sábado, 15 de maio de 2010

Não temos mais nada, diz curador do Butantan após incêndio


O curador do Instituto Butantan, Francisco Franco, classificou como uma "perda para humanidade" o incêndio que atingiu um galpão do centro de pesquisa neste sábado e destruiu uma coleção de cerca de 80 mil cobras catalogadas. O local danificado era o prédio das Coleções, onde ficam espécies de répteis, artrópodes e quelônios (tartarugas, cágados e jabutis).

"Foi uma perda total. E isso é uma perda para a humanidade. Desde o começo do Instituto Butantan, o Vital Brasil começou a guardar cobras para serem pesquisadas. E essas cobras que foram sendo acumuladas serviam de fundamento para as pesquisas e o aumento do conhecimento da biodiversidade de serpentes. Essas cobras todas foram perdidas, hoje não temos mais nada", disse o curador.

Segundo Franco, a coleção era a maior de cobras do mundo. "Toda informação que se podia haver sobre biodiversidade, ecologia, biologia e distribuição geográfica a respeito de serpentes estava armazenada no prédio incendiado. Inúmeras pesquisas serão prejudicadas pela perda dos exemplares, já que praticamente todos os trabalhos relacionados a serpentes usavam informações do acervo do Butantan", afirmou.

Incêndio

Conforme nota do instituto, o fogo foi notado por volta de 7h45 deste sábado. Imediatamente, os seguranças do centro acionaram o Corpo de Bombeiros, que chegou em menos de 10 minutos. As informações preliminares prestadas pelos bombeiros dizem que não havia no prédio qualquer problema relacionado às instalações que possa ter originado o incêndio.

"O Butantan irá aguardar as investigações da perícia técnica sobre as causas da ocorrência. Assim que o prédio for liberado pela perícia, o instituto irá iniciar o levantamento sobre a perda da coleção", informa a nota.

O comunicado afirma que o secretário estadual da Saúde, órgão ao qual o instituto é ligado, Luiz Roberto Barradas Barata, esteve pela manhã no Butantan, e conversou com o diretor do instituto, Otávio Mercadante. "Ele solicitou que a instituição elabore imediatamente um projeto para a recuperação do prédio. A Secretaria de Estado da Saúde já se colocou a inteira disposição do Butantan para recuperar o local", informou a assessoria de imprensa do instituto.

Em menos de duas horas, a coleção que começou a ser feita há mais de cem anos pelo cientista Vital Brasil virou cinzas. O clima entre estudantes, pesquisadores e funcionários era de desolação. Alguns corriam para retirar as espécies vivas que estavam no prédio vizinho.

O Instituto Butantan tem 109 anos. Nasceu para combater a peste bubônica e se tornou referência no Brasil em pesquisa científica. Ao todo, 80% dos soros e das vacinas contra venenos distribuídos no Brasil saem de lá. O acervo que se perdeu hoje era o maior do mundo em termos de quantidade.

O curador da coleção, Francisco Franco, faz as contas do prejuízo. “Eram 77 mil cobras cadastradas, mais umas de cinco a sete mil que ainda estavam sendo catalogadas”, afirmou.

Além disso, 450 mil exemplares de aranhas e escorpiões também foram queimados. Cientistas explicam a importância das pesquisas do Butantan. Ao comparar as cobras conservadas com espécies vivas, é possível identificar mudanças no meio ambiente.

“Isto me permite saber como, por exemplo, várias cobras se adaptavam em diferentes ambientes. Isso dá uma série de pistas para a gente entender como foi evolução da vida. A partir do estudo desses animais, eu começo a perceber as ameaças e os riscos de mudanças ambientais e de mudanças na biodiversidade do planeta”, afirmou o diretor do Instituto Butantan, Otávio Mercadante.

“Tudo o que se podia falar sobre biodiversidade, ecologia, biologia, distribuição geográfica, qualquer assunto a respeito de cobras a gente tirava o conhecimento desses vidros, dessas cobras colecionadas. Hoje nós não temos mais nada”, lamentou o curador da coleção, Francisco Franco.

A reação de quem chegava ao local do incêndio era a mesma. Tristeza por ver uma parte da história do Instituto Butantan virar cinza. “Houve uma perda total da coleção, a maior coleção de cobra do mundo e isso é uma perda para a humanidade”, lamenta Francisco Franco, curador do museu.

Durante a semana, o Instituto Butantan vai preparar um projeto de recuperação do prédio, mas a perda científica ainda é algo impossível de imaginar. “Para a ciência é uma perda incalculável. Vários projetos de pesquisa desenvolvidos aí, o meu é um deles, não tem como resumir em palavras. Mesmo que a gente consiga construir com muito esforço outra coleção com 100 mil exemplares, o valor histórico foi embora hoje”, lamentou uma das alunas do mestrado.

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