terça-feira, 8 de maio de 2012

"SOMOS VELHINHOS INOCENTES E CUMPRIMOS NOSSO DEVER" dizem os verdugos da Ditadura


Fábio de Oliveira Ribeiro 

Ao ver esta foto, certamente você ficou consternado. Ele parece seu avô. Um idoso respeitável e inofensivo. Incapaz de fazer mal a quem quer que seja. 


Não se engane. Este sujeito é um psicopata perigoso e violento que cometeu crimes em série sob a proteção política de uma Ditadura. Apesar de revelar a verdade e os crimes que cometeu em livro recente publicado, cláudio Guerra ainda diz que estava apenas cumprindo seu dever. Exatamente como Eichmann quando prestou depoimento em Jerusalém, este velhinho com aura inocente, é incapaz de aceitar a responsabilidade pessoal pelas brutalidades e ilegalidades que cometeu. 

Como ele muitos mais ainda estão soltos. Ustra é apenas um deles. Talvez seja o pior, porque foi capaz de escrever e publicar um livro fazendo o elogio de suas próprias barbaridades. E ao contrário de Cláudio Guerra segue negando os crimes que cometeu. 

A revelação dos crimes é apenas um passo. Mas não pode levar nem ao perdão nem à piedade. Como Eichmann todos os verdugos da Ditadura só merecem uma coisa: processo, condenação e cumprimento da sentença. As sentenças condenatórias deles tem que ser severas, mas não tão severas quando as ilegalidades que eles cometeram. 

Se o Brasil não os levar à Justiça e a Justiça não os levar à cadeia, o povo brasileiro (em especial as vítimas) adquirirão o sagrado direito de VINGANÇA na pessoa deles e nas pessoas dos familiares deles. Crime de verdugo da Ditadura não tem nem esquecimento, nem perdão, nem anistia.


Quem de fato é este psicopata:


Vale a pena ler:

"Eu tenho o poder"


Filho de pequenos agricultores que migraram para a capital na década de 50, o capixaba José Carlos Gratz foi salvo da pobreza quando descobriu os jogos de azar. Começou tomando conta de carteados em clubes freqüentados por endinheirados. Embolsava 5% das apostas nas rodadas de pife-pafe e pôquer. Raciocínio rápido, bem-humorado, falastrão, aos 28 anos caiu nas graças do bicheiro Luiz Cachoeirense, que o convidou para sócio em uma banca em Vila Velha. Anos depois, Gratz transformou-se em grande banqueiro do bicho, encantou-se pelo mundo da política e se elegeu deputado estadual. Presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo com ambições de um dia ser senador, hoje é um estranho caso de político que saiu do crime – e não nega que ainda tem ligações com ele. Como acontece nos romances sobre mafiosos de Mario Puzo, autor de O Poderoso Chefão, Gratz usou o submundo para comprar seu lugar na legalidade. Na semana passada, ele se tornou também estopim de uma crise política no governo Fernando Henrique Cardoso. 'Por todas as informações que recebemos, o deputado Gratz é quem realmente comanda o crime organizado que transformou o governador do Espírito Santo, José Ignácio, em refém da bandidagem', declarou Miguel Reale Jr., pouco depois de deixar o Ministério da Justiça.
Na segunda-feira, Reale e outros cinco funcionários do alto escalão – entre eles o diretor-geral da Polícia Federal, Itanor Carneiro – pediram demissão depois que o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, engavetou pedido de intervenção federal no Espírito Santo. Dias antes, o mesmo Brindeiro estivera entre os integrantes do conselho que aprovaram a medida como tentativa de conter a crise institucional que se espalha pelo Estado. Mas mudou de idéia após uma reunião com FHC.
Reale reagiu ao engavetamento dizendo-se traído pelo presidente. Declarou que FHC lhe dera sinal verde para a operação. Em nota oficial, o presidente negou. Afirmou que não fora informado dos detalhes do pedido de intervenção. Também se declarou traído e, na sexta-feira, nomeou uma força-tarefa formada por procuradores e 56 policiais para investigar as denúncias no Espírito Santo.
Em sua cobertura na Praia do Canto, bairro de classe média alta em Vitória, Gratz definiu o episódio por meio de uma de suas costumeiras frases provocativas. 'Ninguém mesmo tem minha força aqui no Espírito Santo. Nem o governador, nem os senadores, nem o prefeito. Eu tenho o poder. Nasci para mandar, não para obedecer', disse em entrevista a Época. De 1991 a 2001, Vitória foi a capital brasileira com o maior número de homicídios. Foram 63,2 mortes para cada 100 mil pessoas. O governador José Ignácio Ferreira já sofreu um processo de impeachment por acusações de corrupção. E o Executivo, o Legislativo e o Judiciário locais estão sob a suspeita de ser dominados pelo crime organizado. De acordo com relatórios produzidos pelo Ministério da Justiça, boa parte desse pandemônio é operado por Gratz.

 
Falar é crime 
Juízes e promotores estão entre testemunhas ameaçadas
O crime organizado no Espírito Santo começa a ser radiografado. É o resultado dos relatos de pessoas que resolveram contar o que sabem. Mas quem ousa denunciar, investigar ou punir os comandantes do submundo capixaba passa a viver sob ameaça de morte. De acordo com um relatório da Organização Não-Governamental Justiça Global, 14 pessoas – entre elas três juízes, um promotor e um advogado – integram a lista dos marcados para morrer. É o caso dos delegados André Luiz Cunha Pereira e Danilo Bahiense Moreira, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Espírito Santo. Eles entraram na mira dos criminosos depois de ter começado a investigar o coronel Walter Gomes Ferreira, da Polícia Militar do Espírito Santo, apontado pela CPI do Narcotráfico como o comandante do Esquadrão da Morte capixaba. Em depoimentos à Polícia Federal e à Justiça, testemunhas disseram que o coronel costuma prestar serviços para o deputado José Carlos Gratz.
Há duas semanas, o juiz Marco Antônio de Souza Basílio, que também se diz vítima das ameaças do coronel Ferreira, foi a Brasília pedir socorro e foi incluído no programa federal de proteção à testemunha. Em depoimento de horas, afirmou ter escapado de uma perseguição feita por viaturas da polícia nas ruas de Vitória após ter feito denúncias contra desembargadores do Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Segundo declarou o juiz ao Ministério Público Federal, os desembargadores integram uma rede formada para proteger Gratz na Justiça. Oficialmente, Gomes Ferreira está detido num batalhão da PM capixaba. Mas, segundo informações das organizações ligadas aos direitos humanos no Estado, tem liberdade para sair da prisão quando quer.
O documento usado para pedir a intervenção no Estado relaciona 14 ações e inquéritos policiais contra o deputado. No calhamaço de 61 páginas, ele é acusado de homicídio, corrupção, sonegação fiscal e crime eleitoral. O caso que mais chocou os conselheiros foi o do assassinato do banqueiro do jogo do bicho Jonathas Bulamarques, em dezembro de 1982. Denúncia do promotor Gilberto Fabiano Toscano de Mattos resultou em processo que tramita na 2a Vara Criminal de Vila Velha – e conta detalhes de uma história escabrosa.
Dono de um pequeno cassino, Jonathas começou a brigar com outros bicheiros da cidade pelo controle das bancas. No dia 5 de agosto de 1982, almoçou com o delegado Cláudio Guerra – apontado pela CPI do Narcotráfico como um dos comandantes do Esquadrão da Morte no Espírito Santo. Pouco depois, uma bomba explodiu dentro de seu carro. O bicheiro teve a perna esquerda amputada, perdeu dedos da mão esquerda e ficou praticamente cego. Mesmo mutilado, jurou vingança. Quatro meses depois, três homens mascarados invadiram sua casa e o fuzilaram. De acordo com a denúncia do Ministério Público, o assassinato foi decidido em reunião de banqueiros de bicho com o delegado Guerra. 'No inquérito policial há indícios veementes de que José Carlos Gratz participou do encontro', escreveu o promotor. Em 1990, Gratz se elegeu deputado estadual e a denúncia foi arquivada pelo procurador de Justiça Wellington Citty por insuficiência de provas. Hoje desembargador, Citty é amigo do peito do deputado. 'Com Gratz eu tenho uma relação especial. Gosto dele mesmo. Se houver necessidade, estou pronto para estar ao lado dele', declarou em entrevista. Ouvido por Época, Gratz negou relação com o homicídio. E disse que Jonathas não era banqueiro do bicho. 'Acho que ele não sabia nem qual era o grupo do macaco, o 17.'
Investigações da Polícia Federal mostram que as relações de Gratz ultrapassam os limites do Espírito Santo – e por conta disso podem ajudar a financiar o crime organizado em outros lugares do país. Entre eles, Rio de Janeiro e São Paulo. O deputado admite ter negócios com sócios de fora. Revela, por exemplo, que no início dos anos 80 tornou-se porta-voz dos bicheiros capixabas e resolveu voar mais alto. Aproximou-se dos banqueiros cariocas Capitão Guimarães, Antônio Turco e Abrahão David. Juntos, abriram um cassino em Guarapari e outro em Vitória, no hotel Porta do Sol. 'Isso aconteceu durante o governo do Gerson Camata. Eu tinha a vista grossa do governo para bancar o jogo na alta temporada e trazia grupos do Rio para jogar', afirma.
Outro provável parceiro de Gratz fora do Espírito Santo segue a tradição dos apelidos dignos de filmes de gângster – e fica em São Paulo. Trata-se do banqueiro do bicho Casemiro Alves da Silva, conhecido como Pingüim, indiciado 29 vezes por envolvimento com o jogo do bicho e condenado a um ano de prisão. Em 1999, Gratz disse na CPI do Narcotráfico que era um dos donos de um bingo em Campinas. A suspeita da CPI é que ele seria sócio de Pingüim no Bingo Vilac. Ouvido por Época, Pingüim diz que apenas emprestou dinheiro para um afilhado montar o negócio e Gratz financiou a compra de computadores e mesas de controle. O combinado era que, se o empréstimo não fosse pago, aí sim eles teriam participação no bingo. 'Mas o empréstimo foi quitado', assegura. O Ministério Público Federal desconfia da versão. 'Nossas investigações mostraram que Gratz mantém uma rede de jogatina no Espírito Santo e em outros Estados, mas não aparece formalmente como dono. Ele controla bingos por meio de laranjas e contratos de gaveta', diz o procurador da República Ronaldo Albo.
Casado, pai de dois filhos – uma moça de 22 anos e um rapaz de 18 –, Gratz rebate as acusações com explicações que mostram a curiosa trajetória de um político que não nega as origens – e os eventuais vínculos – com o crime. Vestido com discrição, sem sinais daqueles penduricalhos que costumam enfeitar os bicheiros, ele conta como ganha a vida. 'Tenho bingos, máquinas caça-níqueis, o bastante para sobreviver sem precisar dos R$ 3.100 que recebo como deputado.' A Polícia Federal, no entanto, apura denúncias de que o deputado possuiria outras fontes de renda não-declaradas e usaria os bingos apenas para lavar dinheiro. Em outra frente, uma fiscalização da Receita Federal apurou que o patrimônio de Gratz cresceu mais que as receitas que declarou ao Fisco. Por causa disso, ele foi multado e responde a processo por crime fiscal, um dos itens elencados no relatório do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.
Jogador inveterado, Gratz participa toda semana – e não nega – de mesas de carteado em Vitória. Também é um assíduo freqüentador de cassinos no Exterior. A Polícia Federal desconfia de que as viagens não se destinam apenas a, como dizem os bicheiros, fazer uma fezinha. Um relatório enviado pela Divisão de Crimes Financeiros ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) elaborado com ajuda da divisão de crimes financeiros do Departamento do Tesouro americano traz registros segundo os quais, nos últimos oito anos, Gratz movimentou US$ 489 mil em cassinos em Las Vegas, Nevada, Atlantic City e New Jersey. A Polícia Federal investiga se o deputado está, outra vez, lavando dinheiro.
Mesmo dono de curiosa biografia recheada de episódios que coincidem com o mundo fora da lei, Gratz é visto por funcionários do alto escalão de Brasília como homem perigoso por conta de suas conexões políticas. Como presidente da Assembléia Legislativa, tem apoio de 27 dos 30 deputados estaduais e aprova o quer. A maioria foi suficiente para fazê-lo dar as cartas nos governos Albuíno Azeredo e Victor Buaiz. Também aproveitou as enrascadas em que se meteu José Ignácio para adotar uma espécie de parlamentarismo capixaba. O governador se enrolou em problemas ainda nas eleições. Misturou contas pessoais com o caixa de campanha e teve de pagar multa de R$ 580 mil ao Fisco. O mais grave, porém, está em ofício que o delegado da Receita Federal em Vitória, Caio Marcos Cândido, enviou no mês passado ao Ministério Público. O documento traz a confissão de Hilário Maximiano Gurjão, dono da empresa HMG, de que participou de uma fraude na prestação de contas de José Ignácio à Justiça Eleitoral. 'Isso é crime suficiente para que o governador seja denunciado ao STJ e afastado do cargo', afirma o procurador Ronaldo Albo.
Na verdade, o governador está na corda bamba desde maio do ano passado, quando houve a comprovação da existência de um esquema de propinas com a participação da primeira-dama, Maria Helena Ferreira, e de seu irmão Gentil Ruy, caixa de campanha e secretário de governo. Uma investigação policial descobriu o caixa dois da campanha municipal de 2000. Época teve acesso a uma papelada apreendida na casa de Gentil Ruy que registra os pagamentos a candidatos a prefeito e a deputados estaduais governistas. Uma auditoria do Banco do Estado do Espírito Santo e a investigação do Ministério Público concluíram que o dinheiro distribuído por Gentil Ruy foi desviado da conta da Fundação Augusto Ruschi. Com acusações desse calibre, José Ignácio precisou se render à maioria controlada por Gratz na Assembléia para se livrar do impeachment. Acabou loteando o governo. A três meses das eleições, uma intervenção pode até não ser o melhor caminho. Mas, em um Estado onde até o governador está de mãos amarradas, providências são bem-vindas.
Solange Azevedo



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