O novo formato dado pela presidente Dilma Rousseff para a coordenação política do governo mantém o racha interno na bancada do PT na Câmara. A escolha da ex-senadora Ideli Salvatti (SC) para a Secretaria de Relações Institucionais não contempla o grupo representado pelo presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e pelo líder do partido, Paulo Teixeira (SP). Os dois defenderam até o último momento o nome de Arlindo Chinaglia (PT-SP), ex-presidente da Casa, para um posto político de destaque - o ministério ou a liderança do governo. Esse grupo perdeu a disputa e teve de aceitar a permanência do atual líder, Cândido Vaccarezza (SP). Este, por sua vez, também amargou uma derrota a não se viabilizar para o cargo de ministro. Contra vontade do PT, Dilma põe Ideli na articulação e remaneja Luiz Sérgio
Depois da demissão, na terça-feira, do ministro Antonio Palocci da Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff fechou a semana completando a nova equipe de articulação política e enfrentando a bancada do PT na Câmara. Contra a vontade do partido, a presidente nomeou a ex-senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para a Secretaria de Relações Institucionais e deu um destino surpreendente para Luiz Sérgio (PT-RJ), o alvo da fritura dos colegas nos últimos dias.
Apesar de se dizer sem condições de continuar no governo, Dilma impôs a transferência de Luiz Sérgio das Relações Institucionais para o Ministério da Pesca - onde estava Ideli.
Assessores de Dilma disseram ontem ao Estado que a montagem da nova equipe política foi um "recado explícito" ao PT, mostrando que ela "não aceita prato feito". A presidente considerou "desrespeitoso" o comportamento de deputados do partido ao atacar o deputado Luiz Sérgio e tentar impor o nome de Cândido Vaccarezza (PT-SP) para o ministério.
Consulta a Temer serve para serenar aliados
O PMDB ficou satisfeito com a forma pela qual a presidente Dilma Rousseff tratou a cúpula do partido na montagem da articulação política do governo. Depois de ser surpreendido pela troca de comando na Casa Civil, desta vez o vice-presidente Michel Temer foi avisado na véspera. Ontem, ele e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), foram ouvidos sobre a escolha de Ideli Salvatti para o Ministério de Relações Institucionais.
A deferência de serem ouvidos para tratar da nova coordenação política do governo deixou Temer e Sarney confortáveis. Logo no início da conversa, a presidente foi clara quanto à disposição de fazer sua escolha por conta própria. E citou as qualidades de Ideli, destacando sobretudo a lealdade e a firmeza com que a ex-senadora defendeu o governo Lula, tanto como líder da bancada quanto à frente da liderança do governo no Congresso.
Ministra tem gosto pelo confronto e "pavio curto"
Escolhida articuladora política para azeitar as relações do Planalto com o Congresso, a nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ganhou no Senado um acervo de adjetivos que expressam uma personalidade pouco conciliadora: "tropa de choque" e "pavio curto".
São inúmeros os episódios em que Ideli foi escalada para confrontar a oposição ou marcar território na disputa com parlamentares de outros partidos da base aliada. Ao longo de oito anos de mandato, ela foi duas vezes líder do PT e três vezes líder do bloco do governo. Sem intocáveis, sem consulta e só por deferência
Depois de degolar Antonio Palocci (Casa Civil), impor Ideli Salvatti e obrigar Luiz Sérgio a continuar na Esplanada, os 38 ministros do governo Dilma Rousseff fecharam a semana ruminando um recado explícito: na formação do ministério, depois de eleita, a presidente engoliu muitas indicações pagando o preço político do seu patrono e cabo eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva, mas, a partir de agora, não há mais ministros intocáveis.
Foi o que Dilma delimitou ao tirar do governo o nome mais lulista do ministério, um superpoderoso Palocci, que concentrava tudo no Palácio do Planalto e fazia sombra administrativa à "gestora gerentona" do governo Lula. (AE)
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