quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Aos 102 anos, morreu Beatriz Ryff, sobrevivente da ditadura Vargas

Caros amigos e admiradores de Beatriz Ryff

Com pesar comunicamos o falecimento da querida brasileira, amiga e incansável lutadora pelas causas dos direitos humanos, do pleno exercício da democracia, em nosso país, e em qualquer lugar onde houvesse a opressão política , econômica e social.
Morreu, à noite, no Rio, na Clínica S. Vicente, no bairro da Gávea, onde estava internada, a poetisa e professora, do antigo Conservatório Nacional de Teatro, BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF . 08.11.1909 - 02.01.2012.

Poetisa e professora do antigo Conservatório Nacional de Teatro, Beatriz Vicência Bandeira Ryff nasceu em 8 de novembro de 1909. Viúva do jornalista Raul Ryff, colaborador do presidente Jango Goulart, a ativista política, Beatriz, era a última sobrevivente dos cárceres da Era Vargas. Em cento e dois anos de vida, manteve-se fiel aos princípios ideológicos e doutrinários que nortearam sua luta por um mundo de igualdade e justiça social.

O corpo foi velado na Capela nº 8 do Cemitério São João Baptista e o enterro foi às 16 horas.

Beatriz Vicência Bandeira Ryff

Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1909 - 2 de janeiro de 2012) foi uma poeta, escritora e militante dos direitos humanos brasileira.

Biografia

Começou a escrever poesia aos 9 anos.

Na década de 1930, militou no Partido Comunista Brasileiro ao lado do seu futuro marido, o jornalista Raul Ryff. O casal é mencionado por Graciliano Ramos no livro Memórias do cárcere. Em 1936, foi presa pela ditadura doEstado Novo, sendo companheira de cela de Nise da Silveira, Maria Werneck e Olga Benário.

Exilada no Uruguai, voltou para o Brasil em 1937. Militou na Federação de Mulheres do Brasil.

Trabalhou como professora do Conservatório Nacional de Teatro, mas, em 1964, depois do golpe que instaurou o Regime Militar no Brasil, foi demitida. Pediu asilo político na Iugoslávia, ao lado do marido. Mais tarde, os dois se mudaram para a França.

Voltou para o Brasil em 1967, ajudando a fundar o Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas[2].

Teve três filhos: o jornalista Vitor Sérgio Ryff, o economista Tito Ryff e o físico Luiz Carlos Ryff. Morreu em 2 de janeiro de 2012[3].

Obras publicadas

Poesia

  • Roteiro (Editora Vitória)
  • Ouro e sândalo
  • Poemas de sempre[4]

Memórias

  • A Resistência - Anotações do Exílio em Belgrado
  • Antes que seja tarde

A poetisa romântica da esquerda
Fã de Che Guevara, admiradora de Jesus Cristo e amiga de Carlos Marighella, ela foi alfabetizada com poesia e viveu exilada por causa da militância comunista

Leneide Duarte

Foto: Leandro Pimentel

Ela gosta de dizer que foi alfabetizada com poesia e amamentada com música. Na juventude, filiou-se ao Partido Comunista. Foi presa em 1935 e ficou ao lado da cela de Olga Benário, a mulher de Luiz Carlos Prestes, entregue pelo governo de Getúlio Vargas aos nazistas. "Lamento não ter ficado mais tempo na prisão para conhecê-la", diz. Aos 90 anos, a poetisa Beatriz Bandeira Ryff, que tem três livros publicados, é uma socialista convicta. Para ela, Che Guevara foi um idealista admirável e Jesus Cristo, de certa forma, um revolucionário. No seu panteão particular, estão ainda Luiz Carlos Prestes e Carlos Marighella, de quem foi amiga.

Militante comunista, ela é viúva do jornalista Raul Ryff, gaúcho que ela conheceu no Rio, pouco antes de 1935, e que se tornaria secretário de Imprensa do governo João Goulart. "Fui procurá-lo para levar uma palavra de ordem do partido, ficamos amigos e acabamos presos no mesmo dia", conta.

Nascida em 8 de novembro de 1909, filha de Alípio Abdulino Pinto Bandeira e Rosalia Nansi Bagueira Bandeira, ambos ferrenhos abolicionistas, Beatriz se tornou poetisa, depois de ser alfabetizada pelo avô. "O primeiro livro que ele me deu foi As Primaveras, de Casimiro de Abreu.

Depois viriam Castro Alves e Gonçalves Dias", recorda. Foi também o avô que lhe ensinou francês. Seu amor à música vem da infância. Sua mãe cantava e "tocava bandolim divinamente". Formou-se em piano pela Escola Nacional de Música.

Da infância, recorda-se do bonde puxado por burro que passava perto de sua casa no Méier, zona norte do Rio. Nos fins de semana, o programa da família era colher framboesa, pitanga e jabuticaba na Floresta da Tijuca.

Quase toda a vida de Beatriz Ryff tem referências políticas. Em 1964, foi demitida pelo regime militar do cargo de professora de técnica vocal do Conservatório Nacional de Teatro. Ela e o marido foram procurar asilo na embaixada da Iugoslávia. Três meses depois, um grupo de perseguidos políticos de esquerda partiu para o exílio em Belgrado, no navio Bohiny. A experiência rendeu o livro A Resistência - Anotações do Exílio em Belgrado.

Os nomes dos dois filhos gêmeos - o mais velho se chama Sérgio - também têm laços com a política: Luiz Carlos é uma homenagem a Prestes e Tito Bruno é uma dupla homenagem: ao Marechal Tito, que unificou a Iugoslávia em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, e a Giordano Bruno, filósofo italiano que foi queimado na fogueira, em Roma, em 1600, durante a Inquisição.

Do exílio em Belgrado, os Ryff foram para Paris, onde Raul trabalhou para a tevê francesa e Beatriz fez a cobertura de desfiles de moda para uma agência de notícias brasileira. Antes, o casal já vivera exilado no Uruguai, em 1936 e 1937, para se livrar das perseguições do regime de Vargas, depois do fracassado levante comunista.

Pouco tempo depois, filiou-se ao PCB. No partido, conheceu a poetisa Eneida Costa de Moraes. Em 27 de novembro de 1935, dia em que a Revolução Comunista de 1935 foi abafada pelos militares, Beatriz seguiu em missão à casa de Eneida, perto da Lapa. Seus companheiros de partido haviam lhe dado um pacote com granadas do tipo banana. Ela aprendeu como funcionavam e lhe disseram que deveria subir ao apartamento de Eneida, se não houvesse uma toalha na janela. Tomou um táxi e desceu em frente à Escola Nacional de Música, para despistar e seguir a pé. Ao perguntar o preço da corrida ao motorista, ouviu dele: "Não é nada não, companheira, tenha boa sorte". Beatriz supõe que ele a reconhecera dos comícios dos quais participara. As granadas foram entregues a Eneida sem problemas.

Beatriz se considera uma privilegiada por ter convivido com "pessoas tão especiais e admiráveis". Foi assim com Carlos Marighela, que conheceu em Porto Alegre, em 1947. Nesse anos, os companheiros tinham organizado um bloco de Carnaval chamado Filhos do Povo.

Em outra passagem, chorou no ombro da Passionária, como era conhecida Dolores Ibarruri, heroína do Partido Comunista espanhol. Foi na década de 1960, quando ambas participavam em Moscou de um Congresso de Mulheres. Depois de ver um filme sobre crianças catadoras de lixo no Brasil, Beatriz não conteve o choro e Dolores a consolou. E na prisão, em 1935, ela aprendeu inglês com o Barão de Itararé, pseudônimo do humorista Aparício Torelli. "Quando chegou, o Barão passou a subir nas grades para conversar com as mulheres. Soube que ele dominava bem o inglês e pedi que me ensinasse a língua", conta. "Ele passou a me mandar deveres dobradinhos numa caixa de fósforo que jogava pela grade." Nascia ali mais uma das amizades de Beatriz Ryff.


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