terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ex-diretor acusa governo de agir para sucatear Correios

Leonardo Souza/Folha.com

Um ex-diretor dos Correios acusa o governo de ter suspendido investimentos e contratação de pessoal na estatal para forçar a abertura de capital da empresa e favorecer o setor privado.

Pedro Magalhães Bifano acusa governo de ter suspendido investimentos para forçar a abertura de capital dos Correios.

A acusação foi feita em entrevista ao repórter Leonardo Souza da sucursal da Folha em Brasília pelo ex-diretor de Gestão de Pessoas Pedro Magalhães Bifano, 53, demitido em julho, no auge da disputa entre PT e PMDB pelo comando da autarquia.

No ano passado, os Correios tinham mais de R$ 4 bilhões disponíveis entre recursos em caixa e aplicações em bancos e títulos do Tesouro Nacional, um crescimento de 60% em relação a 2006.

Apesar de ter dinheiro em caixa, os Correios atravessam uma das piores crises de sua história, a ponto de beirar um "apagão postal", com atrasos na entrega e sumiço de correspondências.

Bifano aponta uma ação deliberada do ex-ministro Hélio Costa (Comunicações) e do ex-presidente dos Correios Carlos Henrique Custódio para "sucatear" a estatal.

Costa e Custódio rebatem as acusações e dizem tratar-se de uma "maldade" do ex-diretor. "Não vou responder a um funcionário demitido dos Correios", disse o ex-ministro.

ENTREVISTA:

Folha - Como foi a administração dos Correios na gestão do ministro Hélio Costa?

Pedro Magalhães Bifano - Ele é o responsável pelo sucateamento dos Correios. Ele ficou tentando fazer Lula assinar à força aquela medida provisória dos Correios S.A..

Qual era o objetivo de transformar a estatal numa sociedade anônima?

Para sair da 8.666 [Lei de Licitações]. Eles queriam que os Correios fossem sócios de empresas privadas. Era para criar uma empresa de aviação e uma de logística em conjunto com o setor privado.

Isso era para facilitar negociatas nos Correios?

Isso eu não posso falar, mas que havia interesses terceiros, havia.

Quem são os grandes interessados nesse modelo?

Você não tem isso oficialmente, mas se diz que a empresa de aviação é a Total.

Essa empresa já trabalha para os Correios.

Não tinha contrato, passou a ter de um tempo para cá. Hoje deve ser a que mais tem contrato. O transporte dos Correios é muito pulverizado. Nós ficamos dois anos sem comprar carro. Faltando carro, faltando carteiro, faltando tudo.

Por que paralisaram os investimentos?

Para mostrar que o atual sistema não funciona.

Mas vocês da diretoria não reclamavam, não alertavam para o que estava acontecendo?

A gente pedia vaga, pedia carro, mas eles mandavam segurar.

Quem segurava esses gastos?

O presidente dos Correios [Carlos Henrique Custódio] despachava duas, três vezes por semana com ele [Hélio Costa]. Muitas vezes chegava lá usando o nome do Hélio Costa.

De que forma usava o nome do ministro?

"Orientação do ministro", viu. Mas quando a coisa começou a apertar, quando começou a estourar a falta de carteiro, veio a crise. Aí começaram a correr para contratar carteiro, fazer concurso público.

Por que só agora você resolveu contar esses problemas?

A partir do momento em que ele [Hélio Costa] sai na imprensa me acusando de algo que eu não fiz, eu tenho que me defender [em meados de setembro, integrantes da campanha derrotada de Costa ao governo de Minas creditaram a Bifano o vazamento para a imprensa de denúncias de lobby na Casa Civil contra a ex-ministra Erenice Guerra]. Um negócio que não era da minha área, do qual eu não participei. Não posso aceitar isso.

Os serviços dos Correios pioraram entre sua entrada e saída da companhia?

Ficou pior, muito pior. Falta de funcionários, falta de carros, os contratos de empresas áreas eram de cinco anos, aí passaram a fazer de um ano só. Vencia, ficava sem avião, as cartas não chegavam. Isso denegria a imagem da empresa.

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