quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Caso dos aloprados: 4 anos sem punição


Quatro anos depois quase nada avançou a investigação sobre os aloprados do PT que foram flagrados tentando comprar um dossiê contra tucanos - José Serra, então candidato pelo PSDB ao governo de São Paulo, era o alvo principal do grupo. Não há nenhum denunciado perante a Justiça, nem mesmo foi descoberta a origem da montanha de dinheiro apreendida em hotel de São Paulo, R$ 1,75 milhão em dinheiro vivo, na madrugada de 15 de setembro de 2006.
Alguns aloprados continuam nas fileiras do partido, uns exercem funções em setores da administração federal e outros se dedicam a atividades empresariais.
Todos estão livres, até aqui, de acusações formais perante a Justiça. A Polícia Federal indiciou parte do grupo, mas vários deles escaparam ao enquadramento. A PF argumentou "ausência de indícios suficientes".
O Ministério Público Federal ainda não decidiu se leva os envolvidos à Justiça. O procurador da República Mário Lúcio Avelar, que atuou inicialmente, saiu do caso. O novo está em férias.
O banco dos réus é só para os Vedoin, pai e filho, Darci e Luiz Antônio, empresários acusados de integrarem a Máfia dos Sanguessugas, organização infiltrada em setores do governo para fraudes em licitações de compra de ambulâncias superfaturadas.
O dossiê era uma peça que se resumia a um punhado de recortes de jornais e uma fita de vídeo com imagens do ex-ministro da Saúde (governo Fernando Henrique) em compromissos públicos para entrega de ambulâncias. Os aloprados achavam que o documento provocaria abalos na candidatura Serra, que venceu o pleito.
Mentores da farsa, para a PF, os Vedoin respondem a ações judiciais, não pelo dossiê. São ações de improbidade, quase 200. As penais são cerca de 15. A procuradoria imputa a eles quadrilha e fraudes em licitação. Ficaram presos algumas semanas.

Mala. A ação dos aloprados foi interceptada pela PF naquela madrugada de 2006 quando foram detidos Gedimar Passos e Valdebran Padilha no Hotel Ibis Congonhas, em São Paulo. Com eles os federais recolheram dólares e reais, ao todo R$ 1,75 milhão. Suspeitava-se que o montante era de caixa 2. O próprio presidente Lula, que buscava a reeleição, chamou o grupo de "aloprados".
Segundo a PF, Gedimar - agente aposentado da corporação - estaria interessado na compra do dossiê. Padilha, empresário da construção civil em Cuiabá, supostamente veio a São Paulo receber o dinheiro.
O circuito fechado de segurança mostrou Hamilton Lacerda, do PT, transitando pelos corredores e saguão do hotel. Lacerda aparece no elevador carregando uma grande mala. Na época coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao Palácio dos Bandeirantes, Lacerda teria sido o portador do dinheiro.

Indiciado pela PF por lavagem de dinheiro ele negou o crime. Alegou que levava notebook, roupas, santinhos de campanha. Sob pressão saiu do PT, mas retornou em 2009, acolhido pelo diretório de São Caetano do Sul.
A PF identificou doleiros no Rio. Sobre os reais não chegou alugar nenhum - era dinheiro miúdo, isso dificultou o rastreamento. O delegado que conduziu a primeira etapa do inquérito, Diógenes Curado, não tem mais nada com o caso. Ele foi nomeado secretário de Segurança Pública de Mato Grosso.
A PF suspeitava de outros petistas - Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas, Expedito Veloso e Freud Godoy -, mas contra eles não apresentou provas.
"Não sabemos nem mesmo se vai haver denúncia da procuradoria contra meus clientes", disse o criminalista Válber Melo, que defende os Vedoin. Ele informou que os Vedoin fizeram delação premiada. "Poderão ser beneficiados com redução de pena ou até com o perdão judicial." / FAUSTO MACEDO


PARA LEMBRAR

Montanha de dinheiro na reta final do 1º turno

Chegava à reta final a campanha para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2006 quando a Polícia Federal divulgou a foto da montanha de dinheiro apreendida com os aloprados do PT. A imagem eram dólares e reais empilhados. Para chegar aos aloprados, a PF monitorou os telefones dos empresários Darci e Luiz Vedoin, estabelecidos em Cuiabá. A investigação era desdobramento da Operação Sanguessuga, da própria PF, e os alvos eram os Vedoin. Eles teriam infiltrado integrantes da organização no Ministério da Saúde e no Congresso para agilizar emendas parlamentares destinadas à liberação de verbas para prefeituras comprarem ambulâncias dos Vedoin. A PF descobriu, então, que Valdebran Padilha ia embarcar para São Paulo levando o dossiê contra tucanos.


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