segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CARAVANA DA ANISTIA: O Dia em que o Estado brasileiro pediu perdão às vítimas do arbítrio


Dia 26 de outubro de 2012 a Caravana da Anistia do Ministério da Justiça veio a Curitiba, na sede da OAB/Pr, onde realizou o julgamento de 42 processos de perseguidos políticos.
Não poderia deixar de ir, mesmo ainda me encontrando debilitado pelo tratamento de saúde. Acertei na minha decisão. Ao chegar logo na entrada no café me deparei com uma mesa repleta de história, na qual a minha estava inserida. 
Estavam lá Edésio Passos, Aluízio Palmar, João Bonifácio Cabral, Daniel Godoy, Narciso Pires e meu irmão Vitório Sorotiuk. Este, com seu inseparável notebook mostrava um filme do julgamento do IPM-Inquérito Policial Militar e rostos onde aparecia junto com os amigos presos no Ahú. Eram rostos que habitaram meu imaginário de adolescente, pois os vi nas visitas que fiz ao presídio na época. 
Logo depois, passou o Milton Alves, que me chamou ao lado e disse: Geraldo, o Antonio Carlos Molina está muito nervoso com o julgamento do processo dele e precisamos apoia-lo. Respondi: os principais motivos da minha vinda aqui, são rever meu amigo Prudente Mello, membro da Caravana, representando a OAB/SC, acompanhar o julgamento dos processos dos irmãos Ildeo Jr. e Julio Manso Vieira e estar ao lado do Molina, com quem ficarei até o final do julgamento, por coincidência do destino a mesma Comissão que iria julgar o processo do meu outro irmão. 
Na abertura, que tinha como anfitrião o presidente da nossa OAB/Pr, José Lucio Glomb, inúmeras autoridades falaram, com destaque o discurso do professor Rene Dotti, ovacionado inúmeras vezes, por suas ações em defesa dos perseguidos políticos, nos incentivou a continuar lutando pelo direito a não se ter medo, como um direito humano fundamental. 
O promotor Olímpio Souto Maior, representante do MPE-Ministério Público do Estado do Paraná, pediu desculpas em nome de sua instituição pela omissão em não ter agido de forma ativa contra o arbítrio. 
O reitor da UFPR Zaki Akel, mostrou o apoio da universidade no resgate da história de perseguição de seus alunos e professores e a Secretária de Justiça do Paraná, Maria Tereza Uille Gomes, anunciou o ante-projeto de lei do Governo do Estado para a criação no Paraná, da Comissão da Verdade, que deverá ser votado na Assembleia Legislativa do Paraná, nos próximos dias. 
Ao terminar a abertura fomos para o julgamento das Comissões. O que sinto é ter podido ir a só uma, pois gostaria de ter assistido a todos os julgamentos, pois foi uma verdadeira aula de história e de pura emoção, onde relembrávamos um pouco da nossa vida e as pessoas choravam compulsivamente pelos relatos, emocionando a todos. 
Ficou claro para mim, o quanto de material e informações estão surgindo sobre o passado, comprovando, por exemplo, a existência da operação Condor e tantas outras ações do arbítrio, que em breve virão a público com a reunião de tantos fatos, deste quebra cabeças que alguns tentam sufocar. 
Ao final do julgamento assisti o presidente da Caravana, Paulo Abrão, reconhecer o direito de ressarcimento dos irmãos Ildeo e Julio Manso Vieira,  do Molina, do meu irmão e de tantos outros, e em nome do Estado brasileiro pedir desculpas pelos danos causados aos mesmos, com a entrega de uma rosa. 
Sai dali fui para casa muito cansado, pois ainda me encontro muito fragilizado pelo tratamento de saúde, mas com a certeza que havia tomado uma decisão acertada, pois tive a certeza que lutar pela vida com liberdade valeu a pena, para que todos conquistem o direito humano a não ter medo. 

Geraldo Serathiuk

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