domingo, 12 de junho de 2011

Entrevista com Gleisi: "Dilma quer mudar o perfil da Casa Civil. Nós temos que entregar resultados"

Eram 22h02 de anteontem, uma sexta-feira, quando se ouviu um barulho de salto no quarto andar do Palácio do Planalto. Com ar de cansada, mas ainda disposta, abriu a porta da sala de reuniões da Casa Civil a recém-nomeada ministra Gleisi Hoffmann. Conceder esta entrevista exclusiva foi o último compromisso de uma semana que entrou para a história política brasileira e, em especial, do Paraná.

Desde a emancipação, em 1853, o estado teve 23 ministros, dos quais Gleisi é a mais próxima do núcleo central de poder. O marido dela, Paulo Bernardo, é o paranaense com mais tempo seguido no primeiro escalão. Os feitos, contudo, ficam em segundo plano quando se relembra o fato de que o governo ainda se recupera da primeira crise da gestão Dilma Rousseff.

A senadora foi escolhida justamente para acalmar a turbulência e dar um novo perfil à Casa Civil após o pedido de demissão de Antonio Palocci, que não suportou as suspeitas sobre o crescimento de seu patrimônio, que aumentou 20 vezes entre 2006 e 2010. “Ela (Dilma) quer que eu faça política de gestão, para dentro do governo”, explicou Gleisi.

Em meio à tarefa, ela garante que ainda será possível cumprir os compromissos assumidos com os eleitores paranaenses durante a campanha para o Senado. “Vamos ver de que forma a gente pode melhorar a inserção do Paraná em programas e projetos”, afirmou Gleisi, que evitou comparações com a presidente. “Eu não me considero com tanta competência e eficiência quanto ela. Eu tenho muito que aprender ainda.”

Qual é a diferença da Gleisi Hoffmann e da Dilma Rousseff que desembarcaram em Brasília em novembro de 2002, na transição entre os governos FHC e Lula, para a ministra e a presidente de hoje? Como a senhora vê a evolução das duas trajetórias?

Foram trajetórias sempre voltadas para construir um país melhor. A presidenta Dilma, como ministra de Minas e Energia e como ministra-chefe da Casa Civil, sempre teve como objetivo fazer com que o governo funcionasse para que o Estado brasileiro fosse forte e protegesse quem mais precisa dele, que são as pessoas mais pobres. Isso tanto foi um sucesso que ela acabou coordenando programas importantes que marcaram o governo do presidente Lula. E virou a mãe do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Então eu acho que a trajetória dela teve sucesso porque é comprometida com o Brasil. A minha é uma trajetória também de militância e de comprometimento com as causas do nosso povo, de melhorar a vida, de acreditar que é possível fazer diferente, que o Estado é um instrumento para ser colocado a favor do povo. Do ponto de vista pessoal, acho que pouca coisa mudou. Quanto à participação, à capacidade de influência, com certeza mudamos em relação ao que éramos em 2002. Aliás, estamos muito mais próximas.

Foi essa convivência ao longo dos últimos oito anos que definiu sua escolha para o ministério?

Quando me chamou para conversar, ela me disse que tinha acompanhado sempre a minha caminhada. Primeiro no governo de transição. Depois, como diretora financeira de Itaipu, porque ela foi ministra de Minas e Energia. É claro que nos distanciamos um pouco. Ela veio a ser ministra da Casa Civil e eu fui ser candidata ao Senado, depois a prefeita. Mas na campanha de 2010 voltamos a nos encontrar. Ela sempre observou o meu jeito de trabalhar e disse que foi isso que levou ela a se definir pelo meu nome.

Como foi o processo de seleção feito pela presidente? Foi algo surpreendente?

Muito. Eu absolutamente não esperava. Nós tínhamos uma situação aqui com o ministro Antônio Palocci e ele estava em vias de sair. Havia muitas especulações, mas eu jamais esperava que recaísse no meu nome. Então eu fui surpreendida na véspera [segunda-feira] com uma ligação sobre essa possibilidade. No dia seguinte, ela me chamou e disse: “olha, eu conversei com algumas pessoas, mas é uma decisão minha. Eu gostaria muito que você aceitasse o meu convite e viesse trabalhar comigo como ministra-chefe da Casa Civil”.

Foi muito comentado que o ministro Paulo Bernardo seria o escolhido. Como foi esse processo?

Tinha muitos comentários. Até porque ele foi ministro do Planejamento e era uma pessoa muito próxima a ela. Mas ela desejava mesmo um perfil muito mais voltado para o interno do que para o externo. Ou seja, para organizar a gestão, acompanhar os programas, os projetos, cobrar dos ministérios. Ela sempre diz que nós temos um compromisso com o povo. Nós temos que entregar resultados. Temos que cobrar de todos os ministros os compromissos assumidos durante a campanha. Esse não é o perfil do Paulo, ele é um gestor, um ser muito mais político, que sempre ajudou o presidente Lula a fazer isso.

Gestão tem sido a palavra mais usada pela senhora para definir sua missão na Casa Civil. Como isso muda o perfil do governo?

Muda o perfil da Casa Civil. Essa é a encomenda que ela me fez. Quando ela conversou comigo, me disse “olha, não quero você nas articulações da política”. Não que eu vou deixar de fazer política. Política pública, essencialmente, tem um caráter de decisão que envolve a política, você envolve atores e conjuntura. Acho que ela quis se referir à política com Congresso, com o cotidiano. Ela quer que eu faça política de gestão, para dentro do governo.

Se precisar fazer articulação política, a senhora também vai fazer?

Isso é muito da articulação da presidenta. Aqui eu sou uma soldada dela.

O governo passa a ser mais feminino?

Isso era um compromisso da presidente Dilma. Ela queria fazer um governo com grande participação feminina, de chegar a até 30% do ministério com mulheres.

A definição de que a senhora será a Dilma da Dilma é correta? Isso lhe agrada?

Não é correta e eu não tenho essa pretensão. A presidenta Dilma tinha um perfil diferente do meu. Eu não me considero com tanta competência e eficiência quanto ela. Eu tenho muito que aprender ainda.

O cargo de ministra da Casa Civil tem muitos bônus, mas ônus também. Como é que a senhora pretende lidar com o fato de ser a principal vidraça do governo?

Procurando fazer da melhor forma o meu trabalho. Errar o menos possível. Não dá para dizer que a gente não erra, isso é natural do ser humano. Vou me dedicar muito para errar o menos possível. Porque eu sei que o erro não compromete a mim, compromete à presidenta.

A senhora foi recordista de votos no Paraná. Preocupa o fato de virar a vidraça preferida da oposição e da imprensa? É possível honrar seus compromissos de campanha sendo ministra da Casa Civil?

No meu discurso de despedida dos senadores, eu disse que estava mudando de instância, mas não de caminho. Os mesmos compromissos que eu tinha com o Paraná no Senado terei aqui. Procurarei enaltecer muito o meu estado, colocando, junto com outros estados, como uma pauta para o desenvolvimento do país. Até porque não vai ocorrer desenvolvimento efetivo do país se nós não fizermos os desenvolvimentos regionais. Tem algumas questões que já estávamos discutindo no âmbito do PAC que eu já estava discutindo com a ministra Miriam Belchior (Planejamento) e que eu quero retomar e depois falar com a presidenta. Tem a questão da ferrovia, de portos, dos aeroportos. Isso tudo faz parte de uma pauta da infraestrutura. Também há os programas sociais. Vamos ver de que forma a gente pode melhorar a inserção do Paraná em programas e projetos. Com certeza eu vou conversar com o governador do estado, com nossos prefeitos, para ver a melhor forma.

Desde a emancipação do Paraná, o estado já teve 22 ministros. Mas nunca chegou a um núcleo tão próximo do poder. Qual é a importância disso?

Eu espero que o meu trabalho seja importante para o Paraná. Se o cargo em si não tiver um resultado de trabalho, não vai ser importante. Minha preocupação é essa. Vejo o cargo como uma oportunidade de servir o Brasil, não como um exercício de poder. Vou me dedicar muito para isso.

Paulo Bernardo é o paranaense que mais tempo permanece no ministério. A senhora é a nova gerente do governo. Como lidar com essa situação dentro de casa?

(Risos) Normal. Dentro de casa somos marido e mulher. Aqui, ele é ministro das Comunicações e eu, ministra da Casa Civil. Com certeza ele vai ter muitas cobranças aqui da Casa Civil como qualquer outro ministro. Minha função é ser guardiã dos projetos do governo, aqueles com o que a presidenta assumiu um compromisso com a nação brasileira.

Há muitas semelhanças entre sua chegada à Casa Civil e a da presidente Dilma, em 2005. Todos sabemos aonde ela chegou. O raio cai duas vezes no mesmo lugar?

Não. A única coisa que eu tenho clareza aqui é a oportunidade de servir ao meu país. A quem muito é dado, muito será cobrado. Sei da minha responsabilidade. Entro aqui de uma maneira muito humilde. Primeiro, quero aprender muito com a presidenta Dilma. Ela é uma mulher formidável, de uma capacidade imensa. Vi ela coordenando, fazendo a gestão de política. Ela não é uma presidenta que sai do dia a dia do governo. Se ela tem que fazer as decisões políticas, faz. Se ela tem que viajar, vai. Mas ela sabe de tudo que acontece no governo. Não tem nenhuma semelhança de trajetória, nenhuma. (GP)

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