quinta-feira, 19 de abril de 2012

CPI do Cachoeira começa com alvos de várias cores

Se ele abrir a boca ....


Espera-se para as 10h30 desta quinta-feira (19), no plenário da Câmara, a leitura do requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Carlinhos Cachoeira. O foco da apuração começa pelas relações e negócios do bicheiro Carlos Augusto Ramos com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e a construtora Delta, uma das maiores do país, responsável por várias obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. De saída, os primeiros passos da investigação já deverão deixar um forte rastilho de pólvora. O mapeamento das verbas recebidas pela empreiteira e dos pagamentos a fornecedores dela, incluindo empresas de fachada, levam a Polícia Federal a suspeitar que o dinheiro desviado pode ter alimentado também campanhas eleitorais em 2010. Os indícios levantados têm potencial para atingir os estados de Goiás, dirigido pelo PSDB, mas também o Distrito Federal, comandado pelo PT, e até talvez o governo federal da presidente Dilma Rousseff.

Parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco não descartam que o caminho do dinheiro, a partir dos esquemas ilegais de Cachoeira mas também dos contratos da Delta, pode se tornar uma das principais linhas de investigação da CPI. E o que já se sabe é que a rede política montada pelo bicheiro é bastante ampla e não diferenciava oposição de governo. Portanto, a CPI, avaliam, tem potencial para provocar os mais variados estragos políticos. Ou, diante da amplitude de fatos e de personagens envolvidos, acabar caindo no vazio, tornando-se superficial e inconclusiva.

Materialidade

Na semana que vem, devem começar os trabalhos da CPI, provavelmente com um senador do PMDB presidindo-a e um deputado do PT relatando-a. Para o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), um dos futuros integrantes da comissão, o mais importante a ser apurado é de fato a movimentação financeira, potencial fonte de recursos para caixa dois de campanhas eleitorais, a partir da Construtora Delta. “O mais importante é a questão do dinheiro da Delta, a maior empreiteira do PAC, repassando para empresas fantasmas ligados ao Cachoeira. Nós temos aí uma materialidade. Existe indício de crime de corrupção. Autoridades poderiam estar recebendo o dinheiro pelas obras, e esse dinheiro pode ter alimentado caixa dois de campanhas”, disse ele aoCongresso em Foco. Francischini é delegado da Polícia Federal. Para o deputado, é preciso quebrar o sigilo fiscal da Delta e das pessoas ligadas a ela para rastrear todo o caminho dos recursos.

Além de Francischini, a CPI poderá ter entre seus integrantes outro delegado da Polícia Federal, o Delegado Protógenes (PCdoB-SP), um dos primeiros a exigir uma CPI para apurar o caso. Na sua avaliação, o ponto principal das investigações será estabelecer a relação de criminosos com o poder público. Protógenes entende que juridicamente os fatos estão bem conduzidos pela polícia e pelo Judiciário. O papel do Congresso é fazer um julgamento político do caso. “Politicamente, isso ainda não foi tangenciado. Isso nos preocupa dentro do Congresso Nacional”, afirmou ele ao site.

Protógenes compartilha com o líder do DEM, ACM Neto (BA), a preocupação de que a comissão seja diferente das últimas que aconteceram ou que sequer chegaram a ser criadas. No segundo mandato do governo Lula, as CPIs não apontavam culpados que tivessem relação com o Planalto. Internamente, a Operação Satiagraha, dirigida por Protógenes antes de ser eleito parlamentar, não gerou apuração no Parlamento. Na Justiça, teve suas provas e condenações anuladas.

ACM Neto entende que o caminho do dinheiro pode ser o principal foco de apuração, mas lembra que a investigação deve ser ampla e sem restrições. A legenda já mapeou as estruturas do caso descoberto pela PF para ver o que ainda precisa ser apurado pela CPI, e já tem um conjunto de requerimentos prontos para sacar. São pedidos de documentos e de quebras de sigilo. Convocações devem ser feitas com cuidado para não haver perda de tempo e audiências recheadas de inverdades que não podem ser confrontadas com documentos já nas mãos dos deputados e senadores. “Até o Waldomiro Diniz podemos convocar, mas não queremos pirotecnia”, afirmou ACM Neto.

Batalha política

O líder do PT, Jilmar Tatto (SP), também apóia um caminho que se inicie pela análise de documentos e não com longas e muitas vezes improdutivas tardes ouvindo testemunhas e acusados. Apesar de dizer que a movimentação de dinheiro que pode ter irrigado campanhas “não é objeto da investigação”, o petista não se nega a apurar a suspeita da Polícia Federal, que pode atingir várias cores partidárias.

Para ele, o que mais lhe chama a atenção são as citações a jornalistas e membros do Ministério Público e do Judiciário na operação da PF. “Tá chamando a atenção isso, porque empreiteira fazendo maracutaia, aditivo, essas coisas… o TCU está direto fazendo isso”, justificou Tatto. Sobre jornalistas, um dos alvos que o PT já declarou querer atingir é a revista Veja, que o partido avalia ser sua adversária. O partido quer investigar menções feitas ao chefe da sucursal da revista em Brasília, Policarpo Júnior. Há menções no inquérito de que Cachoeira seria fonte de informação do jornalista. Os petistas suspeitam que vídeos e gravações usados em reportagens – como o vídeo do ex-diretor dos Correios Maurício Marinho pedindo propina, que levou o presidente do PTB, Roberto Jefferson, a denunciar o mensalão – tenham saído do esquema de arapongagem de Cachoeira.

A diferença das opiniões de Tatto e ACM Neto mostra o embate partidário que se verificará em torno do foco da CPI. Francischini, por exemplo, fala em apurar as consultorias que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu fez para a Delta. Mas ele e ACM Neto desconversam ou minimizam as denúncias feitas contra o companheiro de partido Marconi Perillo, que governa Goiás. Já Tatto centra-se na crítica ao “moralismo udenista” de Demóstenes Torres, que pregava um padrão de comportamento ético que, à vista do que mostram as investigações da PF, ele mesmo não tinha. E acha que o governador do DF, Agnelo Queiroz, que também aparece nos inquéritos da PF, não deve ser investigado.

Veja quem serão os principais alvos da CPI do Cachoeira

Carlinhos Cachoeira
O bicheiro é o principal alvo das investigações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. As investigações deslindaram o esquema ilegal de exploração de jogo por parte do empresário. Por conta delas, Cachoeira foi preso, inicialmente na penitenciária de Mossoró (RN), e agora na penitenciária da Papuda (DF). As operações da PF mostram que Cachoeira montou uma vasta rede de apoio político, que tinham no senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) seu nome mais notório. Além das ações irregulares, Cachoeira ainda montou um amplo esquema de espionagem, usando arapongas de sua confiança. Assim, ele teria vídeos e gravações comprometedoras de várias pessoas do mundo político.

Delta Construções
O mundo do jogo não é a única área de interesse de Cachoeira, pelo que mostram as investigações. Ele tinha contatos com a maior empreiteira do PAC do governo federal. A Delta Construções atua em estados como Goiás, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Tocantins. Há várias menções à construtora nas investigações. De acordo com grampos incluídos nos inquéritos das Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, o presidente da empresa, Fernando Cavendish, amigo do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), diz que, com R$ 30 milhões, pode obter com políticos o contrato que quiser para sua empresa. Movimentações financeiras mostram que a Delta pagou a duas empresas de fachada e um irmão de Carlinhos Cachoeira. Só de uma conta de empresa de fachada, o contador de Cachoeira sacou R$ 8,5 milhões. A suspeita é que o dinheiro tenha abastecido o caixa dois de campanhas eleitorais em 2010. Uma dessas empresas comprou uma fazenda no Distrito Federal em uma área irregular. Há uma troca de telefonemas entre os investigados revelando a intenção de subornar servidores do Governo de Distrito Federal para legalizar a área.

Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), senador
Demóstenes foi o primeiro nome a surgir depois da prisão de Cachoeira. As investigações mostram uma íntima ligação entre o bicheiro e o senador, e seus indícios apontam para a hipótese de Demóstenes ter atuado mesmo como uma espécie de lobista do bicheiro e de seus interesses no Congresso. As investigações incialmente mostraram que havia uma intensa troca de telefonemas entre Demóstenes e Cachoeira. Depois, descobriu-se que Cachoeira comprara em Miami rádios-telefones do tipo Nextel para falar com Demóstenes com risco menor de ser grampeado. Nas conversas, Demóstenes é tratado por Cachoeira como “doutor”, e trata o bicheiro pelo apelido de “professor”. Há várias e graves menções a Demóstenes. Os dois são flagrados negociando mudanças em projeto de lei para regulamentar jogos. Demóstenes ainda negocia uma obra do PAC a ser tocada pela Delta, afirmando ter convencido o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, a dar preferência para a empreiteira. Cachoeira pede a Demóstenes que impeça a convocação de Fernando Cavendish, da Delta, em uma comissão do Congresso. Em outra conversa, o senador pede ao bicheiro dinheiro para pagar o aluguel de um táxi aéreo. Cachoeira pede a interferência do senador em decisões de magistrados. As áreas de interesse mostradas nas conversas são variadas: Demóstenes tem interesse em licitações de informática para Infraero; ele também pede a Cachoeira uma forma de obter contratos de publicidade para a organização da Copa do Mundo em Mato Grosso; conversam sobre a demissão de uma funcionária apadrinhada de Cachoeira na cota do gabinete de Demóstenes, para evitar que se descubram servidores fantasmas. Demóstenes ainda defende os interesses da empresa farmacêutica Vitapan, de Cachoeira, perante a Anvisa.

Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás
A chefe de gabinete do governador de Goiás foi demitida depois de flagrada vazando informações de investigações da Polícia Federal ao prefeito de Águas Lindas (GO). Grampos telefônicos mostram que Cachoeira conseguia nomear apadrinhados políticos no governo de Perillo. O governador diz que só conversou com o bicheiro para falar de assuntos da indústria farmacêutica. A Delta tem contrato de locação de veículos no estado.

Agnelo Queiroz (PT), governador de Brasília
Escutas telefônicas mostram interlocutores dizendo que Agnelo pediu um encontro com Cachoeira. Os grampos ainda revelam a tentativa do grupo de emplacar apadrinhados no Governo do Distrito Federal, que mantém contratos com a Delta na área de coleta de lixo. Diálogos sugerem que o grupo de Cachoeira pagou a servidores do governo de Brasília para que a Delta recebesse pelos serviços prestados. Também há indícios de que o governo do Distrito Federal acessou dados sigilosos de adversários. Da Casa Militar do GDF, por exemplo, policiais acessaram dados do deputado Francisco Francischini (PSDB-PR), logo depois de ele fazer um pedido de prisão do governador Agnelo Queiroz.

Rubens Otoni (PT-GO), deputado
Presidente do PT goiano, o deputado federal Rubens Otoni, é flagrado em vídeo numa conversa com Cachoeira. O bicheiro lembra de uma doação de campanha feita a ele, e oferece mais R$ 100 mil, desde que isso não seja declarado. Na conversa, Otoni concorda com as condições propostas por Cachoeira.

Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), deputado
Grampos mostram Leréia cobrando do vereador Wladimir Garcez, ligado a Cachoeira e a Marconi Perillo, o depósito de dinheiro em uma conta corrente. Amigo de Cachoeira, Leréia diz que tem sociedade em um avião com o irmão do bicheiro.

Jovair Arantes (PTB-GO), deputado
Pediu doação a Cachoeira à sua pré-campanha para prefeito de Goiânia. “Não tenho relação comercial com ele”, afirmou Jovair. “Sabia que ele lidava com jogo legal.”

Sandes Júnior (PP-GO), deputado
Teve o nome citado nas investigações, em conversas que falavam de valores em dinheiro. Segundo o deputado, era um pagamento referente à rescisão de um contrato que tinha com a uma rádio de Goiânia, Rádio Positiva.

Stepan Necersian (PPS-RJ), deputado
Tomou emprestados R$ 175 mil de Cachoeira, segundo ele para comprar um apartamento e ingresso para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Diz que já devolveu o dinheiro.

Idalberto Matias, ex-sargento, e Joaquim Thomé, ex-policial federal
Arapongas a serviço de Cachoeira. Idalberto Matias, o Dadá, é ex-sargento da Aeronáutica e presta serviços de arapongagem para policiais, promotores e procuradores do Ministério Público e outros investigadores. É fonte de alguns jornalistas em Brasília. Colaborou com a Operação Satiagraha, coordenada pelo Delegado Protógenes (PCdoB-SP). De acordo com a Operação “Monte Carlo, ele fez escutas e interceptações ilegais de mensagens eletrônicas para Carlinhos Cachoeira, em parceria com o ex-agente da Polícia Federal Joaquim Gomes Thomé Neto.

Jornalistas
O PT esforça-se para comprometer na investigação a revista Veja, a publicação impressa de maior circulação do país. Há trechos nos inquéritos das Operações Vegas e Monte Carlo que mostram uma relação entre o chefe da sucursal da revista em Brasília, Policarpo Júnior, e Carlinhos Cachoeira. Nada indica até agora que não era somente uma relação entre jornalista e fonte. Mas os petistas dizem suspeitar que vídeos e gravações obtidas nas reportagens tinham como origem os arapongas de Cachoeira, e poderiam servir aos seus propósitos. Há outros jornalistas citados também nos inquéritos.

Existe potencial para também serem envolvidos na CPI…
Governo e governadores de Mato Grosso, do Tocantins, do Rio de Janeiro, Minas Gerais, prefeitura de Belo Horizonte, Ministério Público de Goiás e do Distrito Federal, Ministério Público Federal…

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