quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A barba, o cabelo e o bigode da primária indústria brasileira

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo foi à televisão alertar que o Brasil vive uma crescente reprimarização de sua pauta de exportação, a substituição da produção doméstica por produtos e insumos industriais importados e a expressiva queda do conteúdo nacional na produção. “Acendeu-se uma luz amarela para a indústria brasileira. As consequências desse processo são ainda imprevisíveis” disse Paulo Skaf.

Entenda-se por produtos primários aqueles originários da agricultura (soja e açúcar), da mineração (aço, alumínio e petróleo) e da pecuária (frango e bovinos), por exemplo. Incluímos também nossos automóveis, caminhões, geladeiras e televisores na pauta das exportações. Ocorre que a direção do vento mudou e nossa pauta aponta para a tendência de voltarmos a exportar commodities. Skaf entende que “o Brasil não pode abrir mão de uma indústria forte”. Mas o fato é que a reprimarização vem aí: voltamos a exportar commodities enquanto nossos produtos de maior valor agregado perderam competitividade internacional por diversos motivos: seja pelos preços praticados pela China ou por nossa vergonhosa infraestrutura – que passa por ferrovias sucateadas, estradas esburacadas e portos antiquados.

Dado o sinal de alerta, cabe ao Governo o papel de desviar o olhar em busca da fórmula mágica que salve o país de todas as suas mazelas. Como ocorreu um dia com os militares que não souberam esperar a internet para “integrar” todo o país e inventaram a Transamazônica – aquele chão vazio que estimulou o início da desertificação de uma floresta inteira.

Desindustrialização precoce

Pois é justamente sobre a mesmíssima floresta que nasce o projeto que vai prover energia a um país “à beira do abismo” que precisava “dar um passo a frente” – jargões usados durante o regime militar que não percebia a tendência suicida dos slogans. Vem aí a megausina hidrelétrica de Belo Monte. Desnecessário falar sobre os impactos que a terceira maior hidrelétrica do mundo – atrás de Três Gargantas da China e da binacional Itaipu – fará na Amazônia. Seria chover no molhado. Mas como os custos orçamentários não param de crescer em bilhões de reais, é preciso fazer a barba, o cabelo e o bigode dessa história. A barba do Lula, o cabelo da Dilma e o bigode do Sarney. Pois é neste grupo de pelos abaixo do nariz que está o controle de todo o setor energético do país.

Segundo um dos especialistas na área energética e ex-assessor de Dilma Rousseff – o professor da USP Célio Bermann – bem que ela lutou para afastar o presidente do Senado dessa carne de sol com farinha d’água. Mas Sarney articulou tudo direitinho. O Senado criou legislação e portarias para passar seu trator e motosserras, anulou o Ibama (quase uma redundância) e até encomendou uma produção de um filme sobre a hidrelétrica à empresa LC Barreto – aquela mesma que fez “Lula, o filho do Brasil”.

Belo Monte é apontada pelo Governo como a solução de todas as nossas mazelas. Vai fornecer mais energia para nossas indústrias e jamais nos deixará à luz de velas sem assistir à novela das oito – exibida sempre às nove horas. Paulo Skaf acha que “O Brasil enfrenta um processo de desindustrialização precoce. Para revertê-lo, a nova política industrial é fundamental, mas não suficiente. É preciso modificar a política macroeconômica”. Até aí tudo bem. Mas os industriais brasileiros precisam deixar clara sua posição a respeito de assunto estratégico tão importante monopolizado por uma só família, ou pior, por um primário bigode. (ON)

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