terça-feira, 8 de novembro de 2011

BRIZOLA TRAÍDO: Em tempos de Lupi (lobo) é bom lembrar o último discurso do Brizola


"Eles assumiram o poder, experimentamos vários regimes, faltava a esquerdinha desse Zé Dirceu. Vejam bem, companheiros: quando cheguei do exílio, pensei que não era assim. Desci em Foz do Iguaçu, fui em São Borja para atender a vontade da minha querida Neusa, fui me persignar nos túmulos de Vargas e João Goulart. E depois vim vindo, queriam que fosse pra cá, fosse pra lá. Eu disse "não": vou a São Paulo, vou ao ABC, vou ver Lula. A primeira visita que quero fazer mesmo é ao Lula. Quero ir lá na toca onde ele está. Acabei chegando, mas quero confessar a vocês... Não sei se cheguei a te contar isto, Paulinho... Quando cheguei, me senti chocado da forma com que Lula me recebeu. Vi que tinham mexido na sua cabeça. Vi que não era a cabeça de um trabalhador, porque estava numa atitude de arrogância... Me olhava assim, de cima para baixo... Aí me perguntei: porque será? Afinal, depois de tantos anos no exílio, não voltei para o Brasil para tirar lugar de ninguém... Trocamos algumas palavras, mas foi o suficiente para ele dizer: “Estamos aqui, lutando, para acabar com a "pelegagem" que dominava o sindicalismo”. E eu ainda argumentei: "Mas, Lula, você não encontrou o sindicalismo feito? Assim, com uma arrogância que eu...

Acabei encerrando logo, agradeci, mas senti que havia intriga profunda junto a ele e junto a todos os demais que estavam no seu entorno, pensando em construir um Partido. Havia toda uma argumentação de estruturas, mas continuei pensando da mesma maneira: “Tempos depois ele foi ao Rio, pensei que fosse retribuir a visita, mas não. Ele foi lá num ato, disse: ‘E o Brizola? Este pisa no pescoço da mãe para ser Presidente da República". Minha mãezinha já estava morta...

Como pode me agredir assim? Pois ainda não respondi porque minha preocupação é outra, minha preocupação é com nosso povo, é salvar nossas crianças. Cheguei à conclusão de que Lula deveria crescer para aprender isto. Aí iríamos discutir, sentar, caminhar. Se mudar e pensar na gente como deve pensar de verdade, e não apenas nos comícios, está tudo bem. Mas não mudando, ele vai acabar dando com os burros nágua. Digo isto porque dei nossa colaboração até ele se eleger e agora, no 2o. turno, votamos nele. Chamou todo mundo, mas nosso Partido foi o único que fechou apoio. Fomos lá e ele disse na frente da imprensa: “Meu querido Brizola, precisamos do PDT, que tem experiência de Governo, que governou dois Estados da Federação. Precisamos trabalhar juntos, precisamos que nos ajudem e que venham para o Governo”.

O PDT e o governo Lula - Eu disse a ele: "Olha, não precisa dizer duas vezes, mas o que estamos interessados mesmo não é nos cargos, queremos pertencer ao grupo que discute políticas públicas do Governo”.

Saímos dali satisfeitos, fomos até comer uma pizza... Mas logo depois chamou para a presidência do BC um homem do Banco de Boston, e perguntamos: será que ficou louco? O que é isto? E mais uma nomeação, mais uma... Ele fez cada nomeação! Finalmente nos chamou, mas fomos sem muita esperança. Não tenho dúvida de que entre a eleição dele e a decisão de formar seu Governo, aconteceu alguma coisa. Lula levou um apertão na moleira tão grande que alterou a linha de pensamento dele.

Vocês não acham que é isto? Ali aconteceu alguma coisa. Eu então digo o seguinte: passei a observar o Governo e não tem maneira, tem que baixar o porrete... Não há a menor dúvida de que temos que dizer a esta gente toda, de todo o país, que não só nos opomos, mas estamos denunciando este Governo que já está aí a quase 2 anos e dá o que deu como salário mínimo! Onde está o entusiasmo do governo pela reforma agrária? Só têm feito ocupações e não uma reforma verdadeira, como sonha nosso trabalhador do campo. Digo isto com autoridade, porque fui eu, Brizola, quem criou o MST. Veio a ditadura, nos botaram pra fora e eles pularam em cima dos nossos acampamentos, protegidos pela igreja.

Então, companheiros, nós que viemos de longe, podemos avaliar o que está acontecendo. Temos que firmar nossas posições. Não para fazer oposição destrutiva, sistemática. Se propuserem alguma coisa boa no Congresso, sabem que estão autorizados a procurar nosso líder. Mas que não venham com enganação e tentativas de comprar nossos companheiros, porque serão denunciados como corruptores. Até nosso próprio líder (Miro Teixeira), que chegou ao Governo, mostrou-se fraco.

Resistência - Mas temos lá gente de valor que está resistindo. Estou me referindo aos deputados e senadores que estão lá, resistindo. Estou dizendo a verdade. Ainda ontem estive lá com eles em Brasília, fizemos uma excelente reunião e verifiquei que estão com a bandeira de nosso Partido erguida e não se entregam. Ontem mesmo, na discussão do mínimo, votaram contra o Governo. E aqui prestamos nossa homenagem.

Companheiros, desculpem minhas palavras, não preparei nenhum discurso. A Direção Nacional do PDT vai organizar um Governo paralelo. Nossas lideranças sindicais podem ir se preparando para nos ajudar. Vamos organizar um Governo paralelo, e se entre eles aparecer um Waldomiro, vão se ver conosco! Não é nem com a Polícia! Vamos acompanhar tudo passo a passo! Se pretendem vir com manobras de propaganda, com ajuda de profissionais, serão desmoralizados. Nós é que vamos desmoralizá-los e preciso da colaboração de vocês. Enquanto tivermos forças e razões, que Deus lá em cima nos lance suas bênçãos, precisamos ser incansáveis e proteger nossas crianças. Meu abraço e muito obrigado”.

"Não basta que seja pura e justa nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós."


Agostinho Neto

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