terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A crise do pico petrolífero: balanço de 2011


Tom Whipple


Sabemos que o preço mundial de um barril de petróleo foi em média de 111 dólares em 2011. Ou seja, 14 por cento a mais do que no ano anterior e muito acima dos 100 dólares atingidos em 2008.

O preço médio do barril de petróleo que comprámos no ano passado foi 15 dólares a mais do que no ano anterior. Aqui na América queimamos cerca de 6,7 mil milhões de barris todos os anos. Portanto, a nossa factura colectiva de petróleo para 2011 foi de cerca de 100 mil milhões de dólares a mais para a mesma quantidade de energia que queimámos em 2010. Estes 100 mil milhões de dólares criaram poucos novos postos de trabalhos nos EUA. A maior parte desses dólares foi para além-mar e para os cofres de pessoas que não gostam muito de nós.

As notícias do ano passado foram dominadas pela Primavera árabe e seus derivados que se espalharam de Wall Street a Moscovo e até a aldeias na China, já que a revolução na tecnologia das comunicações se generalizou nas mãos duma nova geração tornando muito mais fácil organizar uma dissidência contra governos em qualquer parte do mundo. A propósito, a última contagem revela que já se produziram mais de 5 mil milhões de telemóveis. Claro que nem todos estão activos mas, para um mundo de 7 mil milhões de pessoas, muitas das quais são demasiado jovens para falar e ainda menos para andar com um telemóvel, é um número impressionante. É evidente que o mundo está a mudar de uma forma que ainda não estamos a perceber.

A história do pico do petróleo mudou um pouco no ano passado. A produção global de petróleo manteve-se pelos 88 milhões de barris por dia (b/d) apesar do levantamento líbio que retirou quase 1,6 milhões b/d à produção durante vários meses. Durante grande parte do ano passado a produção global de petróleo esteve abaixo do consumo, o que provocou um abaixamento gradual das reservas mundiais. Mas, com as reservas da OCDE de cerca de 2,6 mil milhões de barris, mais as novas reservas acumuladas na China, por enquanto uma pequena escassez na produção não constitui grande problema.

Durante 2011 tornou-se visível que a procura de gasóleo está a tornar-se um problema a nível mundial. Enquanto a procura da gasolina tem vindo a diminuir, pelo menos nas nações da OCDE, a procura de gasóleo tem vindo a aumentar. À medida que a produção de electricidade vacila em todo o mundo devido principalmente às secas, ao equipamento obsoleto e aos preços incomportáveis do fuel, surgiu a procura da energia eléctrica gerada por gasóleo. O uso vital da electricidade em hospitais, segurança pública, e bombas de água vai continuar, qualquer que seja o preço. De notar que grande parte do aumento na produção do "petróleo" nos últimos anos tem sido feito de gases líquidos naturais e etanol que não são normalmente usados para a produção de gasóleo, o que leva a que a quantidade de matéria-prima para a produção do gasóleo se mantenha estagnada.

O ano acabou com poucas mudanças na avaliação de perspectivas para o abastecimento global de petróleo. Apesar de toda a publicidade relativa às novas descobertas de petróleo e às inovações na produção, essas novidades ainda não estão a produzir petróleo suficiente para compensar o declínio anual de 3 milhões de b/d dos campos existentes e o aumento anual de cerca de 1 milhão de b/d da nova procura. A previsão dos que acompanham esta questão é que provavelmente a produção global de petróleo vai começar a declinar nos próximos um a cinco anos à medida que o esgotamento leva a novas fontes de "petróleo" de produção muito cara.

Durante 2011 tornou-se claro que a procura do gasóleo está a tornar-se um problema a nível mundial.

Observem o fenómeno da descida das exportações líquidas. À medida que os países exportadores de petróleo crescem e se tornam mais ricos, consomem uma parte cada vez maior da sua própria produção de petróleo, restando cada vez menos para exportação. A maior parte de nós não se preocupa mesmo nada com quanto petróleo se produz no mundo; a única questão para a maioria dos países é qual a quantidade que pode ser importada para consumo interno. Jeffrey Brown, um geólogo do Texas e um dos mais importantes estudiosos das exportações, faz notar que, se deixarmos de fora o petróleo que vai para duas nações de grande crescimento – a China e a India –, nos últimos cinco anos o petróleo disponível para importação pelas restantes nações importadoras tem vindo a diminuir ao ritmo de 2,8 por cento ao ano. Brown calcula que, se se mantiverem as tendências actuais, o petróleo disponível para importação para a maior parte do mundo cairá 5 a 8 por cento ao ano durante o resto da década.

Grande parte do ónus deste declínio nas exportações está a cair sobre as nações mais pobres, muitas das quais já não conseguem pagar a aquisição de parte do fuel necessário para manter em funcionamento as suas centrais de energia eléctrica. Em certo sentido, o petróleo disponível para importação já atingiu o pico. De notar o aumento de 14 por cento no preço no ano passado. Na América, parece que continuamos a conseguir importar tudo aquilo de que precisamos, mas uma parcela cada vez maior dos nossos produtos refinados está actualmente a ser exportada à medida que o consumo interno vai caindo.

Do ponto de vista do petróleo, 2011 foi um ano invulgarmente turbulento. Não só tivemos a Primavera Árabe que reduziu as exportações de petróleo e gás de diversos países durante o ano, como também assistimos a tensões crescentes por toda a região que têm o potencial de provocar graves prejuízos às exportações de petróleo nos próximos meses. Em contraponto aos problemas políticos no Médio Oriente surgiram os problemas económicos que estão a chegar ao auge em muitos países da OCDE e possivelmente também na China.

O modo como estas forças opostas se irão comportar no próximo ano poderá determinar facilmente o decurso dos acontecimentos mundiais nos próximos anos. A UE poderá andar às aranhas no meio duma recessão suave remendando acordos financeiros necessários para manter a Europa unida. Em alternativa, há muita gente que fala dum colapso financeiro da UE que poderá desencadear uma depressão global e uma menor procura de petróleo.

Há tantas forças em acção no Médio Oriente que parece ser irresponsável tentar um prognóstico para a situação. Na melhor das hipóteses, os problemas vão surgir apenas como um impacto ocasional nas exportações de petróleo. No outro prato da balança está a possibilidade de importantes hostilidades, civis ou internacionais, que podem alterar muitos dos equilíbrios políticos que se conseguiram desde a II Guerra Mundial e podem facilmente infligir danos à economia global a uma escala não vista desde os anos 40.

04/Janeiro/2012

[*] Analista reformado do governo estado-unidense, acompanha a questão do pico do petróleo há anos. (http://www.institutoreagebrasil.com.br/clair.php?recordID=36)

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