ticas por problemas administrativos, Cristovam nĂŁo sofreu denĂșncias de corrupção nem houve deslizes Ă©ticos.

É justamente por isso que, para polĂ­ticos da base aliada ouvidos pelo Congresso em Foco, Cristovam relutaria em concorrer em 2014. Assumir o cargo apĂłs um governo atĂ© entĂŁo marcado pelo caos administrativo e por denĂșncias de corrupção aumentaria as chances de ele tambĂ©m acabar vendo seu mandato manchado pelas mesmas situaçÔes. Agnelo, por exemplo, deve ser um dos primeiros alvos da CPMI do Cachoeira e ainda pode sofrer um processo de impeachment.

Na bolsa de apostas dos aliados, cresce o nome do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). Embora os mais prĂłximos a Agnelo nĂŁo acreditem na candidatura do socialista, outros petistas dĂŁo como alta a probabilidade de o senador concorrer. “Ele Ă© mais jovem que o Cristovam, mais arrojado e corajoso. Pode muito bem concorrer”, disse um petista ouvido pelo Congresso em Foco. Nos bastidores, comenta-se que Rollemberg atĂ© jĂĄ estĂĄ elaborando seu plano de governo.

No domingo (15), o Congresso em Foco mostrou a preocupação do senador com o atual rumo do governo local. Rollemberg disse que Agnelo se cercou de pessoas inexperientes e que deixou de lado a experiĂȘncia dele e de Cristovam. TambĂ©m nunca recorreu Ă  bancada do DF no Congresso, formada por oito deputados e trĂȘs senadores. Pessoas prĂłximas lembram da discussĂŁo do orçamento no ano passado, quando o governador nĂŁo conversou com os parlamentares sobre as emendas, deixando todo o trabalho para Paulo Tadeu.

Desmanche

Na verdade, o PSB de Rollemberg discute desde o carnaval uma possĂ­vel saĂ­da da base do governo. SĂĄbado houve uma conversa com a cĂșpula nacional do partido sobre isso. Foi inconclusiva. Se depender da vontade do presidente nacional da legenda, Eduardo Campos, a coligação serĂĄ mantida por mais um tempo. TambĂ©m Ă© a vontade do deputado distrital Joe Valle (PSB). A expectativa Ă© que as conversas continuem nos prĂłximos dias.

Entretanto, deixar a base do governo neste momento pode prejudicar mais do que ajudar o socialista no seu plano de ser o prĂłximo governador. Se entrar para a oposição ou assumir uma posição de independĂȘncia, aponta um petista, perde as duas secretarias que ocupa no momento – Agricultura e Turismo –, e os cargos no segundo e no terceiro escalĂ”es do Executivo local. “Ainda Ă© cedo para sair da base, o governo ainda tem tempo”, disse um petista.

Outros partidos, como PPS e PDT, tambĂ©m devem começar a discussĂŁo sobre se permanecem ou saem da base governista na CĂąmara Legislativa. O presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), defende a ida para oposição. Cristovam e o deputado Reguffe (PDT-DF), outro apontado como possĂ­vel candidato ao GDF, tĂȘm a mesma posição que Freire. PorĂ©m, a posição dos dois, por enquanto, Ă© minoritĂĄria dentro da legenda.

Fogo amigo

Nas discussÔes de bastidores, o afastamento de Agnelo faz parte de conversas inclusive dentro do próprio PT. No caso, o que alguns defendem seria um isolamento de Agnelo, de modo a construir uma alternativa que não fosse a reeleição do governador nas eleiçÔes de 2014. Secretårio de Habitação e deputado licenciado, Geraldo Magela (PT-DF) é colocado como uma opção.

A posição Ă© minoritĂĄria entre os petistas da capital do paĂ­s. Mas pode crescer conforme apareçam novas denĂșncias contra o governador e o desgaste de seu governo continua. Enfrentando greve dos professores da rede pĂșblica e nĂșmeros agravantes na segurança pĂșblica, como 88 homicĂ­dios em apenas um mĂȘs, Agnelo sofre da sĂ­ndrome de qualquer denĂșncia colar em um governo com baixa aprovação pĂșblica. Pesquisa do Instituto Datafolha o colocou com o pior Ă­ndice de aprovação entre dez chefes de Executivo.

“O governo Ă© refĂ©m da sua baixa popularidade. As denĂșncias atĂ© aqui sĂŁo fracas. Em alguns casos, atĂ© sĂŁo favorĂĄveis a Agnelo. Mas em um governo com baixa popularidade, tudo cola com maior facilidade”, analisou um parlamentar com proximidade do GDF. Ontem, como informou oCongresso em Foco, a bancada do DF jĂĄ fez uma reuniĂŁo para discutir a crise no governo. Hoje (17), uma nova reuniĂŁo deverĂĄ ocorrer. A expectativa Ă© que os deputados e senadores do Distrito Federal divulguem uma nota conjunta pedindo a investigação rigorosa das recentes denĂșncias contra o governador e seu primeiro escalĂŁo. (CF)

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