quinta-feira, 26 de abril de 2012

Brasil dobra volume de lixo destinado a aterros sanitários


Ao longo de oito anos, o Brasil dobrou a quantidade de lixo encaminhado para aterros sanitários. O sistema, reconhecido como o mais eficiente, era usado para tratar 110 mil toneladas das 183 mil toneladas diárias de lixo produzidas no país em 2008 contra 49,6 mil em 2000, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem. Outras 37,4 mil toneladas de lixo, entretanto, eram enviadas diariamente a lixões – como são conhecidos os espaços para descarte sem controle ambiental. O uso desse sistema, embora em queda no país, ainda é bastante representativo, principalmente nas pequenas cidades. O lixão está presente em mais da metade dos municípios brasileiros (50,5%), com predominância nas regiões Nordeste (89,1% dos municípios), Norte (84,6%) e Centro-Oeste (72,7%).
Existe uma correlação entre a capacidade financeira de uma cidade e a forma como ela lida com os rejeitos. “O descarte inadequado é a realidade da maioria dos municípios brasileiros. Além da capacidade de investimento, a falta de profissionais especializados, como engenheiros ambientais e químicos, contribui para um cenário de agressão ao meio ambiente”, ressalta o engenheiro ambiental Altair Rosa, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). O aterro sanitário tem o terreno preparado para receber lixo. O solo é impermeabilizado para que o chorume (líquido resultante da decomposição dos resíduos orgânicos) não entre em contato com rios e cursos de água, os gases de decomposição são reaproveitados e um acompanhamento profissional constante avalia a vida útil do espaço. Ao contrário do lixão, que não conta com qualquer preparo ou supervisão.
Para as cidades do interior, entretanto, o problema do lixo começa ainda antes, na coleta. Apesar de a taxa de cobertura atingir 90% do total de municípios em 2009, com penetração de 98% nos centros urbanos, as zonas rurais ainda claudicavam nos 33% de atendimento.
Reciclagem
O estudo mostra que o reaproveitamento de materiais recicláveis avança com força no Brasil, uma velocidade adquirida principalmente porque a taxa de reciclagem ainda é baixa no país. Entre 2000 e 2008, a separação e tratamento desses materiais cresceu 120%, mas ainda não ultrapassava 18% dos municípios brasileiros. “Existe um grande nicho de mercado para este trabalho e os catadores prestam uma colaboração enorme. Mas a maioria das embalagens ainda acaba no aterro comum. São milhões de reais que, literalmente, acabam indo para o lixo”, lamenta Altair.
Com isso, os catadores seguem tendo uma renda de subsistência. De acordo com o estudo do Ipea, o ganho médio desses trabalhadores varia entre R$ 420 e R$ 520 mensais – abaixo do salário mínimo. Apenas 10% deles participa de alguma organização ou cooperativa formal, o que torna a coleta e a destinação menos eficientes. Consequentemente, a participação da coleta seletiva formal no processo de reciclagem alcança, no máximo, 18% – porcentagem obtida na gestão do plástico. Em metais, é de apenas 0,7%.
“A resistência é grande. O catador não quer perder a sua liberdade de horários e forma como trabalha”, avalia Sueli Cruz, pedagoga com especialização em educação ambiental e experiência em projetos de coleta seletiva. Ela acredita que o valor inferior ao salário mínimo seja pago apenas a catadores submetidos a um atravessador, que empresta o carrinho e paga um valor inferior pelo produto.
Curitiba 20 anos depois do Lixo que não é Lixo
A partir de 1989, uma campanha com jingle grudento e mascotes engraçadinhos (a Família Folha) despertou a atenção e o senso de cidadania curitibano para a importância da coleta seletiva do lixo. Mais de 20 anos depois do Lixo que Não é Lixo, que ainda existe e de vez em quando ganha uma nova campanha publicitária, Curitiba planeja os próximos passos da gestão de resíduos. Ao longo dos últimos sete anos, a produção de lixo cresceu 28% na capital paranaense. E, apesar do investimento em reciclagem, a cidade consegue reaproveitar somente 22% de tudo o que é gerado. “Estamos conseguindo acompanhar esse desafio, em quantidade e qualidade, fazendo com que o tratamento do lixo gere inclusão social”, afirma Marilza Dias, secretária municipal do Meio Ambiente.
Desde 2007, a cidade vem criando parques para recepção de recicláveis abrigados sob o programa EcoCidadão. Neles, os carrinheiros podem trabalhar o lixo recolhido, selecionando, prensando e vendendo o material sem a necessidade de levá-los para casa. São 13 pontos já instalados.
Usina de reciclagem
A prefeitura também aposta na instalação do Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos (Sipar), um consórcio intermunicipal (Curitiba e outros 19 municípios da região metropolitana) para aumentar o aproveitamento dos materiais para até 85%, tanto recicláveis quanto orgânicos. Uma licitação chegou a ser feita, mas disputas judiciais entre as empresas interessadas interrompeu o processo.
O engenheiro ambiental Altair Rosa acredita que Curitiba permaneça como exemplo de gestão de resíduos, mas aponta a falta de fôlego em alguns programas. “A questão da reciclagem ficou esquecida por um tempo, sem campanhas, e acabou saindo um pouco da memória das pessoas”, diz. (GP)

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