sábado, 7 de maio de 2011

A morte de Osama bin Laden: Os fins justificam os meios?


A morte do terrorista saudita Osama bin Laden foi possivelmente a melhor notícia que o tão criticado governo de Barack Obama deu à população norte-americana. Os ataques de 11 de setembro de 2001, nos quais aviões foram usados para atingir as torres gêmeas do World Trade Center e as instalações do Pentágono, abalaram o modo de vida dos norte-americanos de tal maneira, que não foi surpresa ver que uma multidão se aglomerou nos portões da Casa Branca vibrando e celebrando , gritando “USA!”, e agitando bandeiras dos Estados Unidos.

Deixando de lado discussões sobre o uso da vingança para aplacar a ira coletiva, e as inúmeras teorias conspiratórias que cercam o caso (que vão desde insinuações de que os Estados Unidos estariam por trás dos ataques de 2001, até a possibilidade de que Bin Laden não tenha morrido, já que imagens de seu cadáver não foram divulgadas), uma declaração do futuro secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, confirmando que o esconderijo de Bin Laden foi descoberto graças a informações obtidas sob tortura de detidos – inclusive do mentor dos ataques de 2001, Khalid Sheikh Mohammed, que teria sido submetido em 183 ocasiões à técnica de afogamento simulado conhecida como waterboarding – reacendeu a discussão sobre o tema.

O waterboarding consiste em manter a vítima imobilizada em posição horizontal e despejar água sobre seu rosto, coberto por um pano. Embora casos de mortes por afogamento simulado sejam raros (o jornalista francês Henri Alleg, torturado por páraquedistas franceses durante a Guerra da Argélia afirma que “mortes acidentais” eram frequentes durante as sessões de tortura), a prática pode causar dor extrema, asfixia, danos aos pulmões e ao cérebro. Segundo o Dr. Allen Keller, diretor do Programa Bellevue/NYU para Sobreviventes de Tortura, que considera o waterboarding uma forma de tortura, os danos psicológicos causados às vítimas do afogamento simulado podem se estender por anos. “Enquanto o prisioneiro se debate lutando contra a ânsia de vômito e a sensação de asfixia, o terror da morte se apodera de seu corpo, com todas as respostas fisiológicas e psicológicas, incluindo uma enorme reação de estresse, manifestada pela taquicardia. Há o risco real de morte por afogamento ou ataque cardíaco. Efeitos a longo prazo incluem ataques de pânico, depressão e sintomas de estresse pós-traumático. Alguns de meus pacientes não conseguem tomar banho ou entram em pânico cada vez que chove”, declarou Keller ao Senado.

Durante a gestão de George W. Bush, o waterboarding foi centro de uma polêmica, já que o governo teria banido a tortura de seus interrogatórios, mas não teria incluído o afogamento simulado nessa classificação. O ex-vice-presidente Dick Cheney; o ex-procurador-geral dos Estados Unidos, John Ashcroft; e o ex-secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, não consideraram a prática uma tortura, preferindo se referir ao waterboarding como um “método intensificado de interrogação” (Rumsfeld chegou até mesmo a louvar a quantidade de informações produzidas pelo afogamento simulado). Em sua autobiografia, “Decision Points”, Bush diz crer que, sem o uso de tais técnicas, os terroristas nunca teriam fornecido informações importantes, e os Estados Unidos, provavelmente, teriam sofrido outros ataques. “A Al Qaeda também não trataria humanamente um norte-americano”, completa.

Ao chegar à Casa Branca, Barack Obama repetiu várias vezes que sua gestão não admitiria a tortura, e proibiu a prática do waterboarding. As novas informações, embora se percam na euforia causada pela morte do terrorista mais procurado do mundo, mostram que a proibição não parece ter surtido muito efeito sobre os agentes da inteligência norte-americana. Em sua campanha, Obama também prometeu diversas vezes acabar com a prisão na base naval norte-americana na Baía de Guantánamo, onde Khalid Sheikh Mohammed teria sido torturado. Três anos mais tarde, o complexo na ilha de Cuba continua ativo, mantendo detidos suspeitos que nunca foram julgados, e – possivelmente – realizando afogamentos simulados em seus interrogatórios.

Ninguém em sã consciência discordará da afirmação de que é importante combater intensamente o terrorismo. Mas também é importante lembrar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e as Convenções de Genebra, que expressamente proíbem o uso da tortura. Mesmo contra fanáticos dispostos a tudo pra aterrorizar o Ocidente, deve haver um limite. Ao usar o afogamento simulado para obter informações, metralhar um homem supostamente rendido e desarmado, e manter ativa uma prisão onde pessoas são detidas sem acusação e submetidas a torturas, a política feroz do olho por olho e dente por dente só parece criar uma enorme população de cegos desdentados. ( Opinião e Notícia/Felipe Varne)

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