segunda-feira, 15 de abril de 2013

Vacina contra HPV mais acessível


Ainda inacessível para grande parte das mulheres brasileiras, a vacina contra o HPV – o vírus do papiloma humano, que pode causar o câncer do colo do útero – pode, em breve, ser disponibilizada pela rede pública de saúde. Dois projetos de lei, um que prevê sua oferta no Sistema Único de Saúde (SUS) e outro que garante sua adesão ao calendário oficial de imunização, avançam no Congresso e tramitam em caráter prioritário.
No último dia 20 de março, o segundo texto foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, e agora deve ser votado em outras duas comissões. Se aprovada, a medida pode ajudar a diminuir, no futuro, os números de câncer de colo de útero no país, que já chegam a 18 mil novos casos por ano, com uma taxa de óbito em torno de 50%, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Os projetos ainda podem sofrer alterações, mas, a princípio, prevêem que a vacina seja ofertada para meninas entre 9 e 13 anos. Isto porque estudos mostram que a vacina tem eficácia se aplicada em mulheres que ainda não iniciaram a vida sexual, uma vez que os vírus associados ao câncer, os do tipo 16 e 18, se propagam por meio de relações sexuais. Atualmente, a vacina só é ofertada na rede privada, por um alto custo – são necessárias três doses, ao preço médio de R$ 300 cada uma.
A discussão sobre o assunto ocorre em um momento em que vários países começam a oferecer a vacina para esse público, como Canadá e Austrália, além do próprio Distrito Federal, que se adiantou e hoje garante a vacina para meninas da mesma faixa etária de escolas públicas e particulares. “Além de evitar o sofrimento de um câncer, a medida támbém vai evitar gastos futuros com qumioterapia e outros tratamentos, que custam caro para o sistema público de saúde”, afirma a médica infectologista do Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba Paula Toledo.
Além do câncer de útero, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em janeiro deste ano, também passou a recomendar a vacina para a prevenção de câncer dos tipos anal e vaginal, além de verrugas genitais (que são benignas, mas causam dor e coceira), causadas pelos tipos de vírus 6 e 11, e que também afetam os meninos. A vacina que deve ser disponibilizada pelo SUS deverá ser a quadrivalente, que protege contra os quatro tipos. Hoje, existem duas à venda no mercado: a quadrivalente e a bivalente, que protege apenas contra os tipos cancerígenos. 

Obstáculo
Parte dos pais ainda resiste a imunizar filhas
Apesar das comemorações dos médicos com as propostas em trâmite no Congresso, ainda existe uma barreira a ser transposta para que a vacina contra o HPV de fato ajude a diminuir os números do câncer no país: convencer os pais a permitir a vacinação das filhas.
O diretor do Laboratório Firschmann Aisengart em Curitiba, o bioquímico Milton Zymberg, lembra que muitos ainda acreditam que, ao permitirem a vacinação nesta faixa etária, estarão estimulando as filhas a iniciar a vida sexual precocemente. “É preciso haver um trabalho de conscientização desses pais, principalmente das mães, que são as que levam as filhas para tomar a vacina”, reforça.
Estudos recentes mostram que um bom caminho pode ser a escola, como mostrou uma iniciativa do Hospital do Câncer de Barretos (SP) junto a 19 colegios da cidade, entre 2010 e 2011. Após uma série de encontros entre a direção das escolas, pais e médicos, 90% das famílias das 1,6 mil alunas abordadas aceitaram imunizar as meninas.
Meninas virgens
Quando especialistas afirmam que a vacinação precisa ocorrer antes do início da vida sexual, isso inclui não apenas relações com penetração, mas também outros tipos, como carícias e sexo oral. Estudos recentes reforçaram a recomendação, e mostraram que o vírus estava presente no organismo de 10% a 45% das meninas virgens participantes das pesquisas.(GP)

Tira-dúvidas
Confira algumas das principais questões sobre a vacina contra o HPV ofertada hoje na rede privada:
Quanto custa cada dose?
O custo de cada dose é de, em média, R$ 300.
Quantas doses devem ser tomadas?
São, ao total, três doses. A segunda deve ser tomada após dois meses da primeira, e a terceira dose, seis meses após a primeira.
Quantas vacinas existem?
São dois tipos de vacina: a bivalente, que protege contra os vírus tipos 16 e 18, que causam câncer de colo de útero, e a quadrivalente, que protege também contra os tipos 6 e 11, que causam verrugas genitais.
Qual a melhor idade para tomar a vacina?
A vacina deve ser tomada antes do início da vida sexual da mulher, em geral entre nove e 11 anos.
Como se contrai o vírus?
O vírus se pega por meio de relações sexuais, mas também é possível haver contaminação através do contato das mãos ou da boca com a vulva, região do períneo, perianal e bolsa escrotal.
Quem se expõe ao vírus fatalmente terá o HPV?
Não. De 100 pessoas que se expuserem ao vírus ao longo da vida, 80 o eliminarão do corpo sem maiores problemas.
A vacina substitui o exame de Papanicolau?
Não. Cerca de 30% dos casos não são causados pelos vírus 16 e 18 e o Papanicolau pode detectar lesões em sua fase ainda pré-cancerosa. É uma exame barato, rápido e indolor.
Fonte: Inca; Anvisa, Paula Toledo (infectologista do Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba), José Clemente Linhares (IOP) e Laboratórios Frischmann Aisengart.
Mulheres que já iniciaram a vida sexual também podem tomar vacina contra o HPV?
Uma pergunta muito comum diz respeito a se vale ou não a pena tomar a vacina contra o HPV quando a mulher já iniciou a vida sexual. O médico oncologista do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP) José Clemente Linhares explica que a resposta depende de vários fatores. Como a vacina protege contra quatro tipos de HPV, se a pessoa só se expôs a um tipo, pode ser que a vacinação seja eficaz para proteger contra os outros três, por exemplo.
Mas testes que detectem qual vírus está presente no corpo ainda são caros, e neste caso, o médico sugere o seguinte: se a pessoa nunca teve verrugas genitais e os testes de Papanicolau deram negativo, a chance de eficácia é maior, pois provavelmente a mulher não foi exposta aos vírus ou os eliminou do corpo.
Caso contrário, deve estar ciente de que a vacina pode não surtir efeito, e neste caso, deve avaliar se vale a pena desembolsar cerca de R$ 900 pelo produto.

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