quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Estímulo nos EUA é ameaça as economias dos países emergentes

Jamil Chade/AE

GENEBRA - A injeção de US$ 600 bilhões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na economia dos Estados Unidos e novas medidas de estímulo podem ser o elemento que faltava para o risco da formação de uma verdadeira bolha de ativos nos países emergentes. O alerta foi feito quarta-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelas Nações Unidas (ONU).

Na avaliação da OCDE, os recursos já injetados nos países ricos nos últimos meses deram demonstrações claras de que não estão sendo escoados nas economias locais. Parte substancial teria se destinado às economias emergentes.

Segundo a entidade que reúne os países ricos, as novas medidas nos Estados Unidos anunciadas na quarta ameaçam fortalecer essa tendência, criar bolhas de ativos e colocar ainda mais pressão sobre o câmbio do Brasil, África do Sul e outros emergentes.

De acordo com a OCDE, a recuperação da economia mundial perdeu seu ritmo diante da gradual retirada de medidas de estímulo à produção. A entidade apontou que a recuperação do comércio também perdeu fôlego. Nos países ricos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 deve ser de 2,5% a 3%. Para 2011, deve cair para 2% a 2,5%. Nos países emergentes, a expansão do PIB continua mais robusta. Mas a projeção é de que também percam força.

O secretário-geral da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento, Supachai Panitchpakdi, também alertou para o impacto negativo que a nova medida pode ter para o Brasil e outros emergentes. Supachai alerta que a economia americana já demonstrou que não tem a capacidade para absorver esses recursos e essa liquidez. O resultado tem sido a transferência desse recurso para mercados emergentes em forma de capital especulativo. "Mais uma vez, o problema nos países ricos está sendo exportado."

Para ele, o Brasil corre o risco de ter sua economia desestabilizada diante da bolha de ativos que está se formando com a entrada de capitais. "Corremos o sério risco de ver uma bolha de ativos se formar nos mercados emergentes", disse Supachai. "O que vemos é que os americanos estão inundando o mercado. Não podemos esquecer que a crise financeira em 2008 surgiu por causa de um excesso de liquidez no mercado. Agora, corremos o risco de ver uma repetição de tudo isso no Brasil e em outros emergentes, com uma desestabilização das economias."

Para Supachai, a pressão sobre o real e outras moedas é apenas um efeito da inundação de dólar. "Desde 2009, temos visto que os recursos nos países ricos que não foram absorvidos pelas economias domésticas acabaram indo para as economias emergentes. Esse dinheiro está indo especialmente para o mercado de ações nos emergentes", alertou. "O problema não é a entrada dos recursos, mas sim quando eles saírem", completou.

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