segunda-feira, 23 de maio de 2011

Primavera para os árabes. Inverno para os sionistas


Por meses parecia que a Primavera Árabe deixaria os palestinos de lado. Mas ela chegou até eles no fim de semana de 14 e 15 de maio, quando demonstrações em massa – e mais ousadas que o de costume – comemoraram o dia que o palestinos chamam de naqba, ou “catástrofe”, que marca a criação do Estado de Israel. Apoiados pelo governo da Síria em Damasco, que buscava uma distração de seus próprios problemas, centenas de palestinos desarmados romperam as barreiras israelenses nas montanhas de Golã, algo que nenhum exército árabe conseguiu fazer em 38 anos Quatro manifestantes morreram. Multidões se aglomeraram em Majdal Shams, uma cidade drusa controlada por Israel, levantando bandeiras palestinas e sírias na praça local, e considerando sua ousada manobra, o passo inicial no “retorno a casa”.

Muitos também protestaram em outras áreas. Milhares dos palestinos dos campos para refugiados no Líbano se encontraram na fronteira com Israel, no sul. No pior confronto desde a guerra de 2006, entre Israel e o partido/milícia libanês Hezbollah, cerca de dez palestinos morreram, embora israelenses afirmem que algumas vítimas foram alvejadas pelos próprios soldados libaneses, numa tentativa de incriminar Israel. Milhares de palestinos também se manifestaram nos próprios territórios palestinos, incluindo a capital da Cisjordânia, Ramallah, Nablus e Hebron. Centenas se reuniram num ponto de passagem entre Ramallah e Jerusalém. Em Gaza, centenas de palestinos se juntaram na frente das fortalezas de concretos israelenses, que as cercam. Alguns atiraram pedras, e u manifestante morreu após ser baleado.

Apesar de tais perdas, esses eventos podem ter aumentado a confiança dos palestinos em sua habilidade de usar as ações de massa de maneira mais eficaz, já que até agora tanto a diplomacia quanto a violência falharam. No mês que vem, manifestantes pró-Palestina devem tentar novamente furar o bloqueio naval de Gaza, usando um ferribote, um ano após militares israelenses terem matado nove ativistas turcos que tentaram chegar à costa de Gaza em um barco. E os palestinos agora parecem determinados a conquistar o reconhecimento direto a seu Estado em uma votação na Assembleia Geral da Nações Unidas em setembro.

Mas isso não significa que a Primavera Árabe tenha atingido a Palestina. No fim de semana, os funerais passaram despercebidos, e boatos sobre uma terceira intifada ainda parecem prematuros. Para políticos palestinos, a tarefa de estruturar o acordo de reconciliação combinado no mês passado entre suas duas principais facções, o islamita Hamas e a secular Fatah, rapidamente voltou a ser uma prioridade. Nenhum partido parecia preocupado em fomentar distúrbios populares que pudessem ameaçar seu comando.

Já no caso de Israel, o governo de Binyamin Netanyahu parece incomodado com as incursões. Yasser Arafat, o falecido líder palestino, frequentemente falava sobre comandar uma marcha de milhões de palestinos rumo a Jerusalém em uma desarmada e imbatível afirmação de independência nacional. Parecia apenas mais um discurso. Mas o recente surto de “poder do povo” nos países árabes vizinhos tornou a ideia mais plausível, especialmente com centenas de palestinos marchando até Majdal Shams. Muito israelenses preocupados se perguntam se os palestinos tentaram repetir o ato em setembro se conseguirem legitimar seu Estado em setembro.

Enquanto isso, o exército israelense, pego de surpresa tanto nas montanhas de Golã quanto na fronteira com o Líbano, terá que reforçar as fronteiras e torná-las fisicamente intransponíveis. Israel pode aumentar a concentração de arame farpado, minas terrestres e barreiras elétricas, além de reforçar a polêmica berreira erguida nos últimos anos para manter afastados os homens-bomba, que atravessa o território palestino delineado pelas fronteiras de 1967. Mas a barreira é repleta de pontos de cruzamento que devem concentrar a maior parte dos manifestantes palestinos.

Netanyahu foi rápido ao aproveitar as incursões para reforçar seus argumentos contra a luta palestina por um Estado. Eles provaram, disse ele a seu Parlamento, que a meta palestina é extirpar o Estado judaico da região. No dia 19 de maio ele voou até Washington para expor seus pontos de vista aos norte-americanos, incluindo o presidente Barack Obama e o congresso dos Estados Unidos.

Netanyahu diz estar pronto, em princípio, para negociar uma solução biestatal, mas firma não ter “qualquer companheiro” no lado oposto, especialmente depois do acordo entre a Fatah, que comanda a Cisjordânia, e o Hamas, que tem o controle sobre a Faixa de Gaza. Ele diz que não pode negociar com um governo palestino que envolva o Hamas, já que o grupo não reconhece o Estados de Israel, nem abandonou a violência.

Mas os líderes de oposição em Israel dizem que o próprio Netanyahu também não é um parceiro da paz, já que se recusa a aceitar que um Estado palestino tenha que recuperar territórios perdidos em 1967, apesar de trocas territoriais que permitiriam que Israel absorvesse o maior assentamento judaico da região, mesmo depois que seu antecessor Ehud Olmert fez esta oferta ao líder da Fatah, Mahmoud Abbas, atual presidente da Autoridade Palestina. Além disso, Netanyahu insiste que uma Jerusalém sem divisão seja a capital de Israel, enquanto o antecessor de Olmert, Ehud Barak, concordou em 2000, em dividir a soberania da cidade entre os Estados de Israel e da Palestina. E Netanyahu também se recusar a interromper a expansão dos assentamentos na Cisjordânia, a porção principal do futuro Estado palestino. Apesar de tudo isso, o primeiro-ministro israelense espera que seu amigos de longa data nos Estados Unidos convençam Barack Obama de que os palestinos puladores de cercas são um enorme empecilho para a paz. (ON)

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