sĂ¡bado, 14 de abril de 2012

Caso Cachoeira: Uma CPI de alto poder destrutivo

A presidente Dilma Rousseff reuniu-se nesta sexta-feira, 13, por duas horas e quarenta minutos com o ex-presidente Lula para pedir a ele que tenha cautela ao incentivar a ComissĂ£o Parlamentar de InquĂ©rito (CPI) que investigarĂ¡ laços de polĂ­ticos e agentes privados com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais. A presidente teme que as investigações respinguem em seu governo. Lula tem sido um dos principais incentivadores da CPI, por entender que com ela serĂ¡ possĂ­vel provar que nĂ£o houve o mensalĂ£o – maior escĂ¢ndalo do governo do PT, ocorrido em 2005, no qual parlamentares da base aliada votavam a favor de projetos de interesse do PalĂ¡cio do Planalto em troca de uma remuneraĂ§Ă£o mensal, conforme o relatĂ³rio da CPI dos Correios.


Recados do governador do Rio de Janeiro, SĂ©rgio Cabral (PMDB), do presidente do Senado, JosĂ© Sarney (PMDB-AP), do lĂ­der do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e do senador DelcĂ­dio Amaral (PT-MS) que chegaram Ă  presidente classificam a CPI como “de alto potencial destrutivo”.

“O alcance dessa CPI Ă© inimaginĂ¡vel. SĂ³ a empresa Delta Construções (que aparece nas gravações telefĂ´nicas feita pela OperaĂ§Ă£o Monte Carlo, da PolĂ­cia Federal, e recebeu R$ 4,13 bilhões do governo federal por obras do Programa de AceleraĂ§Ă£o do Crescimento – PAC) – estĂ¡ presente em quase todo o paĂ­s, principalmente na construĂ§Ă£o e reforma de estradas”, disse DelcĂ­dio. “Eu jĂ¡ fiz vĂ¡rios alertas sobre isso. EstĂ£o brincando com fogo”, afirmou ainda o senador petista, que presidiu a CPI dos Correios, e sabe que, uma vez em funcionamento, o desdobramento das investigações Ă© algo incontrolĂ¡vel.

Agnelo: “NĂ£o vou fazer palanque para a oposiĂ§Ă£o”

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), intercedeu em favor da construtora Delta antes mesmo de tomar posse. Em ofĂ­cio ao entĂ£o governador RogĂ©rio Rosso (PMDB), protocolado em 15 de dezembro de 2010, o petista, na condiĂ§Ă£o de eleito, pediu a prorrogaĂ§Ă£o de todos os contratos essenciais, entre os quais os do lixo, com vencimentos previstos atĂ© 2011. Agnelo foi identificado nas escutas da PolĂ­cia Federal como o “01 de BrasĂ­lia” pela organizaĂ§Ă£o desmantelada pela OperaĂ§Ă£o Monte Carlo.

“Tenho certeza de que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula tĂªm tanta confiança que o governo do DF nĂ£o tem envolvimento com isso, que nĂ£o tĂªm dĂºvida nenhuma de que nĂ£o tememos a CPI. HĂ¡ solidariedade integral do PT”, disse Agnelo. Em entrevista, o governador declarou estar disposto a depor na CPI do Congresso, mas fez ressalvas: “AtĂ© agora nĂ£o tem acusaĂ§Ă£o sobre a minha pessoa. NĂ£o vou para fazer palanque para gente que estĂ¡ atolada com esse tipo de coisa, como integrantes do DEM e do PSDB”. Segundo o petista, hĂ¡ uma tentativa de envolver o seu nome no caso. “HĂ¡ interesses gigantescos em botar o PT no meio disso”, afirmou o governador.

Agnelo reafirmou a versĂ£o de que esteve com Cachoeira uma sĂ³ vez, em 2010, quando era dirigente da AgĂªncia Nacional de VigilĂ¢ncia SanitĂ¡ria. Dias antes, o petista havia negado ter se reunido com o empresĂ¡rio. O encontro, segundo ele, foi para discutir com empresĂ¡rios atividades do setor farmacĂªutico. Cachoeira, segundo a PF, controla um laboratĂ³rio. “Fiz vĂ¡rias reuniões com empresĂ¡rios desta Ă¡rea, mas essa reuniĂ£o, que ele tenha participado como interessado, foi uma Ăºnica vez. Nunca mais encontrei com ele”, declarou Agnelo.

Na terça, o chefe de gabinete do governador, ClĂ¡udio Monteiro, deixou o cargo apĂ³s divulgaĂ§Ă£o de gravações em que o grupo de Cachoeira discutiria pagamento de propina a ele. Agnelo disse nĂ£o acreditar que o ex-assessor tenha recebido dinheiro.

Delta recebeu R$ 92,8 milhões do governo do DF em 2011

A Delta Ă© suspeita de financiar a campanha de Agnelo com caixa 2 e depois cobrar a “fatura eleitoral”, contrapartidas, conforme sugerem diĂ¡logos interceptados pela PF com autorizaĂ§Ă£o judicial, divulgados pelo Estado. No ofĂ­cio, Agnelo pede outras manutenções de contrato, alĂ©m do serviço de limpeza urbana. A empresa nega irregularidades na obtenĂ§Ă£o do contrato ou que tenha pago propina a dirigentes do governo para favorecer seus negĂ³cios, como sustenta a PF no inquĂ©rito da Monte Carlo. A Delta informa ainda que afastou do cargo o diretor regional da empresa em GoiĂ¢nia, ClĂ¡udio Abreu, indiciado como braço direito da organizaĂ§Ă£o comandada por Cachoeira.

A Delta detĂ©m – desde 2007, durante a gestĂ£o de JosĂ© Roberto Arruda – dois dos trĂªs lotes da limpeza urbana do DF, o que inclui o Plano Piloto e sete cidades-satĂ©lites. O contrato totaliza R$ 472 milhões em cinco anos, com vencimento previsto para 2012. Em 2010, o contrato foi suspenso apĂ³s a descoberta de que a empresa usou atestado falso de capacidade tĂ©cnica, fornecido pelo governo do Tocantins. Mas a Delta vem se mantendo atĂ© hoje Ă  frente do serviço mediante sucessivas liminares obtidas na Justiça do DF.

A fatia da Delta representa 70% dos serviços de varriĂ§Ă£o de ruas, coleta de lixo, tratamento de resĂ­duos, pinturas de meio fio, remoĂ§Ă£o de entulho e lavagem de paradas e monumentos pĂºblicos. Os outros 30% estĂ£o nas mĂ£os da empresa Valor Ambiental, autora da recurso contra ilegalidades no contrato da concorrente, que acabou no Superior Tribunal de Justiça (STJ). HĂ¡ uma semana, a corte acatou a reclamaĂ§Ă£o e mandou suspender o contrato, mas a empresa disse que vai recorrer. A chegada de Agnelo ao PalĂ¡cio do Buriti coincide com o vultoso incremento dos repasses Ă  Delta. Em 2010, a empreiteira recebeu R$ 19,4 milhões do governo, valor que saltou para R$ 92,8 milhões em 2011, primeiro ano do petista no poder. Este ano, a empresa jĂ¡ recebeu R$ 27,5 milhões.

De acordo com auxiliares prĂ³ximos, a presidente Dilma Rousseff sinalizou que estĂ¡ aborrecida com a forma como o PT estĂ¡ se comportando em relaĂ§Ă£o Ă  CPI. Ela nĂ£o concorda que as investigações possam servir para que o partido tente se vingar de uma parte dos meios de comunicaĂ§Ă£o. AlĂ©m disso, a presidente acredita que a agenda do governo tem caminhos prĂ³prios que envolvem acordos com a oposiĂ§Ă£o e nĂ£o Ă© a mesma do PT. Por fim, Dilma teme que a CPI cause uma paralisia no Congresso.

“A CPI nĂ£o tem nenhum objetivo de vingança, de acerto de contas. É um instrumento do Congresso para apurar circunstĂ¢ncias que envolvam agentes polĂ­ticos, agentes pĂºblicos ou privados”, disse o presidente do PT, Rui FalcĂ£o, nesta sexta-feira, 13, em Belo Horizonte. (ON)

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