sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Saltadores" podem ganhar muito dinheiro em usina japonesa


É uma oferta de trabalho que soa boa demais para ser verdade: milhares de dólares por até uma hora de trabalho que requer pouca qualificação.

Mas ela também soa absurda demais para ser aceita, em vista dos detalhes adicionais: o trabalho requer atuar em ambientes perigosamente radiativos.

Na tentativa de controlar a usina nuclear que foi gravemente danificada pelo terremoto e o tsunami do mês passado e agora está espalhando radiatividade, a Tokyo Electric Power Company (Tepco) está tentando levar operários para cada vez mais perto da radiação que persiste em sair da usina, para pôr fim à pior crise nuclear do mundo desde Chernobyl (1986).

Consta que os trabalhadores estariam recebendo ofertas de adicionais de insalubridade de até 5.000 dólares por dia para trabalhar nos reatores danificados -- ou mais precisamente, esse valor é oferecido por uma fração de um dia, já que os turnos de trabalho na usina repleta de radiação estão sendo drasticamente restritos.

Um funcionário da Tepco disse esta semana que a empresa procura "saltadores" -- operários assim chamados porque eles "saltam" para dentro de áreas altamente radiativas para cumprir tarefas no mínimo possível de tempo e saem correndo o mais rapidamente possível.

Às vezes um saltador pode fazer corridas múltiplas, se a dosagem radiativa cumulativa se mantém dentro de limites aceitáveis, embora o que é "aceitável" possa ser aberto a interpretações.

Em casos de vazamentos extremos, a radiação pode ser tão intensa que o saltador só poderá fazer uma investida desse tipo em toda sua vida, sob o risco de sofrer envenenamento radiativo grave.

Há três semanas os reatores da usina nuclear Fukushima Daiichi, situada 240 quilômetros ao norte de Tóquio, se tornaram caldeirões explosivos de explosões de hidrogênio, vapor radiativo e água contaminada que aparentemente vazou para o oceano, onde nos últimos dias foram encontrados níveis de iodo radiativo vários milhares de vezes acima do normal.

FERIDOS

A Tepco disse que 18 funcionários e três empregados autônomos foram expostos a 100 milisieverts de radiação na sexta-feira. A dose média para uma pessoa que trabalha em uma usina nuclear é de 50 milisieverts ao longo de cinco anos.

Na semana passada, dois operários que trabalharam no reator 3 foram hospitalizados com ferimentos depois de seus pés terem sido expostos a 170-180 milisieverts, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

A Tepco anunciou esta semana que vai fechar permanentemente pelo menos quatro dos seis reatores da usina. Mas primeiro ela precisa estabilizar e depois resfriar o combustível. A empresa vem tentando desesperadamente encharcar os bastões de combustível com jatos de água e agora precisa limpar a água contaminada com radiação que está estagnando nos pisos dos reatores.

Indagada na segunda-feira sobre como a água contaminada poderá ser bombeada para fora e quanto tempo isso levará, um representante da Tepco respondeu: "A bomba poderia ser ligada a partir de um gerador independente. Tudo o que alguém teria que fazer seria levar uma ponta da bomba até a água, jogá-la lá dentro e correr para fora."

Traduzindo: procura-se saltadores.

"Minha empresa me ofereceu 200 mil ienes (2.500 dólares) por dia", contou à revista Weekly Post um funcionário na cidade de Iwaki, 40 quilômetros ao sul da usina danificada.

"Normalmente eu acharia isso o trabalho dos sonhos, mas minha mulher chorou e não me deixou ir, então recusei", disse o operário não identificado, que tem cerca de 30 anos.

"Seria menos de uma hora de trabalho, de modo que na realidade seriam 200 mil ienes por hora, mas o risco era grande demais."

A relutância dos operários em entrar na usina danificada destaca um dos dilemas básicos da Tepco: ela não consegue pessoas que cheguem suficientemente perto para verificar se os esforços para resfriar os bastões de combustível estão funcionando, nem mesmo para confirmar quais são os problemas exatos que estão ocorrendo.

A maioria dos esforços da empresa têm sido de jogar água sobre os bastões de combustível expostos, numa tentativa de reduzir sua temperatura e restringir as emissões tóxicas. (Reuters)

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